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Pedro Norton: A melhor forma de atravessar as sombras

O Mundo de Ontem é, simultaneamente, o último livro escrito por Stefan Zweig e a sua obra mais pessoal.

O Mundo de Ontem

O Mundo de Ontem
O Mundo de Ontem
Stefan Zweig
Edição: Assírio & Alvim

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Virtual Competition

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The Promise and Perils of the Algorithm-Driven Economy
Ariel Ezrachi e Maurice E. Stucke
Edição: Ed. Harvard University Press

Livro escolhido por Margarida Matos Rosa, Presidente da Autoridade da Concorrência

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O Homem que plantava árvores

O Homem que plantava árvores

Autor: Jean Giono
Edição: Alma dos livros

Livro escolhido por Miguel Maya, CEO do BCP

 
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16 de Abril de 2020 às 11:30
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"Quando tento encontrar uma fórmula prática que descreva a época na qual cresci (...) penso ter encontrado a mais precisa se disser: foi o período áureo da segurança. Tudo na nossa democracia (...) parecia construído para durar para sempre."

O Mundo de Ontem é, simultaneamente, o último livro escrito por Stefan Zweig e a sua obra mais pessoal. Profundamente nostálgica, esta autobiografia póstuma (para parafrasear outro escritor da minha predileção) é, muito mais do que uma revisitação fascinante da vida confortável da burguesia austríaca no início do século XX, uma reflexão sempre atual sobre a fragilidade das nossas conquistas civilizacionais.

A sociedade pacata, ordeira, pacífica, segura, que olhava despreocupadamente o futuro com a certeza geométrica das grandes narrativas lineares, que Zweig ressuscita com brilho na primeira parte da sua narrativa, iria começar a desabar, perante a incredulidade de todos, no dia 14 de junho de 1914. Para todos os efeitos práticos, já não existia quatro anos passados. O mundo eternamente tranquilo de que fala Zweig caiu com o atentado de Sarajevo, foi desmembrado em 1918, viu a chegada de ajuda financeira externa para evitar a bancarrota em 1922, viveu a instabilidade política e a guerra civil para acabar oficialmente no "anschluss" de 1938. Sendo que os horrores da Segunda Guerra eram ainda um outro impensável futuro que se haveria de fazer.

Em tempos de sombras, em que o chão e muitas certezas parecem de novo desabar sobre os nossos pés, regresso, uma vez mais, a este clássico. Não porque ande com humores de Cassandra ou porque sucumba à desesperança, o que não é seguramente o caso. Sei bem, sabemos todos, que ao Mundo de Ontem de Zweig, ao horror e à guerra que lhe sobrevieram, acabaria por se seguir um dos mais longos períodos de paz e prosperidade que a Europa conheceu em toda a história.

Também nós haveremos de atravessar as sombras. Mas a melhor forma de o fazer, a melhor forma de cuidar do futuro, é desconfiar das certezas imutáveis do presente e aprender com os erros e desventuras do passado.

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