Yevheniia Kyrychenko treina no ginásio para se manter agarrada à vida que tinha em Kiev. A instrutora de "crossfit", de 30 anos, fugiu da guerra com a filha Nikole, de um ano e oito meses. O marido, também desportista, ficou na Ucrânia "para ajudar o exército". Agora falam pouco. "Só sei que está vivo", diz com tristeza.
Chegou a Lisboa há duas semanas e foi acolhida por um casal ucraniano que vive em Portugal há muitos anos. Não os conhecia. Ofereceram-lhe ajuda pela internet quando estava em Varsóvia, onde também foi recebida por uma família desconhecida que lhe pagou o bilhete de avião para Lisboa.
À espera, no aeroporto, tinha Dasha e Pavlo Figol. O casal fez um "post" no LinkedIn a pedir uma oportunidade de trabalho para Yevheniia. A rede de ginásios Holmes Place respondeu ao apelo e ajudou-a a tratar da documentação para poder ser "personal trainer" em Portugal. Enquanto não tem cédula profissional de técnico de desporto, a empresa deu-lhe acesso gratuito a um dos clubes para poder treinar.
Alexandre Souto, "global manager" da Holmes Place Portugal, explica que para exercer esta profissão em Portugal é necessário pedir as equivalências para obter uma cédula profissional. Essa documentação é tratada no Instituto Português do Desporto e os processos costumam demorar muito tempo.
Agora espera que os pedidos dos refugiados ucranianos "sejam tratados com alguma urgência para que possam entrar no mercado de trabalho com rapidez". Assim que Yevheniia tiver a cédula profissional, terá emprego garantido. "Tínhamos esta vaga disponível e ela vem colmatar uma falta".