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Augusto Mateus: “Temos um grande problema de coesão económica”
Portugal está cada vez menos competitivo aos olhos do Fórum Económico Mundial. Desde 2005, o país já caiu 29 posições no “ranking” dos mais competitivos. No entanto, os economistas indicam que não se deve olhar de forma unilateral para as oscilações da competitividade económica de ano para ano, indicando que se deve encarar estes estudos como ferramentas para identificar e corrigir os problemas.
O Fórum Económico Mundial divulgou esta quarta-feira o “ranking” da competitividade mundial em 2013-2014 e Portugal voltou a cair na tabela classificativa, ocupando agora o 51º lugar, duas posições abaixo da que ocupava em 2012.
Este posicionamento resulta principalmente de um “ambiente macroeconómico instável” - critério em que o país fica na 124ª posição –, situação semelhante aos restantes países do Sul da Europa. Porém, outros indicadores, como a perda da confiança na elite política e na eficiência do Governo, mas, sobretudo, as dificuldades de acesso ao financiamento – quer seja através dos mercados ou de créditos – contribuíram para esta queda.
Apesar de estar a cair no “ranking” desde 2005, com excepção de 2011, quando registou uma ligeira subida, os economistas acreditam que o País pode inverter esta situação.
“Portugal pode fazer um esforço, com grande sucesso, de maneira a facilitar tudo aquilo que o ajuda a ser mais competitivo, nomeadamente a eficiência”, considerou Augusto Mateus esta quarta-feira na apresentação do relatório.
Para o economista e antigo ministro da Economia este esforço “não é contraditório com as preocupações de equidade, segurança e estabilidade, antes pelo contrário”. “A estabilidade induz a mais investimento e confere mais qualidade ao investimento”, indica Augusto Mateus.
Outro dos aspectos, indicados pelo economista, que podem ser melhorados para que Portugal seja mais competitivo é criar “uma maior colaboração entre o público e o privado e entre o Governo e as empresas”. “Este será o grande factor que vai permitir à economia melhorar, porque temos um grande problema de coesão económica”, considera Augusto Mateus. Para o antigo ministro existe um problema de diversidade no tecido empresarial, que “produz muita riqueza, mas é mal dotado de capital financeiro e humano”, não sendo tão produtivo como deveria ser.
“Podemos ter resultados se tivermos a coragem para mudar aquilo que trava a eficiência dos mercados”, considera o economista.
Isto não é campeonato anual da competitividade
Apesar de o País ter caído dois lugares na classificação geral, Luís Filipe Pereira, que também esteve presente na apresentação, aconselha a que o relatório não seja visto do ponto de vista académico, mas sim como uma ferramenta para ultrapassar as dificuldades e identificar as áreas que têm de ser melhoradas. “A mensagem fundamental é identificar as dificuldades que têm de ser ultrapassadas e as áreas que necessitam de ser melhoradas”, aponta o antigo ministro da Saúde. “Estamos mal na gestão de recursos humanos e as condições do mercado de trabalho são um dos indicadores em que Portugal está mais mal classificado”, aponta Luís Filipe Pereira, a título de exemplo.
Para Luís Filipe Pereira a competitividade é um tema crítico que devia ser discutido. “Nós discutimos muito a crise, mas o que está por baixo da crise é a competitividade do país e isso não se discute muito”. Para o antigo ministro, o factor essencial para melhorar a competitividade de Portugal é o aumento da produtividade, uma vez que é a produtividade que vai “determinar os níveis de bem-estar da população nacional”.
Também Augusto Mateus indica que se deve olhar para este indicador económico como “algo em construção”, uma vez que o número de países considerados no “ranking” vai aumentando de ano para ano.
O facto de a sua publicação ser anual faz com que as mudanças não sejam muito significativas e a queda de Portugal na lista também está relacionada com o facto de ser ultrapassado por economias emergentes, que são incorporadas de ano para ano.
“É um espelho que não é perfeito, mas permite a qualquer economia e a qualquer pessoa interessada nessa economia identificar onde estão os problemas principais. Não devemos olhar para estes indicadores como se fosse o campeonato anual da competitividade”.
Para Augusto Mateus, o relatório da competitividade do Fórum Económico Mundial não é “o espelho perfeito”, apesar de ser elaborado com grande rigor, sublinha o economista, uma vez que o estudo é baseado em “indicadores estatísticos e inquéritos qualitativos não uniformizados”. “Essas opiniões têm muito mais dispersão que os indicadores estatísticos e têm limites do ponto de vista de segurança”, indica.