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OCDE mais pessimista que Medina vê PIB a travar mais e inflação a cair menos em 2023

No Economic Outlook divulgado nesta terça-feira, a OCDE estima que a economia portuguesa cresça 1% em 2023, ao mesmo tempo que os preços se mantêm elevados (ao subirem 6,6%). Zona Euro consegue evitar estagnação, mas inflação só chega à meta depois de 2024.

O ex-ministro português Álvaro Santos Pereira é, de momento, economista-chefe interino da OCDE e responsável pelo Economic Outlook. Vítor Mota
22 de Novembro de 2022 às 10:00
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A OCDE está mais pessimista do que o Governo português para a evolução da economia portuguesa no próximo ano, esperando que o PIB trave mais (cresça apenas 1%) e que a inflação se mantenha mais alta (subindo 6,6%).


No Economic Outlook (relatório com previsões para várias economias do mundo coordenado pelo ex-ministro português Álvaro Santos Pereira) divulgado nesta terça-feira, 22 de novembro, a OCDE diz que "a economia global está a sofrer com a maior crise energética desde a década de 1970". O choque energético, agravado pela invasão russa da Ucrânia, "empurrou a inflação para níveis nunca antes vistos e está a travar o crescimento em todo o mundo". 


Portugal não é excepção. A organização sediada em Paris espera que o PIB cresça 6,7% em 2022, mas que trave a fundo ao crescer apenas 1% em 2023 e 1,2% em 2024, com a guerra russa contra a Ucrânia, as disrupções nas cadeias de abastecimento, os preços elevados dos preços e a subida das taxas de juro "pesam na atividade". 


Recorde-se que, na proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2023, o Ministério das Finanças estima um crescimento do PIB de 6,5% (que o ministro Fernando Medina já reviu, oralmente, para 6,7%) este ano e de 1,3% no próximo. Ou seja, 0,3 pontos acima do previsto pela OCDE para 2023. 


No capítulo que dedica ao país, a OCDE começa por dizer que "a recuperação perdeu força", depois de uma recuperação na primeira metade do ano puxada pela recuperação pós-covid no consumo e no turismo. Embora as poupanças excessivas e as transferências do governo ainda providenciem algum apoio para as famílias, a organização lembra que os dados do Banco de Portugal já apontam para um abrandamento acentuado em setembro. Ao mesmo tempo, a subida acentuada dos preços de produção das empresas também afeta negativamente a confiança. 


A OCDE estima ainda que os preços continuem a subir de forma acentuada, embora menos do que este ano. "Os preços elevados da energia e da alimentação vão puxar a inflação para 8,3% em 2022, antes de abrandar para 6,6% em 2023 e 2,4% em 2024", frisa. Também aqui a OCDE está mais pessimista do que o Governo. Na proposta de OE, Medina estima uma inflação de 7,4% este ano e de 4% no próximo. E embora o crescimento de salários deva acelerar dadas as taxas de desemprego baixas, a OCDE alerta que isso "não será suficiente para proteger o poder de compra das famílias". 


Com este cenário de preços ainda elevados e condições monetárias e de financiamento mais apertadas, a OCDE diz que é expectável que o consumo e a criação de emprego abrandem. Ainda assim, as medidas de apoio do lado da energia e a subida de salários podem vir a compensar "parte" das perdas no poder de compra, destaca a organização. 


"Garantir uma implementação atempada e eficiente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pode aumentar a infraestrutura verde e a eficiência energética e ajudar a compensar o abrandamento em 2023", avisa. 


Na frente orçamental, a OCDE admite que Medina poderá ter um brilharete já este ano, estimando que o défice possa ficar nos 1,8% do PIB, 0,1 pontos abaixo do previsto. 


Ao mesmo tempo, antecipa um défice mais reduzido do que inscrito pelo ministro das Finanças na proposta de OE. Se Fernando Medina aponta para um défice de 0,9% no próximo ano, a OCDE antecipa que seja de apenas 0,6% - e, num cenário de políticas invariantes, espera um défice zero em 2024. 


"A política orçamental vai ser restritiva em 2023 e 2024", comenta a organização. 


Zona Euro perto da estagnação 


A OCDE estima que a economia da Zona Euro cresça 3,3% este ano e fique depois quase estagnada, ao avançar apenas 0,5% em 2023, devido à guerra da Rússia na Ucrânia, o apertar da política monetária e o abrandamento global. O crescimento deve recuperar em 2024, esperando a organização que a economia dos 19 países da moeda única cresça 1,4% nesse ano. 


"A inflação deve diminuir apenas gradualmente, mantendo-se acima da meta [do Banco Central Europeu, BCE] em 2024, alimentada por preços energéticos elevados e um mercado de trabalho rígido", escreve a OCDE. A organização estima um crescimento homólogo da inflação (medida pelo IHPC) de 8,3% este ano, de 6,8% em 2023 e de 3,4% em 2024 - acima do objetivo de médio prazo do BCE de uma inflação de 2%. 


A OCDE frisa que os riscos para estas previsões são negativos, pelo que a economia pode crescer menos e a inflação mais, devido a possíveis disrupções na oferta energética durante o inverno. "Incerteza elevada, a quebra nos rendimentos reais e pressões inflacionistas alargadas requerem ações políticas cuidadas e coordenadas", aconselha a organização. 

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