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O valor do trabalho não pago de cuidado e doméstico em Portugal representará, no mínimo, cerca de €40 mil milhões em cada ano, conclui um estudo levado a cabo pelo CESIS - Centro de Estudos Para a Intervenção Social divulgado esta quinta-feira.
"Tratando-se da primeira vez que um exercício deste género foi efetuado em Portugal, é normal que a magnitude do valor possa surpreender", referiu o investigador Pedro Perista ao Negócios. Porém, dada a magnitude do trabalho não pago, devia ser até mais alto, adianta.
"O valor de €40 mil milhões em cada ano foi, entre as diferentes simulações por nós efetuadas, o valor mais baixo a que se chegou, assumindo uma valorização com base no salário mínimo nacional que não consideramos, aliás, a mais correta. Assumindo uma valorização que consideramos mais correta, com base no ganho médio mensal, o valor sobe quase para o dobro, para quase €78 mil milhões em cada ano".
Os resultados do projeto "O valor do trabalho não pago de mulheres e de homens – trabalho de cuidado e tarefas domésticas" revelam ainda que o valor do trabalho não pago realizado por mulheres ascende a quase 70% do total do valor monetário do trabalho de cuidado e doméstico.
"Esta é uma evidência de que vivemos numa sociedade que ainda é marcada por uma injustiça sistémica e por desigualdades estruturais entre mulheres e homens, designadamente ao nível das assimetrias no tempo de trabalho não pago de cuidado e doméstico", sublinhou a investigadora Heloísa Perista.
Esta evidência confirma os resultados do último "Inquérito Nacional aos Usos do Tempo", realizado em 2015 no âmbito de um projeto promovido pelo CESIS, onde se apurou que as mulheres dedicavam em cada dia mais 1 hora e 40 minutos do que os homens a estas formas de trabalho não pago.
A análise de agora aferiu também o impacto económico do trabalho não pago de cuidado e doméstico, concluindo que, caso fosse contemplado no cálculo do PIB, teria um peso que oscilaria entre 15,6% e 26,6% do total do PIB.
Os resultados deste estudo indiciam que é provável que, em 2030, o peso relativo do cuidado não pago prestado pelas famílias, e dentro destas sobretudo pelas mulheres, se reduza de 44% para 35% das necessidades de consumo de cuidado, não deixando, porém, de continuar as famílias a assumir o papel mais preponderante neste domínio. Este estudo teve início em setembro de 2020 e terminou em outubro de 2022.
Este é um dos projetos que integram o Programa Conciliação e Igualdade de Género, da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), que hoje são apresentados na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
O Programa financia 33 projetos em três áreas prioritárias, em linha com a Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação 2018-2030 – "Portugal Mais Igual", nomeadamente sobre conciliação entre a vida profissional, pessoal e familiar; boa governança; e violência contra as mulheres e violência doméstica, pela primeira vez financiada por este mecanismo.
Um outro estudo hoje apresentado, levado a cabo pelo ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão, concluiu que a sobre escolarização das mulheres relativamente aos homens empregados contribui para a diminuição do diferencial remuneratório em praticamente 20%.
Se o emprego das mulheres e dos homens se distribuísse equitativamente por ramos de atividade económica, profissões e níveis de qualificação, o diferencial remuneratório diminuiria em 42% e aumentaria o PIB português em 2,14 mil milhões de euros, aferiu o estudo "Os benefícios sociais e económicos da igualdade salarial entre mulheres e homens (Gender Pay Gap - E)".