Notícia
Carla Couto, a portuguesa mais internacional
Tem 42 anos, jogou até aos 40, é a futebolista portuguesa mais internacional de sempre, com 145 jogos ao serviço da Selecção. Acumula 12 títulos de campeã nacional e dá nome a uma competição, a Taça AFL “Carla Couto”.
A culpa é do pai. "Filha, há treinos de captação no Sporting, vai lá!" Carla resistiu, na altura jogava andebol no Passos Manuel, o pai insistiu. A filha foi ao treino no campo leonino e, no intervalo, o míster passou-lhe para a mão um papel que ela assinou. No início da década de 90, integrou a equipa feminina do clube de Alvalade. "Foi a maior alegria que me deste na vida", confidenciou-lhe o pai. "Ele chegou a pagar-me para jogar! Tive muita sorte. Havia um certo estigma em relação ao futebol para raparigas e ouvíamos comentários complicados - 'vai para casa coser meias, sai daí que isso é para homens' - que nós ignorávamos. Os meus pais apoiaram-me sempre e acompanhavam-me de norte a sul do país."
Foi assim durante 24 anos. Carla Couto jogou até aos 40 anos, é a jogadora portuguesa mais internacional de sempre, com 145 jogos ao serviço da Selecção. Acumula 12 títulos de campeã nacional, seis Taças de Portugal. Hoje, é embaixadora da Federação para o futebol feminino e também embaixadora e delegada do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF). Tem até uma competição com o seu nome, a Taça AFL "Carla Couto".
A menina de ouro do futebol nasceu em São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, e praticou vários desportos desde pequena. "Fiz ginástica, atletismo, natação." Em simultâneo, jogava à bola com os rapazes na escola e fez parte de uma equipa da Junta de Freguesia de Santa Maria dos Olivais. Aborreceu-se com o futebol e foi jogar andebol no Passos Manuel. E fê-lo até o pai a levar aos treinos no Sporting, clube onde ficou dois anos. De lá, saiu para o Trajouce, passou para o 1.º de Dezembro, onde jogou durante 14 anos. "A minha carreira foi quase toda feita em Portugal e tive a sorte de estar 18 anos na Selecção Nacional. Da minha geração, fui a jogadora que prolongou a sua carreira durante mais tempo", conta. "Em 2012, apareceu-me uma situação de doença, que me fez acelerar a saída do futebol, mas não me queixo. Só ficou uma coisa por fazer, que foi aquilo que as meninas conseguiram fazer este ano: chegar a uma fase final de um Europeu. É algo que me enche de orgulho. Dei tudo pelo meu país e pelos meus clubes e agora tudo farei pelo futebol feminino."
O dar tudo por tudo é literal no caso de Carla Couto. "Na minha geração, fazíamos muitas loucuras. Eu tinha fracturado uma perna, estava a jogar com ferros, e adiei uma operação por causa de um jogo… No 1.º de Dezembro, estávamos a dois jogos de ser campeãs pela primeira vez e, de repente, lembrei-me que a cirurgia seria antes da disputa final. Liguei ao médico: ó Doutor, peço-lhe um grande favor, eu quero ser campeã, adie-me a operação! Tive de assumir a responsabilidade pelas consequências. É que eu tinha um parafuso no tornozelo que estava muito à superfície e, num contacto mais forte, podia magoar-me. Mas fomos campeãs e, na segunda-feira, eu estava a ser operada."
Nesta sua trajectória de uma vintena de anos, Carla Couto fez do futebol ganha-pão apenas duas vezes, quando jogou fora do país. "Tive uma experiência de três meses na China (Fhosan Guandzon), em 2002, onde ganhava três mil dólares por mês! Mais tarde, já com 37 anos, fui para o Lazio, em Itália. Ia receber mil euros mensais e poder, finalmente, realizar o sonho de ser profissional de futebol. Foi bom e foi mau, pois acabei por estar seis meses sem receber, mas o sindicato português representou-me e consegui reaver grande parte do valor em dívida", conta. "Em Portugal, tive sempre ajudas de custo, não me posso lamentar. Nunca vivi do futebol, mas também nunca paguei para jogar."
Enquanto jogava e marcava golos pela Selecção, Carla ia acumulando profissões. Trabalhou como jardineira, foi carteira nos CTT, vendeu pilhas Energizer, trabalhou no McDonald's, esteve numa tipografia, foi assessora na área do desporto na Junta de Freguesia dos Olivais. Hoje é delegada do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, onde representa o futebol feminino. "Sinto-me uma privilegiada porque, apesar de ter deixado a carreira de futebolista, fiquei ligada ao futebol feminino. Neste momento, quero proporcionar às atletas portuguesas aquilo que não senti durante muito tempo, a valorização da mulher que pratica desporto."
Foi assim durante 24 anos. Carla Couto jogou até aos 40 anos, é a jogadora portuguesa mais internacional de sempre, com 145 jogos ao serviço da Selecção. Acumula 12 títulos de campeã nacional, seis Taças de Portugal. Hoje, é embaixadora da Federação para o futebol feminino e também embaixadora e delegada do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF). Tem até uma competição com o seu nome, a Taça AFL "Carla Couto".
Na minha geração, fazíamos muitas loucuras. Eu tinha fracturado uma perna, estava com ferros, e adiei uma operação por causa de um jogo.
O dar tudo por tudo é literal no caso de Carla Couto. "Na minha geração, fazíamos muitas loucuras. Eu tinha fracturado uma perna, estava a jogar com ferros, e adiei uma operação por causa de um jogo… No 1.º de Dezembro, estávamos a dois jogos de ser campeãs pela primeira vez e, de repente, lembrei-me que a cirurgia seria antes da disputa final. Liguei ao médico: ó Doutor, peço-lhe um grande favor, eu quero ser campeã, adie-me a operação! Tive de assumir a responsabilidade pelas consequências. É que eu tinha um parafuso no tornozelo que estava muito à superfície e, num contacto mais forte, podia magoar-me. Mas fomos campeãs e, na segunda-feira, eu estava a ser operada."
Nesta sua trajectória de uma vintena de anos, Carla Couto fez do futebol ganha-pão apenas duas vezes, quando jogou fora do país. "Tive uma experiência de três meses na China (Fhosan Guandzon), em 2002, onde ganhava três mil dólares por mês! Mais tarde, já com 37 anos, fui para o Lazio, em Itália. Ia receber mil euros mensais e poder, finalmente, realizar o sonho de ser profissional de futebol. Foi bom e foi mau, pois acabei por estar seis meses sem receber, mas o sindicato português representou-me e consegui reaver grande parte do valor em dívida", conta. "Em Portugal, tive sempre ajudas de custo, não me posso lamentar. Nunca vivi do futebol, mas também nunca paguei para jogar."
Enquanto jogava e marcava golos pela Selecção, Carla ia acumulando profissões. Trabalhou como jardineira, foi carteira nos CTT, vendeu pilhas Energizer, trabalhou no McDonald's, esteve numa tipografia, foi assessora na área do desporto na Junta de Freguesia dos Olivais. Hoje é delegada do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, onde representa o futebol feminino. "Sinto-me uma privilegiada porque, apesar de ter deixado a carreira de futebolista, fiquei ligada ao futebol feminino. Neste momento, quero proporcionar às atletas portuguesas aquilo que não senti durante muito tempo, a valorização da mulher que pratica desporto."
Clique nas fotografias para ler as histórias de cinco futebolistas portuguesas.