Foto em cima: Naquela noite de 25 para 26 de novembro de 1967 abriram-se as comportas do céu: Lisboa, Loures, Odivelas, Alenquer e Vila Franca de Xira foram concelhos bastante atingidos pela tragédia. O regime tentou silenciar o horror, mas as estimativas apontam para cerca de 700 mortos e danos em 20.000 habitações. Foi a pior catástrofe natural na região de Lisboa desde o terramoto de 1755.
Talvez possam parecer anacrónicas ou, pelo menos, estranhas a quem passa. Mas as depressões circulares que podemos encontrar em algumas zonas verdes da cidade de Lisboa, alagadas quando chove, não são um erro de cálculo dos arquitetos paisagísticos. Na verdade, cumprem uma missão bem específica: ajudam a cidade a responder a chuvadas intensas, segurando a água e soltando-a devagar nas horas e dias seguintes. Face ao caráter cíclico dos episódios de inundações na capital e com os modelos meteorológicos a anteciparem um aumento da frequência de chuvadas fortes, Lisboa aposta na resposta "verde", mas também na "cinzenta", de betão – a construção de dois enormes túneis de escoamento.
A orografia da cidade, com muitas colinas e vales encaixados onde em tempos corriam ribeiras (a Avenida da Liberdade e a Almirante Reis, por exemplo, eram cursos de água), torna a cidade muito vulnerável a cheias rápidas. Em resposta a questões enviadas por email, a Câmara Municipal de Lisboa assume que o tema está entre as suas prioridades: "A tendência que se tem vindo a registar nas últimas décadas para a subida do nível médio das águas do mar (…) e o agravamento dos fenómenos meteorológicos extremos (…) levantam dúvidas sobre o cenário futuro e lançam novos desafios que estão a ser permanentemente acompanhados ao nível dos planeamentos urbano e de emergência."