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O caminho e o sentido da vida

O clássico chinês "Tao Te Ching", de Lao Zi, surge numa nova tradução, feita por António Graça de Abreu. Uma forma de conhecermos melhor os universos da harmonia e do equilíbrio.

18 de Maio de 2013 às 10:01
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Lao Zi, "Tao Te Ching" Vega, 197 páginas, 2013

 

 

Ao longo dos séculos tem-se discutido sobre o caminho e o sentido da vida. No Ocidente, por exemplo, a vida materialista da elite romana foi determinante para a derrocada do Império. Os bárbaros apenas assopraram para que tudo ruísse, porque espiritualmente os romanos estavam há muito destroçados. Muitas vezes, o caminho da vida é uma questão de valores, mais do que de concretizações materiais, hoje tão presentes na nossa sociedade onde o consumo é rei. Henry David Thoreau, que durante dois anos viveu refugiado numa floresta, dizia que as pessoas aceitavam facilmente as ideias estabelecidas (boas ou más) e adaptavam-se a elas, em vez de procurarem o seu próprio caminho. É por isso que "Lao Te Ching", de Lao Zi, uma das obras fundamentais da cultura milenar chinesa, é um livro tão eloquente e tão enigmático ao mesmo tempo. Com uma nova tradução de António Graça de Abreu (que lhe acrescenta um prefácio que situa a obra), é um conjunto de 81 poemas onde a sabedoria e a erudição se cruzam com revelações morais e éticas sobre o que somos, onde estamos e o que fazemos. Um guia notável.


Como refere António Graça de Abreu, Lao Zi conduzia a vida através do Tao (a Via ou o Caminho) e do Te (a Virtude ou o Poder através da Virtude), o que acabou por fazê-lo chocar com os ensinamentos de Confúcio. Os 81 poemas do "Tao Te Ching" não são um acaso: "Esta divisão corresponde aos cuidados simbolistas e numerológicos da dinastia Han (206 a.C-220). O número 81 é 9 elevado ao quadrado e 9 equivale a 3 ao quadrado. O número 3 está associado ao Céu, à Terra e ao Homem, o 9 organiza o disperso, o 81 tem tudo a ver com a unidade da diversidade". Lao Zi revela-nos as diferenças entre viver naturalmente e viver de forma falsa. Ou seja, há um caminho onde a natureza personifica as verdades da existência. Nele é sempre evidente a questão do equilíbrio e da harmonia, tão presente no imaginário chinês. Como escreve Graça de Abreu, "para os taoistas tudo é relativo, tudo assume um duplo aspecto, o bom e o mau interpenetram-se, o yin e o yang são duas partes de um mesmo todo.

 

Daí a a solidez, agilidade e inovação permanente do pensamento taoista comparado com o conservadorismo e os impraticáveis - por causa dos defeitos inerentes a toda a espécie humana - princípios da moral confuciana". Não deixa de ser curioso como António Graça de Abreu, às vezes, cruze as ideias de Lao Zi com as do nosso Padre António Vieira. E há pontos de contacto, em diferentes contextos. O Tao reconcilia com a vida e com o mundo, porque apela à humildade e à tolerância. "Em frases sibilinas, o livro de Lao Zi diz e desdiz, afirma e nega, constrói e destrói, faz e desfaz", escreve Graça de Abreu. É um jogo de equilíbrios a que não muitas vezes não estamos habituados no Ocidente. No "Tao Te Ching", a poesia transforma-se em sabedoria. É um livro ainda hoje tão actual. Leia-se o poema 75: "As pessoas têm fome/porque os governantes as esmagam com impostos,/por isso as pessoas morrem de fome./As pessoas revoltam-se/porque os governantes governam demasiado,/por isso as pessoas se rebelam./As pessoas desprezam a morte/porque os governantes lhes exigem demasiado em vida,/por isso as pessoas não pensam na morte./Com pouco para viver/as pessoas não dão muito valor à vida".

 

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