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Salários não vão acompanhar subida de preços, antecipa Centeno

O governador do Banco de Portugal explica que a proteção das relações laborais durante a pandemia evitou agora que novas contratações dessem origem a subidas de salários. Preços vão disparar, mas salários não reagem.

O supervisor liderado por Mário Centeno avisa que pode tomar medidas adicionais caso a recomendação não seja cumprida pelos bancos.
Sérgio Lemos
24 de Março de 2022 às 17:06
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Apesar da forte subida de preços que o Banco de Portugal espera ver este ano na economia portuguesa, os salários não deverão reagir. Mário Centeno, governador do banco central, explicou que a proteção das relações laborais durante a pior fase da pandemia evitou agora que novas contratações levassem a subidas das remunerações. Centeno falava esta quinta-feira, na apresentação do Boletim Económico do Banco de Portugal com novas projeções para a economia portuguesa.

Conforme adianta o relatório, a inflação deverá disparar para 4% este ano, abrandando depois para 1,6% em 2023 e em 2024. Esta projeção tem subjacente a ideia de que os salários não vão incorporar as subidas de preços ao consumidor, ficando antes alinhados apenas com os ganhos de produtividade que se antecipam.

"Não há efeitos de segunda ordem identificados na evolução dos salários ao longo do período de projeção", confirmou Mário Centeno. "Qualitativamente, descrevemos que os salários estão alinhados com a produtividade", adiantou ainda.

O governador explicou que "a forma como se respondeu à crise pandémica, apostando na preservação das relações laborais pré-existentes, não destruindo postos de trabalho de forma equivalente à dimensão da crise," permitiu que não se iniciasse "um ciclo de novas contratações num período de pressão no mercado de trabalho". Isso, diz Centeno, "protegeu a evolução dos salários" - por outras palavras, evitou que subissem neste período.

Mário Centeno aproveitou, ainda assim, para alertar para a "necessidade de evitar que esses efeitos de segunda ordem aconteçam", lamentando que tais movimentos se verifiquem em alguns países da zona euro, motivando depois "tensões na condução da política monetária que às vezes tem de corrigir de forma transversal demais".

A projeção do Banco de Portugal vai assim ao encontro da que tinha sido já avançada pelo Conselho das Finanças Públicas, que também não vê, por enquanto, os salários a refletir a totalidade da subida de preços esperada para este ano. Por enquanto, o CFP admite apenas uma subida de salários muito ligeiramente acima do aumento da produtividade.
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