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Portugal é dos países onde os serviços mais pesam no consumo e menos na produção

Estudo da CCP revela que Portugal dos países europeus onde o nível de terciarização global do consumo é mais elevado, ao mesmo tempo que o nível de "servitização" da produção é baixo. Baixa "servitização" da produção é sobretudo notória na indústria transformadora, o que afeta a competitividade.

A restauração tem sido um dos serviços onde os preços mais têm aumentado. Em junho, os preços ficaram 20% mais caros face ao ano passado.
Mariline Alves
Joana Almeida JoanaAlmeida@negocios.pt 11 de Dezembro de 2023 às 13:01
Portugal é um dos países europeus onde os serviços mais pesam no consumo das famílias e menos na produção das empresas. A conclusão é de um estudo sobre o contributo do comércio e serviços para a competitividade e internacionalização da economia portuguesa, divulgado esta segunda-feira pela Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP).

No estudo realizado pelo ex-ministro Augusto Mateus, é comparado o peso do setor terciário no consumo e na produção entre Portugal e outros quatro países europeus (Alemanha, Espanha, Itália e República Checa) e conclui-se que Portugal "surge, no conjunto das economias consideradas, simultaneamente, como a economia onde o nível de terciarização global do consumo é mais elevado" e "onde o nível de servitização da produção é mais baixo".

No caso do consumo, o nível de terciarização global – que corresponde ao peso dos serviços na estrutura de consumo das famílias – situava-se, em 2018, entre os 80 e os 83% entre as economias consideradas. Nesse mesmo ano, o contributo do comércio e serviços para o valor acrescentado bruto (VAB) total gerado nas atividades associadas ao consumo privado alcançou o valor máximo em Portugal (82,8%) face aos restantes países analisados, enquanto a República Checa registou o valor mais baixo (79,9%).

O estudo revela que a economia portuguesa conta com um contributo mais elevado para o VAB total gerado nas atividades associadas ao consumo privado, "seja para os comércios (15,4%), seja, sobretudo, para os serviços coletivos (10,8%)". Já o contributo mais baixo do comércio para o VAB total gerado no consumo privado regista-se na Alemanha (12%), havendo "uma relação inversa entre a eficiência empresarial e o peso relativo da contribuição do comércio para o valor adicionado gerado nas atividades económicas associadas ao consumo privado".

Por outro lado, o economista Augusto Mateus defende que a "servitização" da produção – que diz respeito à tendência crescente de serem necessários cada vez mais serviços para produzir bens – tem um impacto significativo na competitividade, permitindo "melhorar significativamente capacidade concorrencial e exportadora das empresas e, desso modo, a criação de riqueza e a remuneração dos fatores produtivos, nomeadamente, a remuneração do trabalho".

Já no que toca à intensidade da "servitização externa" na produção de bens através da aquisição de serviços intermédios, o estudo revela que, em 2018, havia diferenças muito significativas entre os países analisados. Em Portugal, verificou-se, no entanto, "o nível mais baixo de servitização global da produção de bens (14,5%), muito distante das economias com valores mais elevados, isto é, a alemã (21,9%), a checa (23,8%) e a italiana (26,2%)".

A "servitização externa" de Portugal na produção de bens secundários, construção de habitação e infraestruturas, revelou também níveis bastante baixos (12,5%), em comparação com os níveis revelados pela Itália (27%), pela Alemanha (22,4%) ou pela República Checa (28,9%). No caso da República Checa, isso reflete, segundo o estudo, "uma maior 'juventude' dos investimentos infraestruturais com a adesão à União Europeia em 2004".

Já o nível de "servitização" na produção de bens primários "é bastante inferior ao da produção industrial, em todas as economias, com exceção da economia alemã (22%)". Neste parâmetro, a economia porruguesa escapa ao último lugar (11,1%), ficando à frente da economia espanhola (10,5%).

O estudo mostra ainda que o contraste no nível de "servitização" da produção é ainda mais expressivo no caso das indústrias transformadoras, com a economia portuguesa a registar o valor mais baixo (15,6%). O valor dista bastante dos valores alcançados pelas economias espanhola (21,1%), alemã (21,8%), checa (22,7%) e, sobretudo, italiana (29,7%).

Esse contraste é sobretudo notótio nas "fileiras industriais centradas no acesso a recursos naturais (produtos alimentares, madeira e cortiça, pasta e papel e materiais de construção, nomeadamente) ou na intensidade do trabalho direto (têxtil, vestuário e calçado, produtos metálicos e mobiliário, nomeadamente)", tendo em conta que aí "a competitividade-custo pode ser ultrapassada pela competitividade não custo associada à diferenciação e à adaptação à segmentação das procuras, enquanto fator chave de competitividade".

Serviços como "peça central" na afirmação da economia de valor

O estudo da CCP indica que os serviços tornam-se uma "peça central" na afirmação da "economia do valor" sobre a "economia das quantidades", "ganhando força, seja na reorganização dos modelos de consumo, seja na reorganização dos modelos de produção, onde as tecnologias de informação alargaram o alcance da inovação e da diferenciação".

Essa reorganização da economia reflete "uma nova consciência dos desequilíbrios gerados quer pelo aprofundamento da globalização, quer pelos efeitos das várias formas de economia baseada no conhecimento no conteúdo do emprego", tendo-se tornado "mais ampla e necessária" depois da pandemia.

Em 2018, o estudo indica que o peso relativo dos serviços transacionáveis – que podem ser , como o nome indica, transacionados nos mercados internacionais sem terem de ser consumidos "in loco" – no valor acrescentado total variava "entre um mínimo de 40,6% na Alemanha e um máximo de 44,1% na Espanha".

Nos serviços coletivos, o peso variava "entre um mínimo de 16,7% na Itália e um máximo de 19,2% na República Checa e em Portugal". Já nos comércios, encontrava-se "entre um mínimo de 10% na Alemanha e um máximo de 13,9%, igualmente na República Checa e em Portugal".
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