Foto em cima: Marta Hugon criou o Calíope - Projeto de Criação Artística e Sensibilização em Igualdade de Género, que juntou nove mulheres cantautoras e que pretende mudar a perceção da sociedade sobre o papel das mulheres na indústria da música.
Quando Ana Moura subiu ao palco em 2023 para receber o prémio de Melhor Artista Feminina na quinta edição dos prémios da música portuguesa Play, a que juntou o de Melhor Álbum do Ano com "Casa Guilhermina" e o Prémio da Crítica, não perdeu a oportunidade para responder aos "haters" que a atacaram nas redes sociais.
"Às pessoas que dizem que uma fadista não pode tomar as decisões que tenho estado a tomar, que não se pode vestir como me visto, que não pode cantar o que tenho cantado…, eu queria deixar uma mensagem: nasci fadista, sou parte do fado. E ter respeito pelo fado é ter respeito por mim; e ter respeito por mim é ser livre, uma mulher livre", disse na cerimónia.
O álbum "Casa Guilhermina" foi para ela uma forma de libertação. Tomou as rédeas da sua carreira, mudou de editora, tornou-se independente e decidiu explorar novos caminhos musicais além do fado.
Uma mulher assertiva, que sabe o que quer, e que não está disposta a contemporizar assuntos que têm a ver com a sua carreira, "tem mais hipóteses de ser encarada como caprichosa ou teimosa", diz a cantautora Marta Hugon. Também ela nunca quis abdicar do controlo artístico da sua carreira.
Existe uma cultura "entranhada" não só no meio musical, mas na sociedade em geral, que "condiciona a forma como se olha para as mulheres e para o seu papel nas diversas áreas". O problema "não é tanto uma questão de representatividade numérica", ressalva. "É mais uma questão de influência, de poder de decisão. É aí que esbarramos." E "cada vez que uma mulher toma uma decisão de mudança no seu percurso artístico, há sempre uma reação de censura".