Em períodos de grande tensão, a música portuguesa reage e denuncia. É isso o que está a acontecer e foi isso o que aconteceu há mais de cinquenta anos, sobretudo em 1971, o ano que mudou a música popular. No Château d’Hérouville, nos subúrbios de Paris, eram gravados os álbuns icónicos de José Afonso, José Mário Branco e Sérgio Godinho. Mas a revolução acontecia também noutros territórios musicais, não raras vezes de costas voltadas entre si. A chamada música de intervenção assumia-se contra o dito nacional-cançonetismo, contra o folclore, mas também contra o rock - a "canção do consumismo". "Foram poucos os que ouviram as canções revolucionárias do Quarteto 1111, que poderia ter introduzido com sucesso o rock na nova conceção da música popular portuguesa. É um simples acaso o José Cid não ser um símbolo de Abril", diz Luís de Freitas Branco, autor do livro "A Revolução Antes da Revolução". "Devemos ter uma visão muito mais ampla da música portuguesa nestes 50 anos de Abril. É importante falar das mulheres do canto de intervenção, dos músicos africanos, do jazz e do rock", sublinha.