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Uma viagem pelos vinhos mais caros feitos em Portugal

Oferecer uma garrafa de vinho é sempre um belo gesto. E não só no Natal. Mas há algumas que ficam fora do alcance do comum dos mortais – ou que, pelo menos, exigem algum planeamento da despesa. Quais são e que histórias nos contam os vinhos mais caros de Portugal
Luís Francisco 25 de Dezembro de 2021 às 11:00

Em meados do século XIX, o mundo da viticultura enfrentou uma catástrofe sem precedentes: a filoxera, um pequeno inseto que viajou da América para a Europa e devastou vinhas um pouco por todo o lado. Após décadas de desespero, percebeu-se que as plantas nativas do Novo Continente resistiam à praga e iniciou-se o processo, que ainda hoje é norma, de enxertar as variedades europeias em pés de vinha americana. Mas isso tornou incrivelmente raras as plantas de "vitis vinífera" europeias originais. Na Quinta do Noval, elas existem: foram plantadas em 1924 sem enxerto e, sete anos depois, deram origem a um Porto mítico, o Quinta do Noval Nacional Vintage 1931. Começou aí a carreira do vinho português mais caro.

 

O Noval Nacional custa à volta de 1000 euros por garrafa no seu ano de lançamento, mas as colheitas mais cobiçadas alcançam valores bem acima desse valor. O facto de ser feito com uvas provenientes de uma parcela que é a réplica perfeita da vinha do Douro pré-filoxérica atrai desde logo as atenções, por ser um privilégio raro. Mas há outro fator – para lá da qualidade intrínseca do vinho, bem entendido – que valoriza o produto ao ponto de o tornar objeto de culto: a raridade do vinho. A vinha do Noval Nacional tem apenas dois hectares e a produção anual anda à volta das 200 a 250 caixas de vinho – são 12 garrafas de 0,75l por caixa.



A Quinta do Noval produz outros Portos, mas a chancela "Nacional" apenas é aplicada aos vinhos provenientes da pequena parcela de vinha plantada em pé-franco (ou seja, sem enxerto em "vitis" americana) a partir de uma outra vinha que resistira à filoxera. A casta dominante é a Touriga Franca, mas tem também Tinto Cão, Touriga Nacional, Sousão e Tinta Roriz.

 

E são as uvas que fazem toda a diferença, explica Christian Seely, diretor-geral, no site da quinta. "O que faz a excelência de um vinho é a qualidade das uvas, o caráter da colheita e o lugar de onde provêm. Estes aspetos são de longe bem mais importantes do que qualquer coisa que nós possamos fazer, quer na vinha quer na adega. O Nacional é vinificado da mesma forma que as restantes uvas da vinha da Quinta do Noval, com pisa a pé em lagar de pedra. O resultado é sempre algo muito diferente. O Nacional Vintage é o que é por causa das uvas e da sua parcela de origem, não por causa de um processo especial de vinificação. O seu terroir forja a sua grandeza."

 

Mas fazer um grande vinho não tem receita única. E se o Noval Nacional é um vinho de parcela, de uma vinha velha em pé-franco, outro grande ícone da vitivinicultura nacional é produto da mistura de uvas de várias proveniências, mas sempre com uma filosofia bem vincada. Falamos do Barca Velha, o vinho tranquilo (expressão que se usa para marcar a diferença face aos vinhos fortificados, como os Porto, os Madeira ou os Moscatel de Setúbal) mais famoso de Portugal. E o mais caro, também.

 

O ícone Barca Velha

 

O conceito do Barca Velha foi criado por João Nicolau de Almeida, e o seu sucessor na enologia, Luís Sottomayor, explica a "receita": "É feito com uvas da Quinta da Leda e de outras propriedades em zonas altas, todas no Douro Superior [o terço mais a Leste da região; as outras são o Baixo Corgo, a Oeste; e o Cima Corgo, na zona intermédia] e adquiridas pela Sogrape exatamente para esse efeito. Trata-se de fazer o casamento da estrutura e taninos que encontramos na primeira, situada em cotas baixas, e da acidez e frescura das segundas, nas terras altas. O resultado é um vinho com elegância e harmonia – e com potencial de envelhecimento."

 

Como todas as coisas boas da vida, o Barca Velha faz-se esperar. "Não há uma regra do tempo para o vinho sair. Sai quando consideramos que está em condições para ser consumido. No caso do 2011, foram dez anos", explica o enólogo da Sogrape, a empresa que produz o vinho tranquilo mais icónico de Portugal. E o lançamento de um Barca Velha é sempre um acontecimento especial – "Desde a primeira edição, em 1952, só o fizemos por 20 vezes." A mais recente tinha sido a de 2008. Em 2021, portanto, tivemos direito a provar a colheita do ano mítico de 2011, considerado um dos melhores de sempre na região. Motivo mais do que suficiente para o mercado reagir de forma entusiástica e os preços subirem para perto dos 900 euros por garrafa. Foram feitas 30.000.

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