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É uma figura incontornável da indústria e do país. Chegado aos 90 anos, são muitas as histórias que tem para contar e muitos os exemplos que tem deixado na sociedade. Nunca saiu de Campo Maior, mas todos os dias trabalha para construir um futuro melhor para a sua terra. Não consegue dizer que não a quem lhe pede ajuda e nunca pensou apenas em si ou na sua empresa. A pandemia veio mostrar ainda mais essa faceta, por isso, diz com orgulho que aguentou as contas e os salários na Delta sem recorrer ao lay-off ou a outras ajudas públicas.
Rui Nabeiro levanta-se todos os dias às 6h00 e mantém as rotinas de sempre: bebe quatro cafés, acompanha o andamento das bolsas, segue a cotação de várias matérias-primas e negoceia com os fornecedores. E antes de a palavra sustentabilidade estar na ordem do dia, há muito que era praticada por este empresário. Daí que tenhamos decidido lançar a iniciativa Sustentabilidade 2030 e o Prémio Nacional de Sustentabilidade com uma entrevista de vida ao senhor do café. Foi realizada em Campo Maior, no Centro de Ciência do Café, onde foi possível acompanhar Rui Nabeiro no seu mundo. O percurso por uma vida mais sustentável e em prol dos outros é descrito na voz do próprio, entre risos e a frescura de uma mente sempre de olhos postos no próximo investimento.
O que é para si a sustentabilidade?
Sou uma pessoa de sustentabilidade. Para mim, essa palavra é muito saudável. Para mim, a palavra sustentabilidade é vivida criando. Mas há muitas formas de sustentabilidade e eu dei sustentabilidade criando outros órgãos que pudessem ser apêndices da própria indústria do café. E isso é criar e dar sustento, criar mais postos de trabalho.
É uma preocupação permanente, criar mais emprego e dar sustento?
É uma preocupação porque penso estar bem com qualquer cidadão, mas o meu bem é criar mais qualquer coisa. Criar vida para muita gente, dar melhores condições. Quando criei a nossa empresa, comecei logo a pensar em como construir casas para o meu pessoal. Naquela altura, era o financeiro [da construção] e isso é sustentabilidade, as pessoas querem fazer e igualar-me. O meu pessoal também tem essa doença da sustentabilidade, que é criar atitudes e formas de ser útil à sociedade. É como quem vai plantando flores e árvores, e é isso que faço na sustentabilidade, porque todos os dias crio situações e porque acho que o Homem a viver a sua vida sozinho não é nada.
Olhando para o que era o Alentejo há 50 anos, o que mudou na região?
A região hoje não é a mesma que era, mas não há dúvidas de que precisamos de melhorar mais. O país precisa, todo ele, no geral, de melhorar mais. Eu que nasci nos anos 30 tenho consciência de como se vivia. Os meus pais tinham uma merceariazinha possibilitada por um patrão do meu pai (…). E àquela casa toda a gente ia, porque a minha mãe também era assim, tal como o meu pai. Só que não apanharam a época que eu apanhei, era uma época mais pobre. E quando começámos a ter alguma coisinha, o meu pai faleceu, muito jovem…
Começou a sentir necessidade de ajudar a sua mãe.
Totalmente. Dava à minha mãe tudo o que podia e ela só tinha na sua boca “o meu Rui”. O carinho que recebia dela... E eu estava muito próximo dela porque lhe dava o carinho de que ela precisava. Não há dúvida nenhuma de que situações dessas são vividas por quem nasce para elas.
Sente que já nasceu com essas características de liderança? Como é que se faz este caminho?
Faz-se com o carinho que se recebe. A nossa casa é sempre um ninho. Podemos ir à escola e fazer uma formação académica de grau elevado – não é o meu caso que só tenho a instrução primária –, mas é de facto a situação da nossa casa [que dita o percurso]. A nossa casa era um jardim florido. Quando o meu pai desapareceu, caímos mas eu disse: o pai morreu, mas nós estamos cá e vamos fazer a vida que o pai fazia ou melhor, porque ele espera que façamos isso. É a nossa casa que nos dá essa mais-valia.
