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De Grauwe: Portugal foi o país mais cauteloso na UE em gastos orçamentais, mas ainda "é cedo" para avaliar sucesso
O vice-presidente do Conselho das Finanças Públicas elaborou um estudo que mostra que Portugal foi o que se manteve mais cauteloso nos gastos orçamentais, em comparação com a evolução do PIB, na União Europeia.
O Governo português foi muito "cauteloso" na política orçamental levada a cabo durante a pandemia, comparando com outros países da União Europeia (UE), mas ainda é "demasiado cedo" para avaliar se o executivo fez as escolhas certas, de acordo com Paul De Grauwe, economista e vice-presidente do CFP - Conselho das Finanças Públicas.
Numa publicação, De Grauwe documenta o facto de, em comparação com outros países da UE, o Governo português ter feito escolhas de política orçamental "relativamente cautelosas" durante a pandemia, tendo em conta que a grande maioria dos países do bloco europeu assumiu posições orçamentais "mais expansionistas do que Portugal".
"Dado a empírica evidência de uma correlação positiva entre o ativismo orçamental e o crescimento económico, pode-se ficar tentado a concluir que tal [cautela orçamental] pode ter conduzido a uma perda do PIB [produto interno bruto] em Portugal. Não está claro, entretanto, se esta é a conclusão certa", diz o economista, acrescentando que, apesar de tudo, "é provavelmente muito cedo para dizer se o governo português fez as escolhas certas de política orçamental".
"Quando esse rácio é superior a 1, os países envolvidos permitem que o défice orçamental aumente (em pontos percentuais) mais do que a redução percentual do PIB. A maioria das medidas de ativismo fiscal dos países da UE são abaixo de 1, sugerindo uma postura fiscal relativamente cautelosa na UE. Entre todos os países da UE, Portugal parece ter sido o mais cauteloso na utilização de políticas orçamentais para estabilizar a economia", explica.
O autor regista que o impacto económico da pandemia nos diferentes países membros da UE foi grande, mas também muito divergente. Alguns, principalmente os países a norte da Europa, conseguiram conter o impacto negativo da pandemia no PIB em 2020 enquanto outros, principalmente os países do sul, viram o seu PIB cair de forma mais elevada.
O produto interno bruto de Portugal sofreu em 2020 uma quebra de 7,6%, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). A quebra histórica do PIB não encontra precedentes na atual série estatística do INE e está relacionada com os efeitos da pandemia, que colocou o mundo numa recessão profunda, devido à contração acentuada das exportações e do consumo, que penalizaram sobretudo setores como o turismo, comércio e restauração.
Já no primeiro trimestre deste ano, a economia portuguesa contraiu 5,4%, quando comparado com o mesmo período de 2020. Face aos últimos três meses do ano passado, a queda foi de 3,3%.