Notícia
Lindo, inteligente e saboroso
Não, não é um actor de cinema ou de um modelo. É só o Cozinha da Clara – um espaço marcante na restauração no Douro.
10 de Junho de 2017 às 13:00
A Quinta de La Rosa tem, no Douro, vinhas daquelas que puxam pela nossa imaginação para percebermos como foi possível juntar arte de construção com séculos e beleza a rodos (os patamares da vinha do Vale do Inferno). Tem vinhos com fama, em particular desde o consulado do enólogo Jorge Moreira. Tem uma unidade hoteleira de charme. Tem uma loja de venda de vinhos que é uma jóia de arquitectura contemporânea no Pinhão. E tem uma história tão rica que inspiraria gente como Jane Austen.
Assim sendo, o que faltava nesta quinta? Simples. Um restaurante que a dignidade do Douro exige. Como se chama? Cozinha da Clara. E porquê? Porque Sophia Bergqvist, actual dona e gerente da Quinta de La Rosa, quis homenagear a sua avó Claire Feuerheerd, a quem foi oferecida a propriedade como presente de baptismo, em 1906.
No Douro, existem três ou quatro restaurantes de cozinha de autor recomendáveis, um punhado de casas tradicionais que mantêm sabores reconfortantes e, nalgumas quintas vinhateiras, mulheres que nunca passaram por qualquer escola de cozinha, mas que confeccionam como chefes encartados, por vezes donas de receitas únicas.
Face a isto e atendendo à procura turística que o Douro tem registado, é mais do que óbvio que novos restaurantes têm, quando bem planeados, um futuro promissor. Ora, o Cozinha da Clara é um espaço lindo, inteligente, saboroso e acessível em termos de preço.
Vamos por partes. A concepção do Cozinha da Clara e da loja e sala de prova dos vinhos da La Rosa estiveram a cargo do arquitecto António Belém Lima. Os espaços são peças que deixam em silêncio qualquer ser ignorante em matéria de arquitectura. Já na adega Alves de Sousa (a primeira que este homem de Vila Real construiu) tinha sentido a mesma sensação. Belém Lima cria espaços que nos obrigam a reflectir. O que é o Douro? É beleza humanizada. É espanto. É luz. E é silêncio. Pois bem. Belém Lima constrói espaços onde estes elementos do Douro nos chegam de surpresa e através de janelões estrategicamente abertos, como se fossem fotografias apontadas a um determinado corte específico do território. Do centro do Pinhão até à Quinta de La Rosa, os nossos olhos dispersam-se pela paisagem em grande angular. Quando entramos na loja ou no restaurante, essa mesma paisagem é-nos servida em fatias. E assim ficamos em silêncio a contemplá-las. Parece um exercício de provocação.
O meu amigo Abílio Tavares da Silva (Quinta do Foz Torto) já me tinha realçado mais do que uma vez a erudição de Belém Lima. Generoso como é, pensei que seriam exageros do Abílio. Qual quê. Se o Abílio pecou foi por defeito. Uma rápida conversa há dias com Belém Lima foi um jogo eloquente que passou por diferentes áreas científicas - foi à fotografia, passou pelas ancestrais técnicas de encadernação de livros na Alemanha ou a arte mimética de fazer papel no Japão. Um tipo sente-se pequeno.
Quanto à questão da inteligência, ela é para aqui chamada porque Sophia Bergqvist - ao contrário do que acontece na maioria dos espaços de quinta do Douro - não criou um restaurante para promover em exclusivo os seus vinhos. Sim, sabe que o espaço é importante para as finanças da La Rosa, mas permite que outros produtores da região possam levar para Cozinha da Clara os seus vinhos para apresentações com diferentes operadores, não cobrando qualquer taxa de rolha. Só pagam a comida. Ora, isto merece o nosso aplauso.
Por fim - e já agora -, a comida, que está a cargo de Pedro Cardoso, na cozinha, e Pedro Esteves, na sala. É uma equipa muito jovem e com experiência adquirida numa unidade de hotelaria de luxo da região. Uma única refeição feita no Cozinha da Clara deu para perceber que o jovem cozinheiro vai querer explorar produtores regionais e sazonais, mas com toque de autor e técnicas contemporâneas, facilmente compreendidas pelos turistas instalados na Quinta. Ficaram-me na memória umas chamuças de sardinha e uma caldeirada de corvina. A ideia aqui é fazer coisas contemporâneas e, claro, recuperar algum receituário que muito agradava à avó Clara.
