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Viatura particular é o “alvo a abater”

A nova mobilidade sustentável assenta na redução do uso de viatura própria, recorrendo a transportes públicos, partilha de veículos e bicicletas e trotinetas. A pandemia ameaça atrasar a transição.

28 de Maio de 2020 às 14:30
O uso de bicicletas e outras formas de          mobilidade suave como complemento aos transportes públicos é uma das grandes apostas para as cidades.
O uso de bicicletas e outras formas de mobilidade suave como complemento aos transportes públicos é uma das grandes apostas para as cidades. Alexandre Azevedo
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Menos carros e menos poluentes, maior utilização dos transportes públicos e aposta em veículos partilhados e em meios de transporte como bicicletas e trotinetas para deslocações mais curtas. Estas são as grandes tendências para uma mobilidade sustentável nas principais cidades do mundo. São também algumas das estratégias definidas pelo Governo no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) para 2030 no que respeita aos transportes e à mobilidade.

A Câmara Municipal de Lisboa (CML), por exemplo, tem vindo a adotar medidas nesse sentido, nomeadamente a expansão da rede de ciclovias e o reforço da oferta do sistema partilhado de bicicletas.

Ao Negócios, Miguel Gaspar, vereador da Mobilidade, Segurança e Economia da Inovação da autarquia da capital, sublinha que “não está em causa o acesso à cidade em veículo próprio. Os carros são uma das formas de circular e de aceder à cidade. Há um problema de soma e do número de carros que circulam todos os dias”.

Como acrescenta, “a revisão do regulamento do estacionamento, que está finalmente pronta para ser aprovada na sua versão final em câmara, o reforço na aposta do transporte público e o acelerar da concretização das redes cicláveis , com vários quilómetros a serem construídos nas próximas semanas”, são algumas das medidas tomadas pela autarquia.

Adicionalmente, “a câmara aposta também no reforço do sistema partilhado de bicicletas e no programa da ‘Rua é Sua’ que pretende reforçar o andar a pé nos bairros”. Por último, a autarquia pretende “relançar o programa da Zona de Emissões Reduzidas da Baixa, cuja discussão está suspensa”.

Também Francisco Ferreira, presidente da organização não-governamental Zero, partilha desta visão, defendendo que “se deve fomentar a utilização de alternativas de mobilidade suave, sempre que estas sejam viáveis, nomeadamente o uso seguro de bicicletas e percursos a pé, também conjugados com a utilização de transportes públicos (nas deslocações multimodais)”.

A associação pretende também um aumento nos apoios para a compra de veículos elétricos, reivindicando que “pelo menos até ao final do ano” o Estado apoie, com um montante superior ao da simples compra de um veículo elétrico, “o abate de veículos em fim de vida com mais de 15 anos no caso de serem adquiridos automóveis 100% elétricos por particulares ou empresas”. Defende ainda que não seja limitada “a quatro incentivos por entidade os apoios do Fundo Ambiental à compra de veículos ligeiros, quer de passageiros quer de mercadorias, por parte das empresas”.

A pandemia constitui uma ameaça à transição?

A pandemia da covid-19 e o seu impacto económico podem constituir obstáculos à transição para uma mobilidade mais sustentável, reconhecem Miguel Gaspar e Francisco Ferreira.

Sobre o uso de transportes públicos, o vereador frisa que “é só mais um local onde temos de nos habituar a viver com o novo normal”. E, assinala, “apesar de uma forte quebra na procura, tanto a Carris como o Metro continuam a garantir uma elevada disponibilidade e uma baixa ocupação dos veículos”. O autarca ressalva que, sempre que possível, as pessoas devem evitar as horas de ponta, viajando com maior distanciamento.

Também o teletrabalho poderá ajudar a reduzir o congestionamento e melhorar a mobilidade, conforme defendeu, em declarações à Lusa, a especialista Paula Teles, que considera a utilização de bicicletas a melhor solução.

Francisco Ferreira defende que “para além das medidas de proteção nos transportes públicos”, é fundamental que “os efeitos de uma maior utilização dos transportes no aumento ou não do número de casos sejam monitorizados e comunicados, de forma a transmitir uma maior confiança na sua utilização”. E, defende, “esta é mais uma justificação para planear um aumento da oferta de transporte público que é deficitária”.

“Muitas cidades na Europa estão, de forma muito rápida, a promover a utilização de bicicletas e percursos a pé no interior das cidades, reduzindo o espaço para os automóveis e aumentando o espaço para peões e bicicletas, permitindo assegurar o distanciamento social”, destaca o ambientalista.

Miguel Gaspar também vê a atual situação como um impulso para a mobilidade suave. “A procura por bicicletas está a aumentar, são vários os relatos de quem pela primeira vez experimenta vir para o centro da cidade de bicicleta”, refere.

A crise económica poderá, no entanto, travar a compra de automóveis elétricos ou híbridos devido à perda de poder de compra, reconhecem Miguel Gaspar e Francisco Ferreira. E também poderá existir uma maior resistência nos próximos tempos à utilização de serviços de “car sharing” e “ride sharing”, admitem.

Mas, adverte o vereador da Câmara de Lisboa, “a cidade não aguenta quer do ponto de vista da poluição quer do espaço público um aumento do uso do carro face ao período anterior à pandemia”.

 

Não está em causa o acesso à cidade em veículo próprio. Há um problema de soma e do número de carros que circulam todos os dias.miguel gaspar
Vereador da Mobilidade da CML

 

 

Muitas cidades na Europa estão, de forma muito rápida, a promover a utilização de bicicletas e percursos a pé no interior das cidades.francisco ferreira
Presidente da Zero

 

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