Notícia
Das utopias aos populismos
Jaime Nogueira Pinto, partindo de diferentes utopias sobre o futuro do homem e dos sistemas políticos, convoca-nos para uma discussão sobre os grandes desafios de hoje.
Jaime Nogueira Pinto
Bárbaros e Iluminados
D. Quixote, 435 páginas, 2017
"Utopia", de Thomas More, tem pouco mais de 500 anos. Publicado em 1516 em Leuven, é a foz de três correntes: o humanismo renascentista, a revolução tipográfica e aquilo que muitas vezes designamos como a "idade das descobertas", da Ásia às Américas. Publicado quase na mesma altura que "O Príncipe", de Maquiavel, ficou um pouco na sombra dele, mas ambos acabam por ser determinantes no pensamento político dos séculos seguintes.
"Utopia" criou um Estado ideal, um lugar, em vez de um agregado de princípios. Não admira que neste seu novo, e sólido, ensaio, Jaime Nogueira Pinto recupere a obra de More. Como escreve: "A sua Utopia surgia na Europa no tempo em que as dinastias ganhavam o monopólio do poder, criando Estados absolutos que acabavam com feudalidades e aspirações periféricas, ao mesmo tempo que os reis e as nascentes burguesias de Portugal, Espanha, da Grã-Bretanha e de França inauguravam impérios marítimos e comerciais além-mar." Um novo mundo nascia, das ideias à sua concretização. Isso acaba por nos conduzir ao fulcro de "Bárbaros e Iluminados - Populismo e utopia no século XXI": a evolução das grandes utopias até às que acabaram por moldar os séculos XIX e XX. Chegados aí, e à sua falência, defrontamo-nos com tudo aquilo que são os desafios colocados a partir das crises económicas da década de 1970, que acabam por redefinir as utopias e o próprio papel do Estado e do discurso político. Quando Fukuyama decretou "o fim da história", após a queda do Muro de Berlim, julgou-se, erradamente, que a democracia aliada à economia de mercado seriam os pilares dos anos seguintes.
Mas, após o 11 de Setembro, novas linhas de fractura ficaram evidentes. A globalização financeira (e, de algum modo, das ideias) não tornou hegemónico um pensamento único. Diferentes formas de populismo foram surgindo, colocando em causa o poder das elites habituadas a governar no sossego do jogo democrático. E é assim que chegamos à vitória do populismo norte-americano, identificado com Donald Trump.
Jaime Nogueira Pinto é claro: "A vitória de Donald Trump, a 8 de Novembro de 2016, foi uma espécie de queda da Bastilha ou do Palácio de Inverno para os consensos de respeitabilidade e de equilíbrio político-ideológico que dominavam o mundo euro-americano desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Era a entrada dos bárbaros no coração de Atenas e de Roma". No fundo, assiste-se a uma resistência, de características mais nacionalistas (e em busca de uma identidade), face a uma globalização que deixou a maioria para trás e que é incapaz, como utopia, de responder aos desafios de partes substanciais das populações. Entre os "iluminados" e os "bárbaros" que estão aí à porta (ou já entraram no castelo), Jaime Nogueira Pinto propõe-nos uma reflexão muito estimulante sobre os novos tempos. Tendo como ponto de partida as utopias dos últimos 500 anos.
Bárbaros e Iluminados
D. Quixote, 435 páginas, 2017
"Utopia", de Thomas More, tem pouco mais de 500 anos. Publicado em 1516 em Leuven, é a foz de três correntes: o humanismo renascentista, a revolução tipográfica e aquilo que muitas vezes designamos como a "idade das descobertas", da Ásia às Américas. Publicado quase na mesma altura que "O Príncipe", de Maquiavel, ficou um pouco na sombra dele, mas ambos acabam por ser determinantes no pensamento político dos séculos seguintes.
Mas, após o 11 de Setembro, novas linhas de fractura ficaram evidentes. A globalização financeira (e, de algum modo, das ideias) não tornou hegemónico um pensamento único. Diferentes formas de populismo foram surgindo, colocando em causa o poder das elites habituadas a governar no sossego do jogo democrático. E é assim que chegamos à vitória do populismo norte-americano, identificado com Donald Trump.
Jaime Nogueira Pinto é claro: "A vitória de Donald Trump, a 8 de Novembro de 2016, foi uma espécie de queda da Bastilha ou do Palácio de Inverno para os consensos de respeitabilidade e de equilíbrio político-ideológico que dominavam o mundo euro-americano desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Era a entrada dos bárbaros no coração de Atenas e de Roma". No fundo, assiste-se a uma resistência, de características mais nacionalistas (e em busca de uma identidade), face a uma globalização que deixou a maioria para trás e que é incapaz, como utopia, de responder aos desafios de partes substanciais das populações. Entre os "iluminados" e os "bárbaros" que estão aí à porta (ou já entraram no castelo), Jaime Nogueira Pinto propõe-nos uma reflexão muito estimulante sobre os novos tempos. Tendo como ponto de partida as utopias dos últimos 500 anos.