Em matéria de vinhos, há muito por onde escolher. Parece que ainda tenho na boca os sabores de um branco La Rosa Tim Grande Reserva 2014 (homenagem ao pai de Sophia) e o Vale do Inferno Grande Reserva 2014. Extraordinários.
De maneira que há inúmeras razões para uma visita ao Douro para comer, provar e comprar vinhos e, claro, dormir em quartos com o Douro a entrar pelas janelas. Tudo isso em grande estilo.
Assim sendo, o que faltava nesta quinta? Simples. Um restaurante que a dignidade do Douro exige. Como se chama? Cozinha da Clara. E porquê? Porque Sophia Bergqvist, actual dona e gerente da Quinta de La Rosa, quis homenagear a sua avó Claire Feuerheerd, a quem foi oferecida a propriedade como presente de baptismo, em 1906.
Face a isto e atendendo à procura turística que o Douro tem registado, é mais do que óbvio que novos restaurantes têm, quando bem planeados, um futuro promissor. Ora, o Cozinha da Clara é um espaço lindo, inteligente, saboroso e acessível em termos de preço.
Vamos por partes. A concepção do Cozinha da Clara e da loja e sala de prova dos vinhos da La Rosa estiveram a cargo do arquitecto António Belém Lima. Os espaços são peças que deixam em silêncio qualquer ser ignorante em matéria de arquitectura. Já na adega Alves de Sousa (a primeira que este homem de Vila Real construiu) tinha sentido a mesma sensação. Belém Lima cria espaços que nos obrigam a reflectir. O que é o Douro? É beleza humanizada. É espanto. É luz. E é silêncio. Pois bem. Belém Lima constrói espaços onde estes elementos do Douro nos chegam de surpresa e através de janelões estrategicamente abertos, como se fossem fotografias apontadas a um determinado corte específico do território. Do centro do Pinhão até à Quinta de La Rosa, os nossos olhos dispersam-se pela paisagem em grande angular. Quando entramos na loja ou no restaurante, essa mesma paisagem é-nos servida em fatias. E assim ficamos em silêncio a contemplá-las. Parece um exercício de provocação.
O meu amigo Abílio Tavares da Silva (Quinta do Foz Torto) já me tinha realçado mais do que uma vez a erudição de Belém Lima. Generoso como é, pensei que seriam exageros do Abílio. Qual quê. Se o Abílio pecou foi por defeito. Uma rápida conversa há dias com Belém Lima foi um jogo eloquente que passou por diferentes áreas científicas - foi à fotografia, passou pelas ancestrais técnicas de encadernação de livros na Alemanha ou a arte mimética de fazer papel no Japão. Um tipo sente-se pequeno.
Quanto à questão da inteligência, ela é para aqui chamada porque Sophia Bergqvist - ao contrário do que acontece na maioria dos espaços de quinta do Douro - não criou um restaurante para promover em exclusivo os seus vinhos. Sim, sabe que o espaço é importante para as finanças da La Rosa, mas permite que outros produtores da região possam levar para Cozinha da Clara os seus vinhos para apresentações com diferentes operadores, não cobrando qualquer taxa de rolha. Só pagam a comida. Ora, isto merece o nosso aplauso.
Por fim - e já agora -, a comida, que está a cargo de Pedro Cardoso, na cozinha, e Pedro Esteves, na sala. É uma equipa muito jovem e com experiência adquirida numa unidade de hotelaria de luxo da região. Uma única refeição feita no Cozinha da Clara deu para perceber que o jovem cozinheiro vai querer explorar produtores regionais e sazonais, mas com toque de autor e técnicas contemporâneas, facilmente compreendidas pelos turistas instalados na Quinta. Ficaram-me na memória umas chamuças de sardinha e uma caldeirada de corvina. A ideia aqui é fazer coisas contemporâneas e, claro, recuperar algum receituário que muito agradava à avó Clara.
Em matéria de vinhos, há muito por onde escolher. Parece que ainda tenho na boca os sabores de um branco La Rosa Tim Grande Reserva 2014 (homenagem ao pai de Sophia) e o Vale do Inferno Grande Reserva 2014. Extraordinários.
De maneira que há inúmeras razões para uma visita ao Douro para comer, provar e comprar vinhos e, claro, dormir em quartos com o Douro a entrar pelas janelas. Tudo isso em grande estilo.