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Relógios: O tempo da sorte

A indústria relojoeira, mesmo apoquentada pela crise chinesa e pela tentação dos smartwatches, continua a fazer modelos perenes.

15 de Outubro de 2016 às 17:00
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Aristóteles deixou muitas ideias fortes. E uma delas tinha que ver com o número 7: "Todas as acções humanas têm uma ou mais destas sete causas: a sorte, a natureza, as compulsões, o hábito, a razão, a paixão ou o desejo." Mas, claro, o número da sorte difere de latitude para latitude. No Oriente, onde muitos vislumbram o futuro económico, os chineses preferem o 8 ou o 9. Mas seja qual for o número da sorte ou o que ilumina o olhar de quem está no outro lado do mundo, o certo é que ninguém fica indiferente ao fascínio dos números.

Durante anos, o Oriente fascinou a indústria da relojoaria: foram os seus números da sorte. O crescimento da indústria foi inevitável e muito sustentada pelos mercados de Hong Kong e da China. Mas, no último par de anos, as medidas anticorrupção da nova administração chinesa de Xi Jinping tiveram um efeito sério nas vendas nesta zona do globo, originando uma retracção. A queda de vendas nos cinco meses do ano fiscal que terminaram em Agosto mostrou retracções da Richemont (a proprietária suíça de marcas como a Cartier ou a Montblanc), reflectindo o arrefecimento do mercado chinês e o panorama menos favorável em todo o mundo. Estes dados reflectem não apenas o sector dos relógios, mas também da joalharia (e, no caso, de outra marca com resultados mais fracos do que o esperado, a Hermès, dos acessórios de luxo).

Os dados disponíveis até este momento mostram que o sector do luxo deverá crescer este ano entre 0% e 2%, contra cerca de 6% no último ano. Ainda assim, têm existido boas notícias para a importante indústria suíça: as vendas cresceram no Reino Unido depois do Brexit (em Julho, as exportações de relógios para o país cresceram 13% face ao ano anterior), devido sobretudo à queda do valor da libra esterlina. E, como o Reino Unido é um grande destino turístico, tornou-se um mercado muito interessante. Por outro lado, depois do "boom" do Apple Watch, que causou sérias apreensões na indústria, esta reagiu e começou a apresentar também "relógios inteligentes". No fundo, o mercado procurou posicionar-se junto do consumidor mais jovem porque, a partir de certa idade e estatuto, procuram-se produtos com outros graus de exigência. Que a indústria suíça fornece. A Apple já nota, de resto, uma retracção nas vendas do seu relógio.

A indústria continua assim a propor obras de uma qualidade superior e de um requinte que a "geração digital" não oferece (nem talvez pretenda). É a diferença entre relógios como filosofia e como puro objecto de consumo rápido. As propostas que diferentes marcas da indústria suíça têm apresentado nas feiras de Genève e de Basileia atestam bem a contínua aposta em produtos de alta qualidade, intemporais, e que definem quem os utiliza. São objectos de luxo e de reflexão, porque a alta relojoaria ultrapassa, em muito, conceitos de curto prazo. Reflectem filosofias de encontro do homem com o tempo.



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