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O valor do “writer” urbano

Dez anos depois da entrada consolidada em mercado, a arte urbana tem ainda um valor instável, como mostra um leilão global em execução.

25 de Fevereiro de 2017 às 10:15
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Encerra hoje à noite a primeira fase de um leilão da casa leiloeira virtual Paddle 8, www.paddle8.com, dedicado à arte urbana. Tenho seguido o evento com atenção próxima, dado que é um posto de observação privilegiado para avaliar o valor de mercado da referida classe de arte, pouco mais de uma década depois de esta, de algum modo, ter sido aceite como negociável.

O leilão é uma referência de valor porque a casa leiloeira, graças à sua plataforma, funciona de modo global, e assenta em obras de alguns dos mais conceituados "writers" desta classe. É também uma referência porque o leilão assenta em impressões, que vão do exemplar único à série de 300 exemplares, que foi sempre o grande problema deste sector, isto é, como transformar uma arte que assenta na transgressão, na pintura em superfícies públicas e privadas, numa arte feita em objectos que podem ser negociados.

Para aqueles que investiram ou tencionam investir em arte urbana, o leilão traz boas e más notícias. Intitulado "Post No Bills - The Printing House Articles", o leilão baseia-se no espólio da galeria e gráfica de Los Angeles com o mesmo nome, que, até 2011, foi uma das que deteve os direitos de alguns dos principais "writers" mundiais. Assim, o leilão tem como cabeça de cartaz o inevitável Banksy, mas conta também com outros nomes de topo, como Blek le Rat, Conor Harrington, Mode 2, Borf, Mark Jenkins, Faile e Paul Insect.

A primeira boa notícia para os investidores e coleccionadores de arte urbana é que cada um dos trabalhos disponíveis, e são perto de uma centena, teve várias licitações, e alguns deles dezenas de licitações. Assim, a sempre apregoada morte súbita do valor da arte urbana - exactamente por ser uma tipologia artística que só entrou no mercado por moda, e sem possibilidade de continuação, dado pertencer a uma expressão demasiado filiada em tendências urbanas - não parece ser uma realidade, para já, como é claro.

Ou seja, e esta é a segunda boa notícia, os artistas, os "writers" em licitação, têm já pelo menos uma década de trabalho, e o seu valor de mercado continua a ser reconhecido. Aliás, a tendência manifesta-se também em Portugal, com a continuidade da Galeria de Arte Urbana e a manutenção em actividade da galeria Underdogs, apoiada por Vilhs, que começou como "writer".

A má notícia é que o preço das obras continua a ser bastante modesto, mesmo para um suporte como a impressão, ou seja, que não é único, que existe em ficheiro digital e que pode sempre ser objecto de nova série, o que diminui bastante o seu valor. Mesmo assim, os valores são efectivamente baixos. O grosso dos trabalhos, 44, tem uma base inicial de licitação abaixo dos mil euros, um outro importante conjunto, 24 trabalhos, está entre os 1100 e os 5200 euros, e só quatro trabalhos partem de um valor que se situa entre os 5200 e os 27 mil euros.

O que estes números indicam é que, mesmo com a presença de "writers" de topo global, como Banksy e Bret le Rat, a arte urbana continua a não ser valorizada pelo mercado. Ou seja, estamos perante artistas acolhidos por coleccionadores pelo impacto social, estético e emocional que causam, mas ainda não são encarados como valores sérios e seguros.


*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.



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