Este poderá ser o ano mais difícil da governação de Xi Jinping. Um declínio dos resultados económicos e uma agitação social crescente podem aumentar as críticas entre os seus opositores dentro do Partido Comunista Chinês. O líder chinês fará tudo para salvar a face.
A China prepara-se para celebrar o Novo Ano Lunar, que começa a 29 de janeiro, sob o signo da serpente. Este animal representa a sabedoria, o conhecimento, a intuição e a criatividade. Mas 2025 será sobretudo um ano em que a liderança de Xi Jinping será posta à prova. O Presidente chinês tem desafios difíceis para enfrentar dentro e fora do país. A política externa de Trump será um teste à resistência da economia do gigante asiático, mas a sociedade chinesa também lhe está a dar motivos de preocupação. Com uma elevada taxa de desemprego nos jovens, uma crise imobiliária que se arrasta e uma dívida das províncias, o seu maior perigo pode mesmo vir de uma população descontente e de opositores dentro do próprio Partido Comunista Chinês.
Por estes dias, milhões de chineses viajam até às suas terras de origem para festejarem o Ano Novo Lunar com a família. As festividades começam a 29 de janeiro sob o signo da serpente, que representa estratégia, sabedoria, intuição, versatilidade e criatividade. Curiosamente, "Xi Jinping também nasceu num ano da serpente, tal como Mao Tsé-Tung", diz António Caeiro, um repórter que acompanha a vida na China há mais de 30 anos e que viveu 19 anos em Pequim. Segundo a superstição popular chinesa, "as pessoas têm de ser especialmente cuidadosas nos anos do seu signo", explica.
Cautela será, de facto, uma palavra-chave para o Presidente Xi Jinping, que tem muitos desafios pela frente neste ano 2025. Desde logo, terá de "conviver" com a nova administração Trump, que já avisou que não vai facilitar a vida às empresas chinesas, cobrando-lhes tarifas aduaneiras de 60%, para venderem os seus produtos no mercado americano.
Um sinal de que haverá uma "política externa de linha dura" em relação à China é a "confirmação pelo Senado, por unanimidade, de Marco Rubio enquanto secretário de Estado", diz Raquel Vaz Pinto, especialista em Estudos Asiáticos e História das Relações Internacionais. O chefe da diplomacia americana defendeu, na sua audição perante o comité do Senado, que a China é "o adversário mais poderoso e perigoso que os EUA tiveram de enfrentar" na história.
O vice-primeiro-ministro da China, Ding Xuexiang, afirmou esta semana no Fórum Económico Mundial, em Davos, que "o protecionismo não leva a lugar nenhum" e que "não há vencedores numa guerra comercial". O governante chinês defendeu ainda que o multilateralismo é "o caminho certo para a manutenção da paz mundial e para a promoção do desenvolvimento humano".
"Acho que Trump e Xi Jinping percebem que ou se entendem ou vão para a guerra. E, na guerra, ninguém ganha", diz António Caeiro.
O jornalista explica que a política chinesa "é bastante prudente e procura realçar os pontos de cooperação, de modo "a valorizar as áreas em que os dois países se podem entender".
Mas o antagonismo não nasceu agora. "A guerra comercial foi desencadeada no primeiro mandato de Donald Trump e prosseguiu depois com Biden, só que isso não impediu que o comércio bilateral entre a China e os Estados Unidos tenha aumentado quase 5% em 2024", com um saldo "largamente favorável à China", diz. Mais uma razão para Trump estar irritado.
As pressões internas do Imperador
Xi Jinping tem muito também com que se preocupar dentro de fronteiras. A economia ainda não recuperou para níveis antes da pandemia. Há um enfraquecimento do consumo interno e uma crise que se arrasta no setor imobiliário. Ding Xuexiang não escondeu em Davos que o regime chinês está a braços com alguns problemas internos. Chamou-lhe "dores temporárias provocadas pela própria reestruturação da economia chinesa".
Se a economia fracassar, é todo o projeto político de Xi Jinping que fica em causa. E, assim, a sua liderança perderá a legitimidade e abre espaço para os críticos dentro do Partido Comunista Chinês.
Antes da pandemia, o líder chinês estava a tentar resolver a questão da bolha imobiliária e a reduzir a dependência das exportações "espicaçando" o mercado interno. Com a covid-19, ambas as coisas falharam, refere Raquel Vaz Pinto, e destaparam problemas sociais.