Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque

“Cuando salí” de Cuba

A canção de Celia Cruz poderia ser a banda sonora da vida da judoca Yahima Ramirez e do pianista Victor Zamora, dois dos cerca de 1.200 cubanos que vivem em Portugal. Estão cá há mais de 20 anos e acompanham à distância a crise económica do seu país. A situação é “muito complicada”, dizem a família e amigos.
Filipa Lino 18 de Março de 2023 às 10:30

Foto em cima: Yahima Ramirez é treinadora na secção de judo da Casa do Povo de Rio Maior e está empenhada em trazer mais meninas para a modalidade. Representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Veio para Portugal porque se casou com um judoca português.

O chão do ginásio está coberto com um tapete de várias cores. É aqui, na secção de judo da Casa do Povo de Rio Maior, que a atleta olímpica Yahima Ramirez dá aulas. A sala está vazia, mas ao fim da tarde enche-se de miúdos que querem aprender a modalidade. Sentada no tapete, a judoca, que representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, conta que foi a paixão por um português, hoje seu marido, que a trouxe para cá há duas décadas.

Em junho de 2002, Yahima tinha 22 anos e pertencia à seleção feminina de judo do seu país. Rui Picoto, também judoca, foi de férias à ilha e apaixonaram-se. Ao fim de sete meses estavam casados. Só depois de terem oficializado a relação, soube que os atletas cubanos não podiam ter relações conjugais com estrangeiros. "Pelos vistos estava na legislação, mas eu não sabia. Então, decidi pedir a minha liberação da seleção e vir para cá, de forma a dar continuidade à minha carreira desportiva."

O processo arrastou-se. Durante alguns anos andou entre cá e lá até finalmente conseguir uma autorização de residência no estrangeiro, que lhe permite viver aqui e voltar ao país quando assim o entender. "Quando um desportista ou um artista viajava e ‘desertava’, era essa a expressão, era considerado um traidor e ficava proibido de entrar em Cuba. Só de pensar nisso, eu ficava em pânico porque tinha lá a minha família." Quis fazer tudo de forma diplomática para manter a porta do seu país aberta. Alguns anos depois de estar a viver em Portugal, integrou a seleção portuguesa feminina de judo. No início foi difícil. Sobretudo, quando se cruzou em competições com as colegas da sua antiga seleção. "Senti que estava a trair o meu país", admite.

O privilégio de trabalhar no turismo

O caso do pianista Victor Zamora foi diferente. Veio em 1999, quando recebeu uma proposta de portugueses para abrir um bar cubano em Sintra. Nessa altura, ainda sabia pouco sobre Portugal mas já tinha contacto com a música portuguesa. No piano-bar onde trabalhava, num hotel de Varadero, tinha um livro grande em cima do piano com músicas do mundo todo, que incluía muitos temas portugueses. "Foi assim que conheci as músicas de Rui Veloso, Paulo Gonzo... Eu já tocava isso tudo antes de vir para cá porque os turistas portugueses me pediam", conta.

Ver comentários
Saber mais Yahima Ramirez Victor Zamora Cuba música judo turismo cultura desporto saúde educação alimentos mercados divisas bens essenciais
Outras Notícias
Mais notícias Negócios Premium
+ Negócios Premium
Capa do Jornal
Publicidade
C•Studio