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Teatro: Aquele que não chega

Para o arranque da nova temporada de teatro, a proposta é um texto clássico. Beckett nos dias de hoje, com o rigor de sempre.

Bruno Simão
08 de Setembro de 2018 às 14:00
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À espera de Godot
A peça encenada por David Pereira Bastos está na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II de 15 de Setembro a 7 de Outubro. Parte depois para outras partes do país, a começar por Castelo Branco.


Para quem aprecia teatro, "À Espera de Godot" é uma referência incontornável um pouco por todo o mundo. Uma estrada, uma árvore, dois homens aguardam que chegue Godot. Quem é esta figura mítica, que se faz esperar sem nunca aparecer? Dele, sabemos pouco. Ficaremos nessa incerteza a cada nova representação.

Para David Pereira Bastos, que assume a encenação, este é um mergulho mais intenso na obra do dramaturgo irlandês, depois de experiências breves no passado enquanto actor e encenador. "Não é propriamente um regresso a um território de conforto", explica durante uma pausa nos ensaios.

O texto assume-se como elemento central e é seguido à risca, tal como Beckett queria. É preciso ler-lhe as entrelinhas, perceber-lhe as necessidades, os ritmos, as variações. No fundo, "ir ao encontro da partitura rítmica", sintetiza o encenador. É essa a proposta para o arranque da nova temporada no Teatro Nacional D. Maria II, num fim-de-semana de Entrada Livre, a 15 e 16 de Setembro.

Em Beckett, além do texto falado, há um outro que impera, mesmo que os espectadores não o ouçam: as didascálias. Quando as indicações de movimentos e gestos são tão precisas, "o que resta ao criador? Será que está lá mesmo tudo?". Há sempre margem para fazer diferente. Bruno Simão, David Pereira Bastos, Miguel Moreira e Rui M. Silva mostram como, sem esquecer uma nova componente plástica e visual.

O acto de esperar é, por muitas vezes, assumido como o protagonista quando se fala em "À Espera de Godot". Não aqui. "A espera é uma espécie de base, onde assentam outras temáticas", acredita David Pereira Bastos. Esse tempo que passa também toma lugar em palco, sobretudo no "cumprimento dos silêncios". As personagens não se movem. Mesmo depois de decidirem partir.


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