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Uma deficiente exploração do valor do nosso património

A Unesco deu-nos, mais uma vez, a sua distinção de património imaterial da humanidade, mas estamos a fazer muito pouco para valorizar a distinção e obter riqueza com esta.

10 de Dezembro de 2016 às 12:30
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Os mais atentos, ou os mais dados à cada vez menos valorizada arte da reflexão, terão notado, nestes últimos dias, que a riqueza do nosso país não corresponde de modo algum à extensão da sua geografia. Com efeito, para um tamanho tão reduzido, somos um dos países mais ricos do mundo, se o critério for o da Unesco, mais especificamente os seus parâmetros de atribuição de património imaterial da humanidade a uma cultura ou a uma prática.

De facto, na semana passada, recebemos a distinção para mais uma cultura, a da falcoaria, e uma prática, a cerâmica em barro preto de Bisalhães, no concelho de Vila Real. Assim, neste momento, além da cerâmica e do barro preto, temos distinguido com a classificação de património imaterial o cante alentejano, o fado, a arte chocalheira, do fabrico de chocalhos, e a dieta mediterrânica. Tudo isto entre 2011 e a data já referida. É realmente uma riqueza enorme, o que torna ainda maior a tristeza a registar, a de que não temos aproveitado muito o valor que as atribuições libertam.

Na verdade, a exploração do valor adquirido até agora, em termos gerais, tem sido a mais fácil e imediata, isto é, a ligada à comunicação para efeitos de turismo, especialmente quando entra em questão o fado e o cante alentejano. Não é que a linha estratégica seja negativa, porque gera receitas, mas é francamente insuficiente. Em segundo lugar, o valor adquirido tem gerado, igualmente, tentativas de revitalização e reabilitação das práticas e do património, o que, obviamente, também é muito positivo.

Mas, sem dúvida alguma, estamos muito afastados do rumo estratégico fundamental. Antes de tudo o mais, temos de ter sempre presente que não há património sem conhecimento. O que isto implica é saber quais os estudos e investigações que existem sobre os "nossos" patrimónios imateriais, e promover a sua reunião numa plataforma acessível. Este reconhecimento é, em simultâneo, a rampa de lançamento para detectarmos o que não existe em termos de conhecimento, e desenvolver trabalho para eliminar esta falha. O racional aqui é muito simples: o património não existe, não tem valor, se os peritos e os investidores não tiverem instrumentos para o conhecer e para avaliar o valor intrínseco. A partir daqui, podemos então dar o passo essencial, que é o de inventariar e classificar os objectos que corporizam o nosso património imaterial.

Como facilmente se percebe, temos muito trabalho pela frente.

Uma referência de partida

A partir da inventariação referida no texto principal, é possível certificar os bens relacionados com o nosso património imaterial, tanto os existentes, como aqueles que se venham a produzir. O ponto essencial aqui é o de que é a existência de bens e de objectos que permite a presença e valorização do património. No caso das várias tipologias de património imaterial português, há muito por identificar e valorizar, das gravações originais de Amália aos utensílios usados na arte da falcoaria. Mas, recorde-se de novo, estes nada valem se não estiverem referenciados.



*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa. 


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