A dada altura há também uma outra pessoa na sua família que tem um papel importante, o seu tio Joaquim. Quer explicar quem foi?
Era um homem diferente, muito bom, mas diferente do meu pai. Nalgumas áreas para melhor e noutras mais rigoroso. Sempre disse que não trabalharia para a lavoura e, aqui, toda a gente o que tinha era o campo. Aos 15 anos, ele emigrou, foi embora sozinho, e foi parar a Madrid. Passados alguns anos trouxe com ele a indústria do café para Campo Maior e eu era o privilegiado dele.
Trabalhou com ele…
Muito. E quando comecei a trabalhar com ele, aos 14, 15 anos, ele era um homem feliz porque queria abrir mais caminhos, romper, criar mais brechas. Ele não conseguiu, mas estive cá eu. Na casa dele fiz um hospital para que não lhe faltasse coisa alguma. Aquilo que sou devo aos meus pais e àquela pessoal excecional.
Disse também numa conversa com a sua neta Rita que a ambição não deve ser vista como um defeito. Sente que ter sido ambicioso foi algo que o ajudou? Como é que a ambição pode ser parte do caminho a par da preocupação com os outros?
É de facto uma pergunta curiosa. Uma pessoa sem ambição não pode caminhar. A pessoa deve ser ambiciosa, mas essa ambição deve servir para criar. Criar é uma dádiva da providência de Deus. Nesse aspeto, digo sempre a mesma coisa: toda a gente é ajudada, eu fui ajudado, e no resto da minha vivência fui de uma total entrega à boa vivência, à boa camaradagem e isso trouxe-me algo que o meu tio também me deu. Ele queria dar-me mais, mas queria uma pessoa de confiança. O sobrinho, mesmo jovem, era uma pessoa da sua confiança. O meu tio foi uma pessoa extraordinária que criou para esta terra e eu depois desenvolvi um sítio onde a sociedade se sente bem. E quando as coisas nos vão surgindo, a ambição também vai aparecendo. Tenho feito na minha vida viagens, conheço parte do mundo, e mesmo com poucas palavras levava sempre alguém comigo. Mas os meus ouvidos estavam sempre preparados para algum detalhe. A ambição é um lugar em todos nós, não é erro nenhum. Ser ambicioso não é ser egoísta, são coisas diferentes.
O que trouxe dessas viagens? Mundo, experiência na relação com as pessoas?
Quando saía, era sempre com ideias de valorizar. A nossa empresa começou em 61 e, a partir dessa data, além de fazer o meu trabalho de fábrica fazia um trabalho de visão, de alcance dos caminhos que queria atingir. Não há dúvida nenhuma de que nessas viagens trouxe muita bagagem. Os chineses traziam máquina fotográfica, mas eu andava lá com os meus olhos e também registava. Isso trouxe-me muitas vantagens e muitas formas de estar na vida.
Quando tem tantas pessoas que dependem de si, qual a maior preocupação que tem para com elas?
Faço um discurso com muita frequência a todos os meus colaboradores. Tenho os homens das vendas, tenho os homens que estão na fábrica, tenho pessoas que nos representam em determinados sítios e digo-lhes que, para sermos, temos de continuar sempre o que queremos ser. Há muita gente que, depois de ter meios, pensa que ainda o é e, às vezes, já não o é. É o que digo às minhas trabalhadoras, aos moços que andam na viagem: se chegámos a este ponto, temos de ir mais longe. Eles captam de tal maneira essa mensagem que se um cliente falha, por qualquer razão, eles vão lá, mas eu também lá vou.
Nunca baixar os braços depois de já se ter chegado tão longe, é isso?
Sim, nunca. Até porque tenho uma outra expressão muito bonita: quando os outros iam, já eu vinha de volta. E isso são coisas muito reais na vida do nosso dia a dia. Quando ia ao estrangeiro, ia para ficar uns dias e pensar no que queria dali ter tirado, depois ia ver como podia fazer a minha ambição. Creio que ao ponto a que chegámos, tendo começado com 3 empregados e ter hoje chegado aos 3.600, a minha atitude é permanentemente de como fazer melhor.
Também é curiosa a forma como começou porque conseguiu chegar a mais clientes do que os seus concorrentes. Como fez isso, qual a estratégia?
