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Costa admite aplicar “medidas muito mais constringentes das liberdades”
O primeiro-ministro dramatiza a adoção das propostas do Governo para evitar alternativas “mais gravosas do ponto de vista da liberdade”, advertindo os portugueses que “há que resistir ao cansaço” provocado pela pandemia.
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António Costa aconselha os portugueses a fazer uma análise de custo-benefício às medidas que o Governo propôs nos últimos dias, como a obrigatoriedade do uso de máscara no exterior e também da utilização da aplicação móvel (app) Stayaway Covid, com multas que podem ir até aos 500 euros.
"Com este ritmo de crescimento da pandemia que estamos a ter, se não adotarmos agora medidas desta natureza, se calhar vamos estar daqui a uns tempos a ter de tomar medidas muito mais constringentes das liberdades, desde logo da liberdade de movimentos, como no início desta pandemia", referiu o primeiro-ministro, um dia depois de dizer que é "inimaginável" repetir no Natal o que fez na Páscoa.
Em declarações aos jornalistas, em Bruxelas, o chefe do Executivo insistiu que "a questão é saber se são úteis para evitar a transmissão da pandemia e se não é melhor recorrer a elas agora do que estar daqui a duas semanas, um mês ou dois meses a ter de impor medidas muito mais restritivas, como seja dizer que simplesmente não pode sair à rua, com ou sem máscara".
"Nunca se justifica, em meu entender, suspender a Constituição. Tivemos de o fazer durante aqueles períodos do Estado de Emergência. Felizmente fizemo-lo de forma limitada, contida, com respeito pelas liberdades e garantias dos cidadãos (…). Temos de medir, passo a passo, as medidas que são necessárias, tentando perturbar o minimo a atividade das pessoas e das empresas, mas sabendo que não é possível enfrentarmos esta pandemia sem restrições", acrescentou.
Confrontado com os 2.608 novos casos registados em Portugal nas últimas 24 horas, o governante sustentou que "até conseguirmos atingir o controlo [da pandemia], vamos ter todos os dias [estes valores] a crescer". E se o país não conseguir conter este crescimento diário de contágios, então o Executivo "[terá] de tomar tomar medidas mais gravosas do ponto de vista da liberdade das pessoas".
"Creio que todos temos ainda bem presente o custo social paa as famílias, para a aprendizagem das crianças, para a saúde psicológica sobretudo dos mais idosos, para a perda do emprego e para a sustentabilidade das empresas, das medidas que tivemos de adotar em março e abril. Todos temos a obrigação de fazer o máximo de esforço possível para evitar a todo o custo que tenhamos de voltar a isso", acrescentou.
Questionado pela RTP sobre se este é um aviso sério aos portugueses, António Costa respondeu que é antes um "alerta" para que saibam que "se não queremos travar um conjunto de atividades e impor novos confinamentos e fortes restrições à liberdade, temos de alterar os comportamentos". Para o primeiro-ministro, esta segunda onda "resulta das pessoas terem relaxado na disciplina dos seus comportamentos", contrapondo que a subida dos novos casos não é uma "fatalidade".
Resistir ao cansaço
No final de um encontro de dois dias do Conselho Europeu, que sofreu duas "baixas" precisamente devido ao novo coronavírus - a presidente da Comissão Europeia e a primeira-ministra finlandesa -, Costa reforçou ter "esperança de que, tal como no início desta crise, as pessoas tenham muita consciência de que depende essencialmente delas travar a disseminação da pandemia e que isso depende da disciplina com que cada um cumpre as regras", como o afastamento físico ou a utilização de máscara.
O líder socialista reconheceu que "as pessoas têm acumulado cansaço", mas avisou que "ainda vamos ter muitos meses de pandemia pela frente". "Há que resistir a esse cansaço", dramatizou, concluindo que "se todos agirmos com consciência do risco, seguramente vamos conseguir conter a pandemia sem ter de recorrer de novo a medidas drásticas".