Notícia
Clube de amigos
Amos Oz sempre tentou concretizar uma utopia saudável: conseguir a paz e o encontro entre diferentes seres humanos no Médio Oriente. Este livro, passado num “kibbutz”, é um exemplo.
Amos Oz
Entre amigos
Dom Quixote,
174 páginas, 2017
Amos Oz é o mais reconhecido escritor israelita. E, como muitos sabem, é um liberal que sempre defendeu a paz entre israelitas e palestinianos. A sua obra fala por si: escritor seguro foi, ao longo dos anos, transpondo a sua própria vida para as novelas que foi escrevendo. Muita da sua obra está relacionada não só com a sua vida, mas também com a criação e o desenvolvimento do estado de Israel. Amos foi viver, com 15 anos, para um "kibbutz". A tragédia cruza-se aqui com a esperança de uma vida diferente e, sobretudo, conduz a uma independência solitária (e solidária) que fará sempre parte da vida de Amos Oz.
O seu crescimento faz-se paralelamente ao do estado de Israel e isso acaba por ser extremamente simbólico neste livro. As memórias aqui transmitidas são vivas e coloridas, mesmo quando as imagens reflectem um universo sombrio. E essa é a grande capacidade de Oz para nos conquistar, contando-nos a sua própria história e a do país onde cresceu e onde vive. E que sempre questionou tudo o que se move à sua volta.
"Entre Amigos" faz parte dessa ligação do escritor à construção de uma pátria. E à própria visão utópica da recriação do jardim prometido. Algo que, subsequentemente, seria a influência para muitos dos que quiseram criar "kibbutzs". Ao juntar-se a um, no centro de Israel, Amos mudou o seu nome de Klausner para Oz ("força" em hebreu). Foi ali que viveu com a sua família até 1986, até que teve de se mudar por causa dos problemas de asma do filho. Oz sempre disse que viver num "kibbutz" era uma forma radical de existir, ao contrário do que seria estar em Telavive. Um "kibbutz" permitia concretizar os seus sonhos românticos e utópicos. E onde era possível viver entre amigos, ou seja, pessoas com paciência e compaixão, como ele. Só que a utopia não se sustenta só com sonhos. Oz sabe que nem todas as sociedades felizes que foram imaginadas tiveram finais felizes. A maioria até não teve. Todos os pecados acabam por surgir lá. E "Entre Amigos" é uma excelente crónica de uma dessas histórias bem-intencionadas que uma
comunidade de almas (quase) perdidas leva a cabo.
Acaba por ser uma novela com oito histórias que se vão cruzando. Acaba por ser um retrato notável desse mundo de sonhos, como é visível desde logo na primeira história, onde Tsvi Provizor, um homem solitário, se encarrega dos jardins do "kibbutz", mas que está sempre com atenção às notícias de jornais e rádios, especialmente as mais trágicas. E não deixamos de encontrar um velho sobrevivente do Holocausto que acredita que é possível haver um mundo sem estados nacionais e fronteiras. Onde a língua mundial, o esperanto, poderia ser o encontro de povos diferentes. O livro é também um reflexo daquilo em que Oz acredita: um Médio Oriente onde possa existir o compromisso e não o conflito, o que começaria por cada lado aceitar a identidade dos outros. Só que as dificuldades de viver "entre amigos" são enormes.
Entre amigos
Dom Quixote,
174 páginas, 2017
Amos Oz é o mais reconhecido escritor israelita. E, como muitos sabem, é um liberal que sempre defendeu a paz entre israelitas e palestinianos. A sua obra fala por si: escritor seguro foi, ao longo dos anos, transpondo a sua própria vida para as novelas que foi escrevendo. Muita da sua obra está relacionada não só com a sua vida, mas também com a criação e o desenvolvimento do estado de Israel. Amos foi viver, com 15 anos, para um "kibbutz". A tragédia cruza-se aqui com a esperança de uma vida diferente e, sobretudo, conduz a uma independência solitária (e solidária) que fará sempre parte da vida de Amos Oz.
"Entre Amigos" faz parte dessa ligação do escritor à construção de uma pátria. E à própria visão utópica da recriação do jardim prometido. Algo que, subsequentemente, seria a influência para muitos dos que quiseram criar "kibbutzs". Ao juntar-se a um, no centro de Israel, Amos mudou o seu nome de Klausner para Oz ("força" em hebreu). Foi ali que viveu com a sua família até 1986, até que teve de se mudar por causa dos problemas de asma do filho. Oz sempre disse que viver num "kibbutz" era uma forma radical de existir, ao contrário do que seria estar em Telavive. Um "kibbutz" permitia concretizar os seus sonhos românticos e utópicos. E onde era possível viver entre amigos, ou seja, pessoas com paciência e compaixão, como ele. Só que a utopia não se sustenta só com sonhos. Oz sabe que nem todas as sociedades felizes que foram imaginadas tiveram finais felizes. A maioria até não teve. Todos os pecados acabam por surgir lá. E "Entre Amigos" é uma excelente crónica de uma dessas histórias bem-intencionadas que uma
comunidade de almas (quase) perdidas leva a cabo.
Acaba por ser uma novela com oito histórias que se vão cruzando. Acaba por ser um retrato notável desse mundo de sonhos, como é visível desde logo na primeira história, onde Tsvi Provizor, um homem solitário, se encarrega dos jardins do "kibbutz", mas que está sempre com atenção às notícias de jornais e rádios, especialmente as mais trágicas. E não deixamos de encontrar um velho sobrevivente do Holocausto que acredita que é possível haver um mundo sem estados nacionais e fronteiras. Onde a língua mundial, o esperanto, poderia ser o encontro de povos diferentes. O livro é também um reflexo daquilo em que Oz acredita: um Médio Oriente onde possa existir o compromisso e não o conflito, o que começaria por cada lado aceitar a identidade dos outros. Só que as dificuldades de viver "entre amigos" são enormes.