Eu sou tão amigo dos clientes que nesta pandemia nunca os deixámos. Foram sempre visitados pelos nossos trabalhadores, e com telefonemas meus, dizendo que estamos às ordens e que, se precisassem, nós estaríamos cá. Consegui uma mensagem de proximidade, que é uma palavra extraordinária, também.
Foi essa proximidade que fez a diferença quando comprou a primeira carrinha para fazer entregas?
Exatamente. Isso é algo que me dá gozo. Quando falo nestas coisas, sinto uma felicidade enorme.
A pandemia pôs muitos dos seus clientes em dificuldades, tiveram menos vendas. Qual a história que mais o marcou neste período?
Nós temos de saber o que queremos na vida e quando veio esta desgraça pensámos, numa reunião da administração, sobre o que faríamos. Não vendíamos, parou tudo… E tínhamos de pagar [aos funcionários]. Não fomos ao lay-off para dizer “está aqui o dinheiro”, não. Esse dinheiro era mais lento e diferente. Pensámos que íamos pagar do nosso bolso, porque ainda havia meios suficientes para o fazer. E isso deu uma força exterior enorme, que é a antecipação. O mundo não ia acabar, nem acaba, fossem dois, três meses…. E quando chegasse o momento de não podermos mais, aí tínhamos o direito de os nossos governantes repararem que não fomos a correr buscar lá o dinheiro, fomos buscar primeiro o nosso dinheiro. Isso foi a coisa que mais me marcou e que mais satisfação me deu, poder responder de forma diferente. Eu tenho, eu vou distribuir e os salários vão ser pagos no dia habitual.
Em nenhum momento pensou que as coisas podiam ficar mais complicadas?
Sem dúvida nenhuma, porque toda a gente fez o contrário. É por isso que é preciso ouvirmos, vermos e depois imitar o que os outros fazem de bem.
Não ir a correr pedir ajuda ao Estado é um exemplo de que as empresas podem ter um papel diferente?
Podem e devem. Nesse aspeto, sou sempre um sonhador do bem-fazer. Não sei se é um defeito ou uma virtude (risos), mas não abuso dela… Vivo-a, sinto-a e sei o caminho que tenho de percorrer.
Como sente que deve ser o papel dos empresários daqui para a frente? Estamos com um PRR a começar a ser posto em marcha.
Primeiro, é preciso acreditar e acreditando faz-se muita coisa. Agora, quando na nossa própria casa estamos já a pensar que ficamos na miséria porque vemos entrar menos dinheiro… Nós parámos a 60% e não parámos a mais de 60% porque tínhamos os supermercados para abastecer, para a dona de casa que precisa das suas cápsulas e do seu café. Mas esses 60% deram-nos um prejuízo grande, porque os ordenados são de milhões por mês. Neste momento já estamos a 80% [da laboração normal] e no final do semestre subimos mais. Depois vamos ver setembro, outubro e dezembro. Em dezembro, se houver esperança, as pessoas vão gastar no Natal e, ao fim e ao cabo, é acreditarmos que a empresa não é só para nós, é também de quem trabalha para nós. Se todos tivermos essa força, temos um país a sério.
E também é importante ter empresas capitalizadas?
Mas para isso também há uma cura. É que em lugar de se levar o dinheiro para outro lado é ficar na empresa.
Nunca pensaram em dividendos como a maioria das outras empresas?
Nós, como é tudo família, quando precisamos sabemos que [o dinheiro] está à nossa espera. Mas a empresa, o capital, é de quem o ganha e quem o ganha é a empresa, com os seus administradores e com os seus trabalhadores. Se precisamos, apanhamos, mas se não precisamos, temos de dar estabilidade às nossas finanças.
Alguma vez parou nesta pandemia? Ficou em casa ou sentiu que era altura de mostrar esta resistência que também é muito da sua imagem?
