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Francisco Seixas da Costa: “Não precisamos de ser realistas cínicos, com uma exceção: na CPLP”

A vida diplomática é feita de jogos de bastidores, de jantares e muitos “cocktails”. Francisco Seixas da Costa cruzou-se com várias personagens e até inventou uma ou outra. Algumas dessas “inconfidências” são contadas no livro “Antes que Me Esqueça - A Diplomacia e a Vida” e outras são partilhadas aqui. Seixas da Costa já se chamou Mark Kraëlsky ou Pedro Leite de Noronha. E estuda a obra de Joseph Crabtree. O que têm em comum estas três figuras? Não existem.
Lúcia Crespo e Pedro Catarino - Fotografia 22 de Dezembro de 2023 às 10:30

O diplomata norte-americano Henry Kissinger morreu a 29 de novembro. Viveu 100 anos entre a paz e muita polémica. Foi para si um exemplo de diplomacia?

Não. Foi para mim o exemplo de um génio diplomático que pôs o seu talento ao serviço de causas altamente discutíveis. Kissinger era um realista cínico, e foi talvez dos melhores conceptualizadores da teoria diplomática. Mas eu não esqueço o Kissinger que apoiou Pinochet para derrotar Allende, não esqueço o Kissinger do Vietname. Kissinger utilizou inimigos da liberdade para proteger a liberdade dos Estados Unidos e dos seus amigos. Roosevelt dizia, a propósito de Somoza, ex-presidente da Nicarágua, "he’s a son of a bitch, but he’s our son of a bitch", algo que pode traduzir-se por "ele é um bandido, mas é o nosso bandido". Neste sentido, Kissinger Cultivou vários "bandidos".

 

Mas contribuiu para a normalização das relações diplomáticas com a China…

Sim, mas Taiwan foi o estado que mais sofreu por via da genialidade de Kissinger. Aproveitou o mal-estar entre a China e a União Soviética para colocar a China de Pequim no Conselho de Segurança, isolando Taiwan. Esta perfídia faz parte daquilo que é a genialidade de alguém que eu diria que é um génio amoral.

 

Também deixou um rasto nas relações com Portugal.

Curiosamente, Kissinger foi convencido a moderar o seu discurso sobre Portugal durante o PREC por Frank Carlucci (antigo embaixador dos Estados Unidos), que considerou que a força de Mário Soares seria suficiente para um futuro democrático e que não havia o perigo de uma ditadura comunista no país. Carlucci tinha razão. Kissinger não. Cruzou-se também com a nossa história quando foi a Jacarta com o Presidente Ford dar luz verde ao Governo indonésio para invadir Timor. E eu nunca vi Kinssinger arrependido…

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