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Um instrumento para defesa da música

No árido e desértico ecossistema do património musical português surge agora um livro precioso para investidores preocupados na obtenção de valor e na preservação da memória.

Mariline Alves
26 de Agosto de 2017 às 09:00
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Sabemos, por experiência pessoal, profissional e diária, o quanto é conflituosa a relação portuguesa com a memória. Assim, num tempo que se estende já por séculos, esta relação é continuamente desenhada num espaço labiríntico, por vezes por vontade directa de destruição das referências, outras vezes por desprezo total das mesmas referências, demasiadas vezes por desleixo que nunca será compreendido. A inexistência de memória documentada, ou pelo menos referenciada, é uma tragédia para a nossa história e a nossa identidade, mas tem igualmente uma interferência directa no campo que nos ocupa, o do investimento em bens culturais.

De facto, e para reduzir uma questão rica ao essencial, sem referências não há valor, e abertas ficam as portas para a manipulação do mercado. Uma área onde a falta de informação sólida e acessível se faz mais sentir é o da música, erudita e popular, portuguesa, apesar dos esforços heróicos de alguns investigadores e amantes, que têm vindo a tentar recuperar e mapear o património. Nesta linha passam a estar agora a Antena 3 e a editora Afrontamento, que acabam de editar "Cento e Onze Discos Portugueses - A Música na Rádio Portuguesa", com coordenação de Henrique Amaro e Jorge Guerra e Paz.


A inexistência de memória documentada, ou pelo menos referenciada, é uma tragédia para a nossa história e a nossa identidade.


O racional estruturante do livro é o de alinhar e partilhar os discos fundamentais da música portuguesa nos últimos oitenta anos, tendo como referência o facto de terem sido tocados na rádio pública. Feito o inventário, os coordenadores desafiaram um enorme grupo de especialistas, de jornalistas a melómanos, a escolherem um disco, a investiga - lo e a escrever sobre ele. O elenco é verdadeiramente extenso e ecuménico, abrangendo todos os géneros da música nacional, do popular ao erudito, passando pelo jazz, pelo rock e pelas milhentas estirpes de pop, o que faz com que haja entradas sobre Bernardo Sasseti e António Pinho Vargas, mas também sobre Max ou Os Conchas.

O grande valor deste elenco histórico para o investidor, como também para o coleccionador, claro, é o de receber num só suporte a informação de que precisa para decidir. De facto, do livro recebemos informação factual, como a data de publicação de um álbum, informação visual, as capas dos discos, mas também a preciosa informação sobre os locais de gravação, que permitirão, talvez, chegar aos bens mais procurados neste tema, as "masters" originais de gravação. E, ao mesmo tempo, o livro contribui para a identificação do património, isto é a manutenção da memória.


Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.  


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