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Da estagnação ao maior crescimento do século (em apenas um ano)

Os economistas que há um ano viam uma estagnação no horizonte antecipam agora um crescimento superior a 2,5% este ano. O Negócios foi falar com eles para perceber o que mudou em Portugal e o que mais os surpreendeu. Fica a pergunta: é este ritmo sustentável?

Miguel Baltazar
13 de Agosto de 2017 às 22:00
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A economia estava anémica, o crescimento de 2016 podia ficar abaixo de 1% e o Governo surgia demasiado optimista para 2017. A incerteza orçamental somava-se às dúvidas suscitadas pelo Brexit e pela ascensão de Trump. A economia estava a abrandar. Escreviam-se artigos – também aqui no Negócios – sobre como o modelo do Governo de estímulo à procura interna estava a falhar e eram feitas simulações sobre o impacto negativo no défice. Era esta a imagem da economia portuguesa há um ano e até perto do final de 2016. Como é que passámos desta perspectiva deprimente para possivelmente o crescimento mais forte em 17 anos?

Por esta altura, em Agosto de 2016, ficávamos a saber que Portugal só crescera 0,8% no segundo trimestre, após uns já débeis 0,9% nos três meses anteriores (entretanto, foram ambos revistos para 1%). Os economistas estavam pessimistas: o PIB não deveria saltar muito para lá de 1% em 2017. Meses depois a actividade ganhou um ímpeto que ninguém esperava (nem o Governo ) e os economistas prevêem agora um crescimento superior a 2,6%. No dia em que conhecemos o PIB do segundo trimestre, o Negócios perguntou-lhes o que mudou.

Parte da justificação está para lá das fronteiras nacionais. O Verão de 2016 trouxe o Brexit e tornou uma Administração Trump uma possibilidade. Uma neblina de pessimismo rodeava a conjuntura externa. "Há um ano estávamos no rescaldo do referendo no Reino Unido e temia-se que o processo de saída tivesse consequências imediatas de desaceleração expressiva. Entretanto verificou-se que o arrastamento do Brexit não teve consequências tão nefastas como se antecipou",  explica Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, destacando também o resultado de eleições que "poderiam por em causa a arquitectura [do euro]".
Em Julho do ano passado, o FMI previa que a Zona Euro cresceria apenas 1,4% em 2017. Hoje, a estimativa é 1,7%. Espanha, o principal cliente das exportações portuguesas, deverá ficar acima de 3%.

A força do investimento e das exportações

Ainda em Novembro, o BBVA via Portugal a 1,3%. Hoje? 2,6%. "A viragem pode ser explicada, em primeiro lugar, por um desempenho melhor do que se esperava das exportações. A aceleração tem sido espectacular", aponta o economista-chefe, Miguel Cardoso. Com este vento nas costas, a procura interna ganhou força. Por exemplo, o maior dinamismo do turismo impulsiona ainda mais o emprego que, por sua vez, estimula o consumo. O turismo, assim como o resto das exportações, foi um dos indicadores que mais surpreenderam os economistas. O outro foi o investimento.

"O investimento é a variável que revimos em alta numa maior magnitude, depois de ter sido a principal responsável pelo abrandamento da economia em 2016", explica Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio. Este ano, o investimento tem muito a seu favor: a vontade do Governo em compensar a quebra de 2016 (ainda por verificar), a vontade dos autarcas de concretizar obras em ano de eleições, maior execução de fundos comunitários e juros ainda baixos.

O facto de a aceleração da economia ter chegado na segunda metade do ano  criou um efeito de ‘carry over’ que beneficiou 2017. "As medidas mais expansionistas, como os aumentos na Função Pública, nas pensões e [a descida] do IVA da restauração só entraram em pleno no final de 2016 podendo ter contribuído também para os crescimentos mais fortes", afirma João Borges de Assunção, do NECEP.

Alguns economistas sublinham que a determinação em cumprir a meta de défice deu confiança aos agentes económicos para investir e exportar. "Estes receios abrandaram, com o Governo a aceitar as determinações de Bruxelas", nota Pedro Braz Teixeira, do Fórum para a Competitividade.

António Costa já subiu as expectativas para este ano, ao dizer que trará o maior crescimento do século, o que significa acima de 2,5%. Ainda há pouco tempo o Presidente dizia que o objectivo devia ser crescer acima de 2% e, ainda em Maio, Passos Coelho colocava a barra nos 2,5%.

Aceleração só conjuntural? 

Agora que tudo indica que 2017 correrá bem, dando até uma ajuda ao défice, importa saber se estamos perante uma aceleração conjuntural, fruto da melhoria europeia, do ‘boom’ do turismo e da míngua de investimento dos últimos anos ou se é o arranque de um período de crescimento mais saudável.

"As dúvidas sobre a sustentabilidade deste nível de crescimento são legítimas e a generalidade das instituições perspectiva crescimentos mais modestos nos próximos anos do que em 2017", refere Borges de Assunção. "O grande desafio será tentar entrar numa dinâmica de crescimento que coloque o país a crescer acima do euro nos próximos anos, no fundo, imitando o comportamento de Espanha", acrescenta Bernardes Serra.

António da Ascensão Costa, do ISEG, está mais optimista. Pede mais tempo para avaliar se o reforço da procura interna não provocará um desequilíbrio externo, mas diz que "a manutenção do crescimento da economia ao nível do verificado no primeiro trimestre [2,8%], ou mesmo superior, parece hoje mais provável".

Embora as previsões apontem para um arrefecimento, tanto o BPI como o BBVA esperam variações do PIB superiores a 2%. Um valor elevado depois de quase duas décadas a crescer a uma média de 0,3%.


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