Desde a adesão a 1 de janeiro de 1986, Portugal teve seis comissários (quatro do PSD, dois do PS), apenas uma mulher - Elisa Ferreira, a atual comissária da Coesão e Reformas.
O primeiro comissário português a integrar um executivo comunitário foi António Cardoso e Cunha, com a pasta das Pescas e, depois, como responsável das Pequenas e Médias Empresas, Comércio, Turismo e Energia nas Comissões de Jacques Delors. Um período marcado por projetos comunitários emblemáticos: o Ato Único Europeu - para relançar a integração europeia e realizar o mercado interno -, o programa Erasmus de intercâmbio de estudantes e a assinatura do Tratado de Maastricht.
O segundo comissário foi João de Deus Pinheiro (1993-1999), primeiro com a tutela da Cultura, Audiovisual, Comunicação e Informação e, no segundo mandato, como responsável pelas relações com os países de África, Caraíbas e Pacífico. São os anos da adesão da Áustria, Finlândia e Suécia e da entrada em vigor do Acordo de Schengen, que permitiu viagens sem controlos nas fronteiras. O momento dramático foi a queda do executivo comunitário então presidido por Jacques Santer, em 1999.
Seguiu-se António Vitorino, que assumiu a pasta da Justiça e Assuntos Internos na Comissão presidida por Romano Prodi (1999-2004). Num mandato marcado pelos atentados terroristas do 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, o então comissário português deu um impulso decisivo ao desenvolvimento do espaço comunitário de liberdade, segurança e justiça que moldou as políticas nesta área.
Em 2004, ano do grande alargamento a 10 países, Durão Barroso chega à presidência da Comissão. Faz um segundo mandato até 2014. Entretanto, é assinado o Tratado de Lisboa, que torna a UE mais democrática e eficiente. Mas o acontecimento que vai marcar a década do ex-primeiro-ministro à frente do executivo europeu é a crise financeira que rebenta em 2008 nos Estados Unidos, com consequências críticas para vários Estados-membros.
Em 2014, é a vez de Carlos Moedas tutelar a pasta da Investigação, Ciência e Inovação, onde geriu um dos maiores programas da área. O mandato da Comissão, então liderada pelo veterano Jean-Claude Juncker, é sobretudo marcado pela gestão de crises - migratória, climática e Brexit. A gestão de uma Europa em modo de crise prossegue, uma vez que a atual Comissão - que integra Elisa Ferreira, a primeira portuguesa comissária - enfrentou a pandemia e, há mais de um ano, a guerra na Ucrânia às portas da UE.
Eurodeputados lusos
Em 37 anos, passaram pela assembleia europeia dezenas de eurodeputados lusos. Nunca um português alcançou a presidência, apesar de Mário Soares se ter apresentado, quando foi eleito em 1999, contra a eurodeputada francesa Nicole Fontaine. Mas perdeu logo na primeira volta (Fontaine obteve 306 votos, Soares 200).
Ainda assim, nove eurodeputados portugueses já foram eleitos para o cargo de vice-presidente. Alguns são nomes sonantes da política portuguesa e marcaram a instituição. Foi o caso do primeiro português a exercer o cargo de vice-presidente - Francisco Lucas Pires, em 1986. Mais de duas décadas depois, o seu nome foi atribuído a uma sala de leitura da biblioteca do Parlamento Europeu. Também o nome de Mário Soares figura numa das principais salas de reuniões da instituição.
Pela vice-presidência do Parlamento da UE passaram ainda João Cravinho, António Capucho, José Pacheco Pereira e o próprio António Costa, entre julho de 2004 e março de 2005. Rui Amaral, Luís Marinho e Manuel dos Santos foram igualmente vices. Desde 2019, Pedro Silva Pereira é o português que ocupa o cargo.
Outros portugueses alcançaram igualmente lugares destacados e de influência dentro da instituição. Nove alcançaram a presidência de comissões parlamentares, sendo Rodolfo Crespo o primeiro, em 1987 (Assuntos Sociais). Alguns exerceram o cargo por duas vezes como Joaquim Miranda (Desenvolvimento e Cooperação), Carlos Coelho (comissão temporária sobre o sistema Echelon e comissão temporária sobre voos da CIA) e Vital Moreira (Comércio Internacional). Atualmente, o Comité das Regiões - órgão consultivo dos municípios e regiões da UE - é liderado pelo açoriano Vasco Cordeiro, ex-presidente do governo regional.
À frente (e nos bastidores) da política europeia
Durão Barroso assumiu a presidência da Comissão Europeia em novembro de 2004, António Vitorino presidiu a uma comissão no Parlamento Europeu e foi comissário, e Carlos Costa destacou-se nos bastidores da política europeia
Durão Barroso
Presidente em tempo de crise
Assumiu a presidência da CE em novembro de 2004. Teve de lidar com o alargamento a 10 países (maio) e o chumbo de franceses e holandeses à Constituição da UE. Um novo Tratado (de Lisboa) é assinado em 2007. Em 2005, enfrenta uma moção de censura (rejeitada) dos eurocéticos britânicos. É reconduzido no cargo (2010-2014). Os dois mandatos são marcados pela crise financeira de 2008 nos EUA, que abala a economia mundial e atinge países como Portugal, que acaba sob assistência da troika. Em 2012, o Prémio Nobel da Paz é atribuído à UE e, juntamente com os presidentes do Conselho e do Parlamento, Barroso recebe o Prémio em nome da União.
António Vitorino
Artesão do espaço de liberdade e segurança
António Vitorino foi cabeça de lista do PS e eleito deputado nas eleições europeias, em 1994. Torna-se um dos poucos portugueses que até hoje presidiram uma comissão parlamentar na assembleia europeia - neste caso, a das Liberdades Públicas e dos Assuntos Internos, áreas que viria a tutelar como comissário quando regressa a Bruxelas em 1999, depois de integrar o governo de António Guterres. António Vitorino deu um forte impulso às políticas europeias nesta área e à consolidação do espaço de liberdade, segurança e justiça da União Europeia.
Carlos Costa
Um economista nos bastidores da política europeia
Economista, professor e técnico, o ex-governador do Banco de Portugal tem um longo percurso e conhecimento dos bastidores da política comunitária e das instituições europeias. Primeiro, entre 1986 e 1992, foi coordenador dos Assuntos Económicos e Financeiros na Representação Permanente de Portugal junto da UE e membro do Comité de Política Económica da União, conhecendo bem o funcionamento do Conselho. Foi depois chefe de gabinete nos dois mandatos de João de Deus Pinheiro na Comissão, entre 1993 e 1999. Em 2006, assumiu uma vice-presidência do BEI.