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O que pensam os economistas sobre os números do crescimento?

Na quarta-feira, ficámos a saber o que esteve por trás do crescimento da economia portuguesa nos últimos três meses de 2016. O Negócios diz-lhe agora como os economistas lêem esses dados e as suas perspectivas para o futuro.

Bruno Simão/Negócios
02 de Março de 2017 às 11:10
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O INE reviu em alta o crescimento da economia no terceiro trimestre de 1,9% para 2%, o que faz desses três meses os mais dinâmicos desde o segundo trimestre de 2010. O INE aplicou igual revisão de 0,1 pontos percentuais em todos a todos os trimestres de 2016, o que não foi suficiente para que a economia crescesse mais do que os 1,4% já anteriormente anunciados para a totalidade do ano. Um dos principais desenvolvimentos foi o regresso do investimento a terreno positivo, depois de três trimestres consecutivos em queda. A recuperação era expectável, mas bateu as expectativas.

 

O Negócios mostra-lhe o que acham os economistas sobre os últimos desenvolvimentos da economia portuguesa e as conclusões que se podem retirar da nova informação divulgada pelo INE. Na rubrica Reacção dos Economistas (que pode consultar na totalidade no Massa Monetária), apresentamos, sem edição, a opinião de alguns dos analistas mais atentos à economia nacional. Leia alguns excertos em baixo.

 

Católica Lisbon Forecatsing Lab - NECEP

 

No 4.º trimestre de 2016, o PIB cresceu 0,6% em cadeia, confirmando-se a trajectória mais favorável da economia portuguesa desde meados do ano passado. As leituras positivas, transversais a todos os agregados da despesa, reflectem essa fase mais benigna tal como o crescimento homólogo do último trimestre (2%). O principal sinal positivo foi dado pelo investimento (FBCF) que cresceu 4,6% em cadeia e alcançou o melhor registo desde o 1º trimestre de 2012. O ano de 2016 acabou por fechar com uma queda de apenas 0,3% neste agregado, acima do projectado anteriormente. A melhoria da actividade da construção parece ser o principal factor por detrás desta evolução menos desfavorável, embora subsistindo outros efeitos pontuais de difícil interpretação. 


A economia portuguesa parece estar a atravessar uma fase de crescimento mais intenso e transversal às várias componentes da despesa. Porém, subsistem dúvidas sobre a qualidade e persistência da recuperação do investimento que foi bem mais forte em expansões anteriores. Será necessário observar uma sequência de trimestres com forte crescimento no investimento para confiar na solidez do processo de recuperação da economia.

 

Paula Carvalho - BPI

 

A segunda revisão do PIB relativa ao 4.º trimestre de 2016 trouxe notícias positivas, traduzindo uma dinâmica acima do esperado da generalidade das componentes da procura agregada e reforçando a probabilidade de revisão em alta dos cenários de crescimento económico para 2017. De salientar que o crescimento nominal se cifrou em 3,1% e o saldo da balança de bens e serviços reforçou-se face a 2015 apesar da recuperação dos preços do petróleo na segunda metade do ano e das dificuldades em alguns mercados de exportação. Entre as componentes da procura agregada, pela positiva destacamos o comportamento do Investimento, que acabou por recuar apenas 0,3% no conjunto do ano de 2016, confirmando no último trimestre do ano a recuperação da globalidade das componentes e interrompendo um ciclo de quedas. De salientar também a excelente performance das exportações, que no conjunto do ano aumentaram em volume 4,4%, mantendo uma dinâmica muito consistente e robusta em vários anos consecutivos apesar das dificuldades conhecidas em alguns mercados relevantes para Portugal.

 

Para 2017 antecipamos uma evolução mais moderada do consumo das famílias, que deverá ocorrer em conjugação com a reposição da poupança, a continuação da boa performance das exportações, ainda que sujeita aos condicionalismos externos, e aguardamos pela confirmação da recuperação do investimento. A nossa previsão para o PIB anual mantém-se em 1,5%, com possibilidade de revisão em alta.

 

Filipe Garcia – IMF

 

São números globalmente positivos porque confirmam o crescimento contínuo da economia portuguesa desde meados de 2013. O ritmo de crescimento encontra-se relativamente estabilizado desde essa altura. Aparentemente, o que a economia portuguesa consegue em termos estruturais é isto: crescer em torno de 1,5% ao ano. Foi o 11.º trimestre consecutivo de crescimento em cadeia. Sendo uma evolução positiva, e acima do que se esperava há seis meses, é justo ter em conta o contexto actual, que é bastante favorável: a política monetária continua muito expansiva e com taxas de juro muito baixas, o "apoio" do BCE tem efeitos ao conter o "risco país", a economia mundial e europeia estão a crescer de forma sustentada, o euro está relativamente baixo e o desenvolvimento do sector do turismo em Portugal tem sido excelente.

 

Olhando para os números do 4.º trimestre de 2016, confirma-se o crescimento do consumo privado, que poderá ser explicado em grande parte pela evolução da confiança. O crédito disponível poderá também estar a ter um papel importante neste domínio. No investimento do 4.º trimestre destaca-se a construção, sinal da melhoria do mercado imobiliário, do turismo e da migração de investimento financeiro para outras classes de activos, nomeadamente o imobiliário. 

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

A estimativa final do INE para o PIB de Portugal no 4.º trimestre apontou para um crescimento, em cadeia, de 0,6%, confirmando o valor inicialmente avançado, depois de, no 3.º trimestre, já ter expandido uns robustos 0,9% (revisto em alta em +0,1 p.p.), que é o maior ritmo de crescimento desde o 4.º trimestre de 2013 (+1%), após um 1.º semestre de fracos crescimentos (+0,2% no 2.º trimestre e +0,3% no 1.º trimestre, no primeiro caso, revisto em baixa em 0.1 p.p. e, no segundo, em alta em 0,1 p.p.). Recorde-se que, aquando da estimativa inicial, o crescimento do 4.º trimestre tinha superado a mediana das projecções das instituições contactadas pela Bloomberg (+0,3%) e as nossas próprias perspectivas (entre +0,2% e +0,4%). A principal surpresa face ao que tínhamos anteriormente estimado tem a ver com o investimento em capital fixo, que subiu bem mais do que o que o que tínhamos inicialmente admitido.

Para 2017, recorde-se que, aquando da 1.ª estimativa do PIB do 4.º trimestre, e fruto do carry-over (se a economia estabilizasse nos quatro trimestres de 2017 no nível do 4.º trimestre de 2016, apresentaria um crescimento médio anual de 1,0% em 2017), tínhamos revisto em alta a nossa previsão de um crescimento do PIB, de 1,5% para 1,7%, previsão que mantemos e materializando-se na previsão também os riscos ascendentes já anteriormente identificados. 

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