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As vozes que dão vida aos heróis dos mais pequenos

Ao contrário do que sucede noutros países, em Portugal só se dobram os filmes infantis. A explicação para a aposta na legendagem vem do Estado Novo; a tradição de colocar vozes em português de Portugal sobre as originais é bem mais recente: começou em 1994, com “O Rei Leão”. É um mundo de minúcia e de fantasia, que dá vida aos heróis dos mais pequenos.
Luís Francisco 16 de Dezembro de 2023 às 11:00

Amanhã está chuvosa em Lisboa, mas o inverno fica lá fora. Nos estúdios da On Air, grava-se um "trailer" do filme "O Panda do Kung Fu 4" e a voz de Marco Horácio "veste" o fofo herói das artes marciais que daqui a uns meses regressa aos ecrãs dos cinemas portugueses. Qualquer filme é sempre o resultado da alquimia de camadas que se vão sobrepondo, mas a dobragem não é propriamente um processo muito falado, talvez porque haverá algum receio, aparentemente injustificado, de que possa generalizar-se.

 

É essa a opinião de Cláudia Cadima, atriz e coordenadora de dobragem de muitos dos filmes de animação que têm passado pelos ecrãs dos cinemas portugueses ("Madagáscar", "O Panda do Kung Fu", "À Procura de Nemo", "Os Smurfs", "A Idade do Gelo"…). "Fala-se muito pouco de dobragens em Portugal. Há o medo de que tudo possa vir a ser dobrado… É um disparate, eu própria acho que não faria sentido, mas o medo dessa eventual ‘invasão’ leva a que não se dê o devido valor ao trabalho de dobragem", desabafa. Um manto de silêncio que contrasta com o facto de as vozes originais serem sempre muito badaladas quando sai algum filme de animação dos grandes estúdios…

 

Apesar disso, parece também ser consensual que o trabalho de dar voz em português aos heróis de animação tem sido feito com qualidade. "O reconhecimento vem dos autores. O Jim Henson [criador dos "Marretas" e da "Rua Sésamo"] escreveu-nos a dar os parabéns, a Dreamworks agradeceu-me publicamente quando dei voz à Fiona, do "Shrek"…, mas não há prémios nem distinções no panorama nacional. E é uma pena, porque os prémios ajudam a incentivar a qualidade…". O lamento de Cláudia faz ainda mais sentido quando olhamos para o ponto de partida, um momento seminal em que exigência já estava no máximo. Foi em 1994, com "O Rei Leão".

 

Carlos Freixo lembra-se bem desses tempos de expectativa e angústia criativa. Até aí, os filmes de animação passavam em Portugal na versão original, legendada, ou com dobragem feita no Brasil. A saga leonina inspirada no drama shakespeariano "Hamlet" foi o primeiro filme dobrado em português de Portugal. "A aposta foi dos produtores e dos estúdios da Matinha, cujos donos eram espanhóis e trabalhavam com a Disney em Espanha", recorda o ator e diretor de dobragem. "A proposta foi feita e aceite, mas com um aviso bem claro: se o trabalho não saísse bem, voltávamos ao português do Brasil e fechava-se a porta."

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