Foi há 100 anos que nasceu Henry Kissinger. A 27 de maio de 1923. O ex-secretário de Estado norte-americano guarda um século de História, muitas histórias e também controvérsias. Mestre da geopolítica e da "realpolitik", é venerado por uns e odiado por outros. Recebeu o Nobel da Paz em 1973 "pelo papel no acordo de cessar-fogo da Guerra do Vietname", mas é acusado pelos mais críticos de participar em "crimes de guerra" em países como Timor-Leste, Chile, Camboja e Uruguai. Na década de 1970, Portugal esteve na agenda do diplomata centenário, sobretudo após a Revolução de Abril. A vida do gigante da geopolítica tem sido alvo da atenção de historiadores como Niall Ferguson, autor da biografia "Kissinger - O Idealista". A sua história continua a ser escrita – e a sua experiente voz continua a ser escutada.
"O antigo e poderoso secretário de Estado norte-americano foi um idealista ou, pelo contrário, um pragmático com um coração frio?", questionava o escritor e jornalista Fernando Sobral (1960-2022) num artigo publicado em abril de 2016. Um ano antes, o historiador Niall Ferguson lançara o primeiro volume da famosa biografia. A sinopse anunciava logo: "nenhum estadista americano foi tão reverenciado e injuriado como Henry Kissinger. Aclamado por alguns como o ‘homem indispensável’, cujos conselhos foram procurados por todos os Presidentes desde John F. Kennedy a George W. Bush, Kissinger atraiu também uma imensa hostilidade de críticos que lhe atribuíram o papel de maquiavélico amoral - o supremo ‘realista insensível’".
Mais do que as polémicas, o investigador Carlos Gaspar acentua sobretudo a relevância de Henry Kissinger na geopolítica mundial. "É sem dúvida um grande protagonista da história contemporânea. Só o facto de um refugiado alemão, judeu, ter podido ser secretário de Estado dos Estados Unidos, depois de ser conselheiro da Segurança Nacional, é algo extraordinário em si mesmo", sublinha ao Negócios o professor de Relações Internacionais. O investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) destaca também a "importância de Kissinger, ao lado do Presidente Nixon, na normalização das relações entre os Estados Unidos e a China". "Teve um papel decisivo para derrotar a União Soviética na Guerra Fria", sublinha.