Tenho mostrado resistência em muitas coisas, no convívio, na forma de estar na vida, porque sou um homem de esperança, que vê sempre uma luz acesa. [Na pandemia] estava tudo receoso mas a mim, cá dentro, o meu subconsciente dizia avança. Quem andava na vida de fronteira – eu andei sempre muito perto dos espanhóis –, nessa altura, também se andava sempre com esperança ou com medo de fechar a porta... Nessa altura, também dependia muito dos amigos – outra sustentabilidade importante – e realmente na vida da empresa foi sempre assim que fiz.
A forma de trabalhar quando a empresa foi criada é diferente da atual. Há mais mecanização, há mais tecnologia, mas nunca deixou para trás os trabalhadores. Como é que se gere esse equilíbrio?
Posso dizer-lhe uma coisa muito curiosa: já tenho robôs há uns anos, mas os meus robôs foram para poupar os meus homens.
Ajude-nos a perceber isso.
Todos os dias chegam a esta casa sete a oito contentores e eu tinha de ter força humana para fazer o trabalho. Agora, tenho um robô que vai buscar o café ao contentor, põe na palete e há outra máquina que o leva para o seu sítio. E como tenho esse tenho muitos outros mais, como as máquinas das embalagens.
Mas nunca pensou nessa vertente como uma forma de reduzir trabalhadores?
Não, pelo contrário. Fi-lo porque uma empresa para ter futuro tem de ter modernidade. A modernidade é esta, criar meios e situações, mas o pessoal é o privilegiado. E trabalha, eu não os quero parados. Mas trabalhos duros é que não pode ser.
Se melhorar as condições das pessoas à sua volta, o retorno que isso lhe traz é maior?
Disso não tenho dúvida, dá tanta felicidade a mim como a eles. E isto vai-se espalhando no mundo.
Hoje em dia, aos 90 anos, quantas horas é que ainda trabalha?
(Risos) Levanto-me todos os dias pelas 6 da manhã, é uma doença também (risos). Nestes últimos meses, com a minha mulher doentinha, saio para o escritório, mas volto para tomar o pequeno-almoço com ela. Depois, trabalho até às 8 da noite e nessa hora volto para casa. Mas, para não fugir ao hábito, levo sempre uns papelinhos [para casa] para tratar do meu correio particular. Tenho um correio particular que é maravilhoso, que traz tanta mensagem... E tanta carência…
Continuam a escrever-lhe a pedir ajuda?
É verdade, sempre. Há coisas que nos enchem de felicidade, mas não é pelo serviço que se vai prestar, é porque leio palavras lindíssimas do que as pessoas pensam. As pessoas são puras. Se quisesse, contava todos os dias um caso que me surge, de todos os lados. Temos 22 departamentos espalhados pelo país e não há dúvida nenhuma de que os nossos serviços sociais conhecem [os casos]. Há sempre informação e ajudamos muito.
Responde a todos os pedidos?
Só [não respondo] se a minha secretária falhar.
Há mais pedidos agora por causa da crise que vivemos?
Têm-se acentuado. Sempre tive pessoas de idade, hoje está a aparecer muita gente jovem com problemas… Mas a nossa apalpação é profissional, porque não fazemos as coisas de qualquer forma. Facilitarmos é uma coisa, mas os exemplos de ser enganado são muito poucos.
Com tanta coisa já feita, o que é que sente que lhe falta fazer?
Toda a gente tem mais para fazer e eu ainda gostava de fazer muito mais coisas, na profissão e no âmbito social. Muita gente diz que o Estado é que tem a mão, mas nós também temos obrigações. Portanto, falta muito para terminar o meu caminho. Agora, Deus é que manda, a providência ajuda. Tenho 90 anos, mas não sinto absolutamente qualquer [peso] negativo.
Uma das obras que têm grande peso aqui na região é o Centro Educativo Alice Nabeiro. Foi uma aposta sua para melhorar a educação. É uma forma de melhorar as condições das pessoas?
Acho que sim, porque temos uma escola linda. Já não somos só nós que queremos, ainda agora a Câmara de Alenquer nos procurou para seguir o nosso exemplo. Temos alguns politécnicos a nível nacional que também nos procuraram, porque criámos aquele ATL, dos 3 aos 12 anos, e tirámos de cima das pessoas o problema do emprego.
