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Até o cenário adverso do BCE para a economia pode já estar desatualizado, sugere Centeno

O governador do Banco de Portugal frisou a preocupação com a economia da zona euro, questionando a robustez da recuperação conseguida até agora. Enfrentamos "crescimento muito baixo e inflação elevada", assumiu.

O congelamento de contas e ativos financeiros está entre as medidas restritivas anunciadas por Bruxelas para tentar asfixiar o financiamento à Rússia e travar o ataque militar.
Pedro Nunes/Reuters
11 de Março de 2022 às 11:33
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O cenário adverso que o Banco Central Europeu (BCE) projetou para a economia da zona euro, e que foi revelado ainda esta quinta-feira, pode já estar desatualizado, sugeriu Mário Centeno, governador do Banco de Portugal. No que diz respeito aos preços presumidos para a energia, exemplificou, já foi mesmo ultrapassado. Neste cenário, a economia da moeda única deverá crescer apenas 2,5% este ano, em vez dos 3,7% assumidos no cenário base.

O ex-ministro das Finanças disse que os governadores devem sempre ser "contidamente otimistas e excessivamente realistas", mas a imagem que traçou esta sexta-feira do contexto económico foi dura. Mário Centeno pediu "muita cautela" na leitura das previsões de crescimento apresentadas ontem pelos economistas do BCE, e que estiveram na base das decisões de política monetária tomadas pelos governadores da moeda única.

"Portugal e a Europa vão viver em 2022 muito à custa do que os economistas chamam efeito carry over do crescimento de 2021", sublinhou. E explicou o que isso quer dizer: "Se todos os trimestres de 2022 tiverem um crescimento de 0% em cadeia [face ao trimestre anterior], ainda assim a economia da área do euro no conjunto de 2022 cresce 2,1%".

Ora, esta quinta-feira o BCE apresentou um cenário base para o crescimento da economia do euro que antevê uma subida de 3,7% do PIB e uma inflação de 5,1%. Mas num cenário adverso, assumiu que o crescimento poderá não ir além de 2,5% e a inflação poderá atingir os 5,9%. Este cenário adverso, explicou hoje Mário Centeno, "significa que trimestre após trimestre, o crescimento vai ser muito baixo, se não zero, ou eventualmente negativo." E continuou: "O cenário adverso tem hipóteses externas, por exemplo em relação ao preço dos bens energéticos, que já estão ultrapassadas pelo mercado, portanto podem avaliar por aqui a verosimilhança desse cenário."


O outro cenário traçado pelo BCE, o severo, aponta para uma subida do PIB de 2,3% (ou seja, será na prática estagnar face ao final do ano passado) e a inflação em 7,1%. O BCE não apresentou nenhum cenário de projeção mais suave do que o que diz ser o cenário base.

"A recuperação efetiva que observamos no final de 2020 e 2021 trouxe a zona euro para níveis de 2019, mas não nos conforta na robustez deste crescimento", assumiu o governador. Mário Centeno não escondeu a preocupação e defendeu que mesmo que todas as condições para definir a estagflação em termos económicos possam não estar cumpridas (a taxa de desemprego ainda não está elevada), a verdade é que a zona euro enfrenta "
momentos de desafio com crescimento muito baixo e inflação elevada."

"Parcos 17% de investimento" financiados com fundos europeus
Perante este contexto, é preciso que a política económica ajude a crescer, argumentou Centeno. No caso português, o governador deu quatro linhas de ação que considera igualmente prioritárias. Desde logo, é preciso aplicar com eficácia e eficiência os fundos comunitários - o que o governador não está a ver acontecer.

"Não estou certo de que a administração pública em Portugal esteja ciente disto. Ao olhar para os parcos 17% de investimento público financiados por fundos europeus nas contas nacionais de 2021, diria que não está mesmo ciente", atirou Centeno, pedindo a boa implementação do Programa de Recuperação e Resiliência e do PT2030.

Outras prioridades serão manter previsibilidade fiscal, melhorar a qualidade e quantidade da oferta de trabalho (ou seja, agir nas qualificações) e "r
eduzir os riscos do sistema bancário, consolidando o mercado e mantendo uma trajetória que permitiu que desde 2021 o sistema bancário tenha como um todo um contributo positivo para o Orçamento do Estado."

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