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Mais de dois terços da riqueza criada em Portugal vem dos serviços

Estudo da CCP revela que os serviços mercantis contribuem mais para a criação de valor do que a soma da indústria, atividades primárias, construção e administração pública. Crescimento até aos anos 90 foi vertiginoso, mas tem abrandado desde então. Trocas comerciais entre empresas recuaram.

Os contratos nos centros comerciais são diferentes dos normais arrendamentos comerciais, incluindo prestações de serviços e partilha de risco.
Alexandre Azevedo
11 de Dezembro de 2023 às 13:00
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Mais de dois terços da riqueza em Portugal criada vem dos serviços. A conclusão é de um estudo, divulgado esta segunda-feira pela Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), que mostra que os serviços mercantis são a atividade económica, com um contributo para a criação de valor superior à soma da indústria, atividades primárias, construção e administração pública.

O estudo realizado pelo ex-ministro e economista Augusto Mateus revela que "os serviços mercantis conheceram um forte e contínuo crescimento do peso relativo do respetivo contributo para a criação de valor na economia portuguesa", representando 72,1% da riqueza criada em 2018. Esse valor compara com um peso de 37,2% que tinham os serviços no final da década de 1950. Ou seja, é hoje duas vezes superior.

Esse crescimento foi sobretudo vertiginoso até aos anos 90, "sob o impulso da terciarização do consumo", mas tem abrandado ligeiramente desde então, "com o dinamismo dos serviços empresarias e dos serviços associados ao turismo e ao lazer a assumirem o protagonismo no impulso à expansão da relevância dos serviços na economia portuguesa". Isso fez com que, em meio século, os serviços conseguissem "um predomínio largamente dominante" no país.

Por outro lado, a produção de bens, nas atividades primárias e nas indústrias, conheceu um recuo significativo no contributo para a criação de riqueza. O estudo indica que, no final dos anos 50, a produção de bens valia 52,7% do valor adicionado bruto, mas em 2018 esse valor tinha caído para 16,7%, o que corresponde a três vezes menos. Isso contribuiu para que a produção de bens perdesse o seu "claro predomínio" dos anos 1950.

A queda mais intensa deu-se nas atividades primárias, que "viram o peso relativo do respetivo contributo para o valor acrescentado gerado na economia portuguesa ser reduzido em cerca de 10 vezes, tornando-se relativamente marginal". Já o declínio das indústrias foi "mais tardio e menos intenso", com os fundos estruturais a fazerem crescer o peso relativo das indústrias até aos anos 90. Porém, com o aprofundamento da construção europeia e a globalização, "as indústrias viram o seu peso relativo reduzir-se praticamente a metade, ao longo deste século, tornando-se claramente minoritárias".

O contributo das adminitrações públicas também "subiu expressivamente, sobretudo na última década do século passado e na primeira década deste século, combinando o dinamismo político, da atribuição de um vasto conjunto de direitos democráticos, com o dinamismo económico e financeiro, do acesso aos fundos europeus de investimento e desenvolvimento". Isso fez com que o investimento público aumentasse, assim como o emprego e a coesão social.

Porém, "sem a concretização de processos substanciais de reforma orientados para a eficiência dos serviços e para a racionalização financeira do Estado", o contributo das administrações públicas para a riqueza produzida era, em 2018 (7%), "pouco superior ao que fora em 1958-60 (6,6%), chegando a ultrapassar os 9% antes da crise financeira".

A acompanhar o perfil do contributo da administração pública, a construção e obras públicas contribuiu, em 2018, 4,2%. O valor é ligeiramente superior ao obeservado entre 1958 e 1960 (3,5%), mas chegou a ser de 7% antes da crise financeira. "O perfil de avanço e recuo do contributo da construção e obras públicas para o valor acrescentado na economia portuguesa foi alimentado por dois movimentos de estagnação estrutural, traduzidos em reduções relativamente abruptas e prolongadas, depois, em ciclos relativamente longos", explica o estudo.

Globalização fez recuar trocas entre empresas

Ao nível das atividades primárias (agricultura, a pecuária, a silvicultura e as pescas), a industrialização, nomeadamente no agroalimentar, "conduziu a uma clara inversão do peso relativo dos segmentos finais [associadas ao consumo privado, exportações e investimento] e intermédios [procura das empresas] que, em termos de repartição percentual, passaram, respetivamente, de uma divisão 60-40, no final dos anos 50, para uma divisão próxima dos 35-65, ao longo dos anos 80 e 90".

Já nas atividades industriais, "apesar do significativo aumento do peso relativo das exportações, o peso relativo dos segmentos intermédios também se reforçou com nitidez", passando de 34%, no final dos anos 50, para 50% no final dos anos 90. Augusto Mateus explica essa tendência com "o forte dinamismo do investimento industrial, nacional e estrangeiro, impulsionado pelos incentivos financeiros viabilizados pelos fundos estruturais europeus", apesar da "intensificação da orientação exportadora".

"A densidade das trocas entre empresas e ramos de atividade, no seio da organização das cadeias de produção e distribuição nas atividades industriais em Portugal, conheceu, depois da alteração das suas condições de competitividade e da fragmentação mundial dos processos produtivos com a aceleração da globalização, onde a plena entrada da China nas regras do comércio internacional desenhadas na OMC desempenhou um papel relevante, um retrocesso significativo, alcançando em 2018 um valor inferior ao verificado em 1958-60, isto é, 32,1% face a 34%", lê-se no estudo.

Além disso, o comércio e serviços tem beneficiado do facto de combinar o crescimento do "terciário para o consumo final" com o crescimento do "terciário para o sistema produtivo". O contributo dos serviços à produção, "orientado para o mercado doméstico", quase quintuplicou no peso no valor adicionado bruto total, passando de 3,1%, no final dos anos 50, para 14,4%, no final dos anos 80.

Já o contributo dos serviços ao consumo para a criação de riqueza passou de 10,6% para 21,3%, "refletindo os efeitos positivos da democratização na repartição do rendimento e da integração europeia na modernização do consumo e na aceleração do crescimento económico".
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