Há mais de 20 anos que a investigadora grega Sofia Vasilopoulou estuda as causas e as consequências do descontentamento político dos eleitores e como este é utilizado nas estratégias dos partidos para ganharem votos. Engana-se quem pensa que só os mais prejudicados pela globalização guardam ressentimentos e votam em protesto na extrema-direita porque perderam poder de compra. Também as regiões mais ricas da Europa se têm revelado bastiões destes partidos políticos. No fundo, diz a professora de política europeia no King’s College London, estes partidos estão a conseguir falar com vários públicos. E já não são só os homens, trabalhadores brancos mais velhos que são os seus "eleitores centrais". Pelo contrário, a faixa etárias dos jovens está a votar mais na extrema-direita em países como a Áustria, a Alemanha, nos Países Baixos e na Bélgica. Esse "é um fenómeno novo". O que acontece, explica Sofia Vasilopoulou, é que há diferentes padrões de descontentes que elegeram, por exemplo, Trump e que votam (cada vez mais) em Marine Le Pen, em França. A eleição de Trump poderá ter um efeito de contágio na Europa, porque "legitima muitas das suas ideias, que agora se tornam mais populares e aceitáveis", admite. Esta conversa com a investigadora aconteceu há uma semana, depois da sua palestra no Instituto de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa sobre "Desigualdades regionais e descontentamento político na Europa". Com a vitória de Trump, esta terça-feira, a investigadora respondeu a algumas perguntas por escrito para comentar o comportamento eleitoral dos americanos.
O que lhe parece que pesou mais na decisão dos americanos para escolherem Donald Trump para Presidente, outra vez? O medo do futuro ou não quererem uma mulher na Casa Branca?
É muito difícil atribuir a vitória de Trump a apenas um motivo. É uma combinação de política cultural e económica. Trump prometeu um futuro melhor: reduzir a inflação, impor tarifas e abordar a imigração.