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Manuel Carmo Gomes: Portugal “tem andado atrás da pandemia”

A introdução de medidas mais restritivas foi determinante para a redução de casos e do índice de transmissibilidade da Covid, mas Manuel do Carmo Gomes alerta para o facto de o país andar atrás dos números. Propõe a introdução de linhas vermelhas e uma grande agressividade na testagem.

DR
09 de Fevereiro de 2021 às 11:57
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A ação do Conselho de Ministros de final de janeiro, com a introdução de medidas mais restritivas, "foi decisiva" para a redução de novos casos a que o país assiste e que, dentro de duas semanas, pode chegar aos três mil casos diários afirmou esta terça-feira o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, durante o encontro de especialista do Infarmed.

 

O professor de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que tem sido um dos conselheiros do Governo para os assuntos da pandemia, alertou, no entanto, para o facto de ter de haver "um certo cuidado" em relação ao índice de transmissibilidade "que começa por descer, mas tem tendência a estabilizar" e "o facto de estar com nível baixo, de 0,82, significa que a os casos vão continuar a descer, mas a velocidade a que descem pode parar de aumentar".

 

Por outro lado, "se a incidência de novos casos trouxer para baixo também o número de testes, a incidência poderá não reduzir tanto como gostaríamos", alertou.

 

O epidemiologista afastou entusiasmos excessivos em relação aos números e sublinhou que "tivemos um janeiro muito mau em termos de saúde pública em Portugal" e que "temos todos obrigação de refletir sobre o que podemos fazer melhor". Na prática, lamentou, as respostas têm vindo a surgir, de forma "gradualista" e em função dos números que vão aparecendo.

"Não conseguimos desta maneira controlar um vírus que cresce exponencialmente" e, por outro lado, "a sociedade começa a dividir-se", entre os que acham que as medidas são excessivas e os que acreditam que são poucas, avisou.  "É o resultado de lidarmos de forma gradualista com a epidemia", de "andarmos constantemente atrás da epidemia" avisou o epidemiologista, que lembrou o "descuido de cinco dias" do Natal, que foi suficiente "para chegarmos aos 12 mil casos em poucas semanas".

"A resposta gradual é insuficiente. Precisamos de uma resposta agressiva, com linhas vermelhas, que se forem ultrapassadas terão de ser impostas medidas muito agressivas de resposta", insistiu. E o que poderá ser uma resposta agressiva? "A resposta é a testagem", declarou o epidemiologista

 

Manuel Carmo Gomes deu como exemplo a Dinamarca, que perante um aumento de números avançou com um aumento muito grande das testagens, conseguindo manter relativamente baixa a percentagem de testes positivos. "A testagem é a arma principal que devemos usar e não o confinamento. Como sair dele sem que os números disparem? No meu entender, é com um aumento muito grande da testagem".

 

A sua sugestão passa, assim, por "três linhas vermelhas que, se forem ultrapassadas, temos de responder em força com aumento da testagem para evitar o confinamento: ter um R que não ultrapasse 1,1 durante demasiados dias; temos de ter uma percentagem de positivos que não permita chegar aos 10%, idealmente deve andar nos 0,5%; e devermos ter uma incidência que não ultrapasse a nossa capacidade de gerir os novos casos, com 1.500 pessoas hospitalizadas e destas cerca de 200 em UCI".

 

Se alguma destas linhas for ultrapassada, então será o momento para agir, explicou. A ideia é que tenhamos "regras objetivas, conhecidas de todos com antecedência acerca de quando podemos confinar e desconfinar".

 

Neste momento ainda não será de aliviar medidas: "No meu entender estamos longe disso, porque estamos ainda longe de atingir os objetivos que referi", rematou.

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