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Como é que se pode esquecer um filho?

Há memórias que podem afectar a nossa saúde mental. Como a recordação de um filho que se continua a amar, mas não se pode tocar. Nem a música permite que a cura seja mais fácil.

Quase Normal - O musical dirigido por Henrique Feist está no Teatro da Trindade, em lisboa, até 3 de junho
26 de Maio de 2018 às 14:00
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É pior a cura ou a dor? É a questão que nos conduz durante mais de duas horas neste musical. Uma família de subúrbio tem todos os ingredientes para ser aquilo que, por costume, se chama normal. É essa, aliás, a vontade deste pai, desta mãe e da sua filha.

Só que há fantasmas do passado que insistem em voltar. O filho mais velho morreu, mas a sua memória continua a tornar este caminho mais difícil para a mãe. É ele, assumidamente, a causa da sua depressão e bipolaridade.

É esse confronto entre o amor incondicional a um filho (por muito que ele magoe) e as possibilidades de cura da medicina que se vai assistindo em "Quase Normal", o musical rock assinado por Brian Yorkey e reconhecido internacionalmente com vários prémios.

A versão portuguesa, encenada e adaptada por Henrique Feist, é protagonizada por Lúcia Moniz. A actriz consegue segurar a atenção do público quando a história parece dar voltas e voltas, sempre para voltar ao mesmo sítio. Até porque há uma certa ideia de ciclo ao longo do musical, com os paralelos nas histórias da mãe e da filha (Mariana Pacheco).

É pela autenticidade da interpretação de Lúcia Moniz que vamos aguentando: a sua personagem submete-se a um tratamento de choque e acaba por perder as suas memórias mais dolorosas. O que resta de nós quando perdemos as nossas recordações?

Sem "plumas ou lantejoulas", como lembra a folha de sala, mas cheio de exageros de interpretação, que têm no próprio Feist o seu exemplo mais claro. O restante elenco, mais jovem, vai pintando a história à sua maneira, sem destaques consideráveis. Há um elogio que tem de ser feito: todo o espectáculo é tocado e cantado ao vivo, com os riscos e esforço que isso implica para os actores.

O maior problema de "Quase Normal" é mesmo a sua duração. A importância do tema - a saúde mental, poucas vezes tratada em palco - e o dispositivo cenográfico permitem atenuar essa sensação, mas não vencê-la.

Juntam-se momentos divertidos, pelas canções e pelo discurso irónico que guardam. Apesar do sofrimento, a protagonista é capaz de olhar a sua situação à distância e rir-se de alguns elementos. É rematado com o humor situacional, como a sedução desta mãe na primeira vez que vai à consulta do especialista onde todos depositam a sua cura.

Depois de abordar questões como a perda, o suicídio ou o uso de drogas, o espectáculo lá se orienta para uma moral final. Não para manter a família unida mas, pelo contrário, para separá-la: porque a maior prova de amor é separarmo-nos daqueles que amamos mas que, afinal, nos fazem mal.


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