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Porto mete o nome na agenda empresarial das alterações climáticas
Um ex-presidente dos EUA e outro Prémio Nobel da Paz deram a cara pelo The Porto Protocol, que ambiciona juntar as empresas numa base de dados dinâmica, colaborativa e de partilha de experiência sobre "um problema [que] não pode mais ser ignorado".
O Porto e Portugal começaram esta sexta-feira, 6 de Julho, a assumir um papel de maior relevo no combate às alterações climáticas através do lançamento do The Porto Protocol (TPP), uma iniciativa de base empresarial apresentada e apadrinhada pelo ex-presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama.
Adrian Bridge, director-geral da The Fladgate Partnership, dramatizou logo na abertura desta cimeira sobre o clima que "o problema não pode mais ser ignorado" e que "cada um tem de fazer a sua parte, dar o seu contributo para mitigar as alterações climáticas". O TPP é um "desafio para todos fazerem mais do que actualmente" e "todas as contribuições ajudam, por mais pequenas que sejam".
"Não há tempo para inventar novas soluções, vamos partilhar experiências", reclamou o líder do grupo que detém as marcas de vinho do Porto Taylor’s, Fonseca e Croft, organizador da cimeira. Falando da nova plataforma como uma "base de dados dinâmica", neste discurso proferido no Coliseu apelou à participação de todos nesta iniciativa, individualmente ou nas empresas, em Portugal e no mundo inteiro.
A Climate Change Leadership Porto Summit 2018 decorreu durante todo o dia à porta fechada na principal sala de espectáculos da cidade Invicta. A entrada esteve reservada apenas para as quase três mil pessoas convidadas pelos patrocinadores e pela organização, da qual fizeram também parte a Câmara do Porto, o Instituto da Vinha e do Vinho, a Associacão Comercial do Porto, o The American College in Spain e a Advanced Leadership Foundation.
Nobel da Paz sem "desculpas"
Antes de Barack Obama subir ao palco para pedir às empresas para mostrarem os custos das alterações climáticas, o antigo vice-presidente do Painel Intergovernamental (IPCC) das Nações Unidas e Prémio Nobel da Paz em 2007, Mohan Munasinghe, apresentou o The Porto Protocol como "uma mensagem de esperança para o mundo", antecipando que "a cidade do Porto vai ficar ainda mais famosa" depois desta iniciativa, que disse "apoiar fortemente".
Depois de se apresentar em português como "um grande amigo de Portugal, que gosta das pessoas e da comida" daqui, o responsável elogiou a indústria do vinho por "ajudar a criar novos valores e comportamentos" e exortou que é preciso fazer chegar este tema às gerações mais novas. E deu como certas "grandes flutuações na produção" e mudanças no perfil dos próprios vinhos por via deste efeito.
"Não há desculpas para atrasar este combate. As alterações climáticas estão provadas, as emissões humanas afectam o clima", referiu o professor universitário, criticando de seguida os vários "objectivos não cumpridos e as promessas quebradas" desde os anos 1940 até à actualidade
Na área da produção sustentável, exigindo menos recursos, Mohan Munasinghe destacou até uma empresa portuguesa, a Corticeira Amorim, e o trabalho autárquico que está a ser feito em Guimarães. Por outro lado, notou que as ameaças são múltiplas e as respostas não estão coordenadas. "Falta liderança ao nível de topo, pelo que é são precisas mais acções decisivas num nível intermédio por parte dos autarcas, dos líderes nas comunidades e dos presidentes das empresas", acrescentou.
Ameaça ao património
Irina Bokova, ex-directora-geral da UNESCO, concentrou a mensagem na área do património, frisando acreditar que "esta dimensão cultural é chave para a mitigação dos riscos ambientais", que também provocam danos imensos no património. E lembrou a "ligação muito próxima" que existe entre as vinhas e o património, sublinhando a "grande presença das zonas vitivinícolas" na lista da Unesco e reforçando a ligação entre vinho, ambiente e identidade cultural.
A candidata derrotada por António Guterres na corrida a secretário-geral da ONU referiu no palco do Coliseu do Porto que "as alterações climáticas são a ameaça maior e em mais forte aceleração para o património", seja cultural ou natural, descrevendo o "impacto significativo" que já é visível por esta via em um quarto dos locais listados por este organismo. "As alterações climáticas são reais e estão a destruir alguns destes locais", insistiu.
Sustentando que "só recentemente este factor foi considerado uma ameaça para o património" e a dificuldade na medição desse impacto, Irina Bokova reforçou que "por isso são precisas imagens fortes, para reforçar esta mensagem". Veneza, os recifes de coral - mais de metade em risco de degradação - ou a própria área de vinha, que até 2050 poderá encolher entre 25% e 75%. "As alterações climáticas ameaçam destruir as nossas memórias comuns e as nossas culturas diversificadas", concluiu, em jeito de alerta aos participantes nesta cimeira marcada por fortes medidas de segurança na Baixa da cidade.