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Municípios com défice tarifário de água apresentam elevados níveis de desperdício

ZERO defende aumento das tarifas depois de analisar dados referentes ao abastecimento de água e concluir que estas não permitem investir nas infraestruturas. Cerca de 30% da água que entra no sistema não é faturada.

22 de Março de 2023 às 10:30
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Cerca de 80% dos municípios com défice tarifário no serviço de abastecimento de água apresentam elevadas perdas de água, revela a ZERO, após analisar um conjunto de dados que constam do Relatório Anual dos Serviços de Água e Resíduos de Portugal, de 2022, da Entidade Reguladora da Água e dos Resíduos (ERSAR).

A associação ambientalista procurou correlacionar a cobertura de custos das entidades gestoras dos serviços de abastecimento de água, em baixa (vulgarmente os municípios), com a eficiência dos sistemas de abastecimento que gerem, nomeadamente ao nível dos procedimentos de faturação e de redução de perdas.

A ZERO considera, por isso, que as tarifas devem aumentar, na medida em que estas deverão assegurar a tendencial recuperação dos custos com a prestação dos serviços em respeito pelo princípio do utilizador-pagador e pelo uso eficiente dos recursos.

Das 76 entidades gestoras, em baixa, com cobertura de gastos deficitária, 60 apresentaram elevadas perdas de água, ou seja, água não faturada decorrente de perdas, usos ilegais ou doações.

A informação processada evidenciou a existência de relação entre a percentagem de água não faturada e a recuperação de custos com o serviço pelas entidades gestoras, uma vez que, em 79% das entidades que apresentam um nível de cobertura de gastos inferior a 100%, apresentam simultaneamente um desempenho do serviço insatisfatório em relação ao indicador "Água não faturada", verificando-se na sua quase totalidade em áreas predominantemente rurais, havendo apenas seis situações associadas a áreas mediamente urbanas.

Em comparação, menos de metade (46%) dos municípios com bom desempenho na cobertura de gastos apresentam avaliação insatisfatória em relação à água não faturada, os quais respeitam sobretudo a áreas mediamente urbanas.

"Estes dados revelam a disparidade que existe, ao nível das tarifas e do investimento nas infraestruturas, entre as entidades gestoras cujos territórios de intervenção se classificam como áreas predominante e mediamente urbanas e os que se classificam como áreas predominantemente rurais", refere a ZERO.

A água não faturada tem rondado, ao longo da última década, os 30% da água que entra no sistema, o que, em 2021, no serviço em baixa, correspondeu a 237 milhões de metros cúbicos, representando perdas económicas de cerca de 347 milhões de euros, tendo em conta o preço médio do serviço de abastecimento de água (1,4631 €/m3), sublinha a associação ambientalista.

"As perdas de água configuram assim um fator decisivo para a eficiência hídrica do setor em especial no que toca às perdas reais, devidas a ruturas ou extravasamentos, cujo total, em baixa, foi de 174 milhões de metros cúbicos, acrescido de 23 milhões no serviço em alta, o que, segundo a própria ERSAR, corresponde a 1,5 vezes o volume de armazenamento da albufeira de Odeleite, no Algarve, o que permitiria servir 2,9 milhões de habitantes em Portugal", destaca a ZERO.

 

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