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Lagarde defende "atenção especial" dos supervisores de concorrência às margens de lucro

Numa audição no Parlamento Europeu, Christine Lagarde sugeriu medidas para aumentar concorrência para reduzir preços. BCE não vê efeito de salários na inflação.

A presidente do BCE deverá anunciar esta quinta-feira mais uma subida nas três taxas na Zona Euro, mas poderá ajustar “guidance” futuro.
Wolfgang Rattay/Reuters
20 de Março de 2023 às 15:19
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A presidente do Banco Central Europeu (BCE) defendeu que as autoridades de supervisão de concorrência na Zona Euro dediquem uma "atenção especial" às margens de lucro e ao efeito que tiveram na inflação, insistindo que as empresas devem assumir uma maior parte da subida de preços para evitar uma espiral inflacionista.

"Há muitas ferramentas disponíveis, relacionadas com o nível de concorrência, impostos... Mas eu pensaria também em aumentar a concorrência através de uma revisão mais direcionada de possíveis práticas de concertação e acordo de preços entre alguns 'players' de mercado, o que exige uma atenção especial das autoridades de supervisão de concorrência", afirmou Christine Lagarde, nesta segunda-feira, 20 de março

A líder do BCE está a ser ouvida no Parlamento Europeu e respondia assim a uma questão do eurodeputado espanhol Jonás Fernández (S&P), que, dado que as margens de lucro das empresas têm puxado mais a inflação do que a subida dos salários, quis saber quais seriam as recomendações de Lagarde para os governos da Zona Euro para responder a esses efeitos. 

Tal como tinha feito na passada quinta-feira, depois da reunião de política monetária, Lagarde insistiu que "para se evitar um risco de espiral inflacionista é importante que haja uma boa partilha dos custos" relacionados com a subida de preços entre capital e trabalho, lucros e salários.

Embora a banqueira central tenha sublinhando que não é do âmbito do BCE fazer recomendações nesta área, a responsável admitiu que a preocupação são os "efeitos de segunda ordem" que podem desancorar as expectativas de inflação em níveis muito distantes do objetivo de médio prazo (os 2%). Ainda assim, frisou, "devem ser as autoridades a pensar nas ferramentas". 

Lagarde lembrou que em muitos setores "as margens de lucro subiram, e se não subiram pelo menos manteram-se praticamente inalteradas", o que é um "fenómeno" que não era esperado, dada a subida de custos de produção que afetam muitos setores (dada a subida de preço da energia, os constrangimentos nas cadeias de abastecimento, etc). 

E para isso citou um gráfico com cálculos do BCE - que foi distribuído aos eurodeputados - que demonstra como os lucros, na esmagadora maioria dos diferentes setores de atividade, puxaram pela inflação (tal como o Negócios já tinha noticiado, com base nos mesmos dados). 

BCE ainda não vê efeitos da subida de salários na inflação

Por outro lado, e em resposta a questões do deputado belga Johan van Overtveldt (CRE), quis saber se o BCE já vê efeitos de segunda ordem na inflação causados pela subida dos salários (mais acentuada no arranque de 2023). 

"Há uma recuperação dos salários que é normal. Há sempre um atraso, mas agora vemo-lo de forma clara. Mas há efeitos de segunda ordem? Isso precisa de ser avaliado. Não estamos a ver que estejam fora do ritmo da inflação, nem fatores de segunda ordem que seriam preocupantes", respondeu Lagarde.

Ainda assim, a líder do BCE admitiu que haverá uma informação mais detalhada agora na primavera sobre a evolução de salários e dos efeitos da negociação coletiva na Zona Euro.
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