Ele foi criado como resposta social, mas também tem preocupação de criar pessoas melhores…
Sim, preocupadas com o emprego. Há que ensinar as pessoas como vão fazer uma vida para si.
Está a ensinar pequenos empreendedores?
Estamos, e há um livro escrito através de uma cooperativa e estamos a aplicar um programa de trabalho para a pessoa pensar em criar o seu próprio emprego. Por exemplo, amanhã vou receber um moço que vem do Porto, mas tem origens aqui do Alentejo e que não tem conseguido singrar. É inteligente, tem força de vontade, é conquistador de conversa e vem cá. Vou-lhe propor criar uma empresazinha onde eu vou facilitar um salário médio para poder trabalhar com um produto que é nosso, que há de fazer um mercado e uma casa. Mais à frente terá o ordenado que ele criou.
É uma opção para combater a interioridade?
Sim, é um trabalho que nos pertence. Ainda há dois dias estivemos num fórum e a conversa era criar emprego, de trabalhar sozinho. Se a pessoa pode fazer para si, porque não faz?
O que falta em Portugal para haver mais empreendedores?
Falta esta conversa, falta a conversa dos responsáveis. Não é criar emprego, mas como nasce uma obra. Jovens que acabam a escola…Tinha um rapaz que era talhante, que trabalhava num supermercado nosso. Decidi alugar o supermercado e o moço ficava lá, mas eu disse “não, eu fico com o senhor”. Ele era bom e disse-me que era um entusiasta da informática. E assim foi, trabalha na informática e estamos muito satisfeitos com a atitude dele.
Um exemplo de transformação profissional.
Eu podia ter dito que não tinha nada a ver com isso, mas ele enquanto talhante foi também estudante.
Teve também ligações à política, mas nunca quis entrar na política à séria. É por sentir que não conseguiria fazer tanto?
Eu não devia ser político, por isso não segui em frente. Fui um político especial, e o que é isso? Nos anos 62 a 65, em que isto era gerido só pela lavoura. Eu, que já tinha um bocado de nome, propus-me ser presidente de câmara porque me disseram que só eu conseguiria tirar daqui aqueles senhores. E foi assim. Mas estive lá um ano, nessa altura. Voltei depois e estive mais um ano, em que fui convidar Marcello Caetano para vir às festas de Campo Maior. As pessoas quando souberam disto caíram de costas e perguntaram “como é que conseguiu”. Eu disse-lhes conheço-o e recebeu-me. Sabe aquelas escadas que a gente sobe? Foi por aí que eu fui, subi as escadas e o senhor recebeu-me. E ainda digo mais outra, no fundo quem me levou lá foram as pessoas da Câmara Corporativa que eram meus fornecedores de café. Os amigos é que fazem os amigos. Depois apareci [de novo na política] em 74, mas aí também tive uma missão que foi dar paz. Nessa altura, havia desordem e eu consegui paz.
Mas nunca quis ir mais longe?
Não, porque tinha um compromisso muito grande, de muita responsabilidade, que era a fábrica. A fábrica do café Camelo e nessa altura já existia também a Delta. Mas quem entra conta sempre com a minha amizade.
E depois da Delta criada?
Não tinha necessidade, sou considerado pelas esferas políticas.
Que recado gostava de deixar aos políticos deste país?
Isso é muito perigoso, eles têm uma consideração grande por mim porque sei que sou a pessoa que só fala o suficiente e o necessário. O que posso dizer é que temos de levar o conhecimento às pessoas. Mas o 12.º ano como [ensino] obrigatório está curto, o nosso país precisa de mais-valias para poder levar ao mundo o que realmente precisamos, sermos uma força de trabalho, uma força de imaginação. Tem de haver um ministério especial que saiba sentir o que estou a dizer.
Como é que imaginaria o mundo que gostava de deixar? O que gostava que ficasse no futuro para um mundo melhor?
A imaginação, o respeito com que trato dos assuntos. Somos uma família humilde e muito próxima. Se conseguir que os meus familiares façam um trabalho de querer... Tenho netos com capacidades e bisnetos a crescer. Tenho gente dentro de casa que são como familiares. O que gostava, e se não me faltar a saúde, é [continuar] a ter o que a providência me deu, que é uma visão de vida.