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Desigualdades de género voltam a acentuar-se na Europa

O novo Índice da Igualdade de Género 2022 mostra que as crises globais estão a impactar negativamente o empoderamento das mulheres. Não fossem os progressos na área do poder e teria havido uma redução generalizada nas dimensões avaliadas face a 2010.

26 de Outubro de 2022 às 09:21
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O Índice da Igualdade de Género 2022 que o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE, sigla em inglês) acaba de publicar conclui que, pela primeira vez desde o seu início, em 2010, se registaram diminuições nas pontuações em vários domínios do índice, que avalia dimensões como trabalho, dinheiro, conhecimento, tempo, poder e saúde.

O índice revela que a progressão para a igualdade nestas dimensões na Europa continua lenta, com um aumento de apenas 0,6 pontos desde a edição do ano passado. Como resultado, a pontuação média da União Europeia (UE) situa-se agora nos 68,6 pontos numa escala de 100, apenas 5,5 pontos mais alta do que em 2010. Portugal está abaixo da média europeia com uma pontuação de 62,8.

Portugal encontra-se mais mal posicionado na dimensão do tempo (47,5 pontos), na medida em que as tarefas domésticas continuam maioritariamente a cargo das mulheres (78%). A dimensão do poder alcança uma pontuação de 55,5, com 40% de mulheres a fazerem parte do parlamento e 31,4% a integrarem conselhos de administração. Onde Portugal tem a melhor pontuação é na dimensão da saúde (85,4 pontos). Mas apesar de as portuguesas terem uma maior esperança média de vida, a sua perceção de boa saúde é menor do que nos homens.

O relatório analisa, pela primeira vez, dados do primeiro ano da pandemia (2020) e apresenta fortes sinais de alerta num contexto de incerteza e turbulência persistentes. «A questão mais premente é que a pontuação deste ano piorou pela primeira vez desde 2010, com diminuições em vários domínios», declara a diretora do EIGE, Carlien Scheele. «Isto requer uma análise urgente, uma vez que os nossos resultados mostram que alguns grupos específicos de pessoas que tendem a ser mais vulneráveis em tempos de crise são as que estão em situação de maior risco. Não nos podemos dar ao luxo de perder de vista a igualdade de género», acrescenta.

Uma diminuição na pontuação da participação no trabalho indica que é cada vez mais provável que as mulheres passem menos anos das suas vidas no emprego, dificultando as perspetivas de carreira e de pensão.

Além disso, menos mulheres do que homens participaram em atividades de educação formal e informal em 2020. E como a COVID-19 criou uma pressão sem precedentes no setor da saúde, as diminuições na igualdade de género tiveram também impacto nas mulheres em termos de estado de saúde e acesso aos serviços de saúde.

Se não fosse o progresso no domínio do poder, o índice teria sofrido uma diminuição global na pontuação. Muito deste progresso deve-se ao aumento da participação das mulheres no processo de tomada de decisões económicas e políticas, que por sua vez está ligado à introdução de quotas legisladas em alguns estados-membros da UE. "O nosso compromisso para com a igualdade de género deve permanecer firme. Na sequência da pandemia, da agressão russa na Ucrânia e da crise económica daí resultante, tanto as instituições regionais como os países da UE devem ser sensíveis à igualdade de género nas suas medidas orçamentais e políticas. As mulheres, em toda a sua diversidade, não devem ficar a perder", afirma em comunicado Helena Dalli, comissária europeia para a Igualdade.

Nesta linha, a responsável acrescenta que "é crucial vermos progressos nas nossas propostas legislativas, para melhorar o equilíbrio de género nos conselhos de administração das empresas, para ter transparência salarial e para pôr fim à violência contra as mulheres e à violência doméstica. Apelo a todas as partes interessadas para que façam a sua parte em prol da igualdade de oportunidades, da segurança e da igualdade de opinião entre mulheres e homens."

Os estados-membros com melhor desempenho neste índice são a Suécia, a Dinamarca e os Países Baixos, embora os progressos no sentido da igualdade de género tenham estagnado na Suécia e na Dinamarca. Entretanto, Grécia, Hungria e Roménia são os países que apresentam maiores dificuldades em promover a igualdade de género.

 

 

 

 

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