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Portugal: "É cedo para os keynesianos celebrarem", diz colunista da Bloomberg

O Governo liderado por António Costa pode ter conseguido o défice mais baixo em mais de 40 anos, mas isso foi conseguido "a custo de renunciar ao investimento produtivo para o futuro." Portanto, diz Ferdinando Giugliano, os keynesianos devem suster as palmas.

Miguel Baltazar/Negócios
21 de Abril de 2017 às 10:33
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Apesar de o Governo socialista com o apoio dos partidos à esquerda ter conseguido entregar o défice orçamental em peso do PIB mais baixo da democracia, o modelo seguido pelo Executivo PS apoiado pelas esquerdas não contribui para o crescimento sustentável do país. Falta, segundo um colunista da Bloomberg, criar nova riqueza para distribuir e não apenas repartir os "frutos" da recuperação.

Num artigo de opinião assinado no site da agência noticiosa financeira, Ferdinando Giugliano - que é também colunista do jornal italiano La Repubblica - centra-se sobretudo numa componente, o investimento público, que em 2016 caiu para mínimos de 20 anos

Apesar de reconhecer que a fixação em 2% do défice orçamental em 2016 foi uma vitória para os que defendiam um corte com a austeridade desnecessária e argumentavam com a contraproducência dos cortes de investimento e subidas de impostos, Giugliano diz, contudo, que os keynesianos - defensores da intervenção do Estado na economia - "não devem celebrar tão cedo".

"O milagre fiscal português reflectiu também grandes cortes em gastos de capital, para compensar uma queda nas receitas fiscais. Sim, o Governo aumentou as transferências e reduziu o défice orçamental - mas a custo de renunciar ao investimento produtivo para o futuro," afirma o doutorado em Economia e Filosofia por Oxford.

Recorrendo aos dados do Conselho de Finanças Públicas, Giugliano refere o corte de 28,9% no investimento público no ano passado, tendo sido gastos "apenas" 2.900 milhões de euros (ou 1,6% do PIB) neste capítulo. Uma queda a pique que não tem, reconhece, apenas génese em São Bento ou no Terreiro do Paço.

"O financiamento da União Europeia para investimento em capital reduziu-se a metade, de mil milhões para 503 milhões de euros. No entanto o Governo pouco fez para contrariar este declínio," sustenta. Optou, diz, por aumentar despesas correntes (1,4%), verbas para salários da Função Pública (em 2,8%) e as transferências (1,1%).

A argumentação do Governo para a travagem no investimento público tem sido o alegado atraso, durante dois anos, no lançamento de concursos do Portugal 2020, o actual quadro de incentivos financeiros comunitários, com o Executivo a atribuir responsabilidades ao anterior Governo PSD-CDS.

O professor universitário reconhece que Portugal pode ser visto como um exemplo para países como a Grécia que estão a tentar deixar para trás anos de crise. "Mas a abordagem de Lisboa não constitui uma alternativa ou modelo de esquerda para o crescimento sustentável. O Governo português está a redistribuir os frutos desta recuperação, mas não está a conseguir plantar as sementes para uma nova colheita," conclui o colunista da Bloomberg.

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