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Aposta em notícia da GE rende 20 milhões de euros e leva a investigação criminal
A aposta na Alstom foi a que mais rendeu num período de nove meses, mas os investigadores também têm suspeitas sobre quase 4 milhões de euros que Alexis Kuperfis teria embolsado na mesma época, negociando quatro outros instrumentos financeiros, incluindo activos da companhia francesa de cimento Lafarge.
Investigadores franceses desconfiam que um investidor ganhou 23 milhões de dólares (20 milhões de euros) ilegalmente com apenas uma aposta, após obter uma dica em 2014 sobre o plano da General Electric de comprar parte da Alstom.
A transacção, realizada com derivados, é uma de entre várias suspeitas de negociação com informação privilegiada por parte do francês Alexis Kuperfis, de 38 anos, que estão a ser investigadas criminalmente, de acordo com detalhes de uma decisão tomada pelo Supremo Tribunal do país no mês passado.
A aposta na Alstom foi a que mais rendeu num período de nove meses, mas os investigadores também têm suspeitas sobre quase 4 milhões de euros que Kuperfis teria embolsado na mesma época, negociando quatro outros instrumentos financeiros, incluindo activos da companhia francesa de cimento Lafarge.
A decisão judicial revela parte de uma investigação em curso sobre insider trading em França, envolvendo várias outras pessoas e activos financeiros. O inquérito criminal avalia negociações suspeitas ao longo de vários anos com acções de dez empresas que incluem o banco Natixis e a operadora de telefonia Bouygues.
Air Liquide
Alguns dos suspeitos, incluindo Kuperfis, já foram indiciados em relação a um aspecto investigado: negociação com recurso a informações privilegiadas antes de a distribuidora de gases industriais e hospitalares Air Liquide comprar a Airgas por 13,2 mil milhões de dólares, de acordo com duas pessoas conhecedoras do processo e que pediram anonimato.
Loic Henriot, advogado de Kuperfis, afirma que o seu cliente não foi acusado de má conduta em relação ao acordo GE-Alstom. Nem a GE nem a Alstom são citadas como suspeitas de envolvimento no esquema.
A decisão judicial detalha que os investigadores solicitaram operações de busca e apreensão de documentos após concluírem que um gestor agindo em nome de Kuperfis ampliou gradualmente a posição em acções que este detinha na Alstom três semanas antes de a imprensa noticiar o plano da GE de comprar a divisão de energia da companhia francesa, na noite de 23 de Abril de 2014. As acções da Alstom tiveram a maior subida em uma década após a notícia e, segundo investigadores, Kuperfis realizou lucros logo em seguida.
Lucro ‘enorme’
Alexandre Bisch, advogado do escritório parisiense Debevoise & Plimpton, que não está envolvido com Kuperfis, diz que nunca ouviu falar de um caso de insider trading em França com um lucro tão elevado. "Isso provavelmente explica o envolvimento das autoridades criminais".
Os episódios de negociação de activos com recurso a informação privilegiada em França geralmente são investigados como violação civil pela Autoridade dos Mercados Financeiros (AMF) do país. Neste caso, os investigadores criminais usaram escutas e inspeccionaram de surpresa diversos locais em território nacional, de resorts de ski a residências em bairros chiques de Paris.
A decisão do Tribunal de Segunda Instância revela que as similaridades observadas em cinco apostas bem sucedidas de Kuperfis num período de nove meses chamaram a atenção dos investigadores franceses, que então solicitaram a operação de busca e apreensão.
Posições gigantescas
Para cada uma das cinco transacções suspeitas, o gestor de Kuperfis construiu posições gigantescas — usando os chamados contratos de diferença — poucos dias antes de anúncios de fusão ou alertas sobre os resultados das empresas, liquidando depois as posições no dia em que a notícia saía ou alguns dias depois, de acordo com o tribunal superior francês. Contratos de diferença são derivados que amplificam apostas em oscilações dos preços das acções a partir de um depósito relativamente pequeno.
"A opção por um instrumento financeiro altamente alavancado, as grandes quantidades compradas, o momento muito oportuno das transacções e a repetição das operações durante um período curto" sinalizam "a natureza objectivamente suspeita das transacções", afirmou a Autoridade dos Mercados Financeiros quando solicitou a busca e apreensão, de acordo com a decisão do Tribunal de Segunda Instância.