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Francisco Ramos: “Temos pessoas para receber as vacinas na noite de Natal”

O coordenador do processo de vacinação para a covid-19 garante que a distribuição “não será feita pelas Forças Armadas” nem será preciso reforçar a logística de frio nos centros de saúde. Pfizer falha 20% das entregas contratualizadas até março.

Ricardo Jr.
16 de Dezembro de 2020 às 11:29
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O parecer favorável da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) sobre a vacina da Pfizer e da BioNTech vai ser dado na próxima segunda-feira, 21 de dezembro, e a decisão de aprovação, que será da Comissão Europeia e não do Infarmed, está prevista para dois dias depois. Francisco Ramos acredita que "se tudo correr bem, teremos as primeiras vacinas a chegar ainda este ano".

 

Numa audição na Comissão Parlamentar de Saúde, pedida pelo PSD e pelo CDS, o coordenador da "task force" que vai gerir o processo de vacinação contra a covid-19 lembrou que há o compromisso de fazer chegar as primeiras doses no mesmo dia aos 27 Estados-membros da União Europeia, não se sabendo ainda o dia exato.

 

No entanto, lembrando que a diretora médica da Pfizer em Portugal já anunciou a disponibilidade para fazer a entrega num espaço de três dias, mesmo que haja as festividades natalícias pelo meio, Francisco Ramos garantiu aos deputados que "mesmo que ocorra no dia 24, na noite de Natal, teremos as pessoas indicadas e habilitadas para receber as vacinas".



Quanto aos pontos de entrega das vacinas, o gestor de 64 anos, que já ocupou por cinco vezes o cargo de secretário de Estado da Saúde em Governos do PS, indicou que haverá um no território continental, um na Madeira e outro nos Açores. E será a farmacêutica de origem americana a entregá-las nesses três pontos, cuja localização exata não será divulgada por motivos de segurança.

Também certo, nesta fase, é que "a distribuição não será feita em veículos das Forças Armadas", que vão colaborar apenas na parte do planeamento, mas "através de organizações e por instrumentos certificados e licenciados para a distribuição de medicamentos". "Não podia ser de outra forma", acrescentou.

Pfizer corta 20% das entregas

O primeiro grupo prioritário abrange cerca de 950 mil portugueses, pelo que serão necessárias dois milhões de doses até março de 2021. Inclui pessoas com mais de 50 anos com patologias de risco que vão ser chamadas aos centros de saúde; os residentes em lares e internados em unidades de cuidados continuados, assim como os respetivos profissionais (vacinados pelos enfermeiros internos); e ainda os profissionais de saúde e as forças armadas e de segurança.

 

Sem dispor ainda de muitos detalhes, Francisco Ramos recordou na Assembleia da República que nos últimos dias chegou a "má notícia" de que a produção por parte da Pfizer está abaixo do estimado inicialmente. Esse incumprimento, face ao que tinha sido contratado a nível europeu, vai fazer com que haja uma "redução de 20% na quantidade prevista de entregas no primeiro trimestre".

 

Porém, o responsável, 64 anos, garantiu que o país estará "disponível para começar a vacinar assim que chegarem", insistindo que "seria intolerável existirem vacinas em Portugal e não serem utilizadas de imediato". Já o agendamento da toma para as pessoas mais velhas com patologias de risco, que integram o grupo prioritário, só será feito quando houver informação mais concreta, até porque, ilustrou, "o pior que podia acontecer era marcar datas fixas para o Sr. António ou para a dona Maria, mas depois [nesse dia] afinal as vacinas ainda não terem chegado".

 

Seria intolerável existirem vacinas em Portugal e não serem utilizadas de imediato. Francisco Ramos, coordenador do plano de vacinação para a covid-19



No que toca à logística, Francisco Ramos esclareceu que "o único ponto no continente que tem de garantir os 70 graus negativos [necessários para as vacinas da Pfizer] é aquele onde são recebidas". "Desde aí não é preciso mais nenhum ponto com essas condições, mas uma cadeia de distribuição ágil para garantir que as vacinas não andam a passear por Portugal, mas seguem para os locais em que são administradas às pessoas", resumiu.

 

Assegurando ao deputado do PSD, Ricardo Baptista Leite, que os lares informais não serão excluídos deste processo, o líder da "task force" nomeada pelo Governo explicou ainda que esta vacina pode ser guardada durante seis meses nesse ponto central de armazenamento. No máximo, depois de sair desse local, pode aguentar durante 30 dias nas caixas térmicas. Depois de serem abertas, há um prazo de cinco dias para serem administradas nos centros de saúde, bastando ali as condições de conservação proporcionadas pelos frigoríficos já existentes.

20%Enfermeiros
O processo de vacinação da covid-19 não deverá envolver mais de 20% dos enfermeiros dos centros de saúde.



Francisco Ramos, que está a ser ouvido pelos deputados antes da apresentação de uma versão revista e aumentada do plano de vacinação, agendada para esta sexta-feira, 18 de dezembro, desvalorizou ainda o impacto deste processo no atendimento aos doentes não covid nos cuidados primários, calculando que a administração desta vacina não deverá envolver mais do que 20% dos enfermeiros dos centros de saúde.

Antivacinas, call centers e farmácias Tal como a generalidade dos especialistas, também Francisco Ramos considera que "seria um enorme erro" tornar obrigatória a toma desta vacina, falando em "consequências sociais, sociológicas e psicológicas". Além disso, "quem recusar tomar a vacina deve ser respeitado, seja profissional de saúde ou quem for", embora não preveja o crescimento significativo de movimentos antivacinação. Para a campanha de comunicação que será necessária está previsto um site e duas linhas telefónicas, sendo uma delas "no âmbito da SNS24" e que deverá servir para esclarecer dúvidas e também para fazer a marcação da toma da vacina. Quanto à exclusão das farmácias, Ramos argumentou que esta primeira fase de vacinação será assegurada pelas equipas "mais rotinadas" dos centros de saúde, mas quando houver mais doses disponíveis, "gostaria de considerar as farmácias neste processo, bem como outras entidades" do setor privado.


Contratos milionários salvam o Natal... de 2021

O Estado português arrisca pagar bem mais de 200 milhões de euros pelas vacinas para a covid-19, a confirmar-se a aprovação por parte da EMA das seis vacinas diferentes já negociadas pela Comissão Europeia. E ao custo relativo à aquisição das vacinas será preciso somar as despesas relativas ao transporte, armazenamento e distribuição da vacina, que será administrada de forma gratuita ao longo de 2021.

 

Segundo cálculos do Negócios, com base nos contratos já celebrados pelo bloco comunitário e que garantem a Portugal 2,3% do volume total – o primeiro-ministro, António Costa, já garantiu que fez "a encomenda máxima de cada lote a que temos direito" –, o país pode receber quase 30 milhões de doses, ou seja, acima das 22 milhões que têm sido referidas pelo Ministério da Saúde.

Apesar da aprovação iminente das primeiras vacinas, que têm características diferentes e já estão a ser avaliadas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) –, só no próximo inverno deverá ser retomada alguma normalidade pré-covid. Para já, a duração da imunidade e a eficácia nos vários grupos são as maiores incertezas, segundo os especialistas ouvidos pelo Negócios, que aconselham a salvar o Natal… de 2021.

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