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Subir Lall: “Não é possível” voltar ao velho modelo pré-crise
Chefe de missão do FMI elogia trabalho feito até agora pelas autoridades, mas diz que desemprego e dívidas pública e privada continuam a ameaçar.
Para crescer, baixar o desemprego e garantir a sustentabilidade do endividamento público e privado Portugal precisa de crescer sem recurso a endividamento. O modelo da década anterior está esgotado: “O crescimento elevado e duradouro não é possível com o regresso ao velho modelo, pré-crise”, defende Subir Lall.
Num post publicado do blogue do FMI que acompanha o relatório da décima avaliação ao programa de ajustamento português, publicado esta quarta-feira, 19 de Fevereiro, o chefe de missão do FMI avisa que “não há espaço para contrair mais empréstimos para alimentar o consumo ou o investimento não produtivo”.
Lall evidencia que “a posição de investimento de Portugal é negativa em relação ao resto do mundo por uma larga margem – actualmente acima dos 110% do PIB – e com tendência para o endividamento, contrair dívida externa não é uma opção num futuro previsível”. Por isso, diz, “a economia precisa gerar excedentes externos para reduzir esta posição de investimento negativa; o investimento tem de ser dirigido aos sectores transaccionáveis – sectores cujos ganhos provêm da venda dos seus produtos e serviços no estrangeiro”.
Aumentos de competitividade e exportações são a única forma de garantir um crescimento sustentável que permita conter os principais riscos que afectam a economia portuguesa: o elevado desemprego e endividamento.
Na mesma análise Lall evidencia que “o desemprego continua elevado, principalmente entre os jovens e os desempregados de longa data”, que a “dívida das empresas públicas e das empresas privadas não financeiras – de quase 129% e 255% do PIB, respetivamente – continua a ser muito elevada”. Perante isto “é evidente que será necessário uma consolidação orçamental ainda maior e a desalavancagem do sector privado”, a que se deve juntar “um crescimento elevado e sustentado”.
O chefe de missão do FMI considera que “Não há dúvida que Portugal registrou progressos notáveis nos últimos três anos” e que “as autoridades estiveram à altura da situação”, implementado reformas cujo resultado “parece ter tranquilizado os investidores do mercado obrigacionista estrangeiro e as taxas dos títulos públicos atingiram o seu nível mais baixo desde Abril de 2010”. Agora falta "completar o trabalho", o título que Lall deu ao seu post.
Ao contrário do que aconteceu no passado Lall não fará uma conferência de imprensa para apresentar os resultados da avaliação, pois já está a caminho de Lisboa para a 11ª avaliação que começa amanhã, explicou fonte oficial do FMI.