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O presidente executivo do BCP, Miguel Maya, admite que já existem projetos imobiliários e industriais com financiamento rejeitado por incumprimento de requisitos que reduzem os riscos ambientais e associados à transição.
“Na habitação já há projetos com determinadas certificações energéticas que já não financiamos”, explicou o banqueiro na Grande Conferência Negócios Sustentabilidade 20 | 30.
Miguel Maya adiantou que o banco já “só financia nova construção, desde que cumpra determinados requisitos”. “Há muitos projetos que não cumprem esses requisitos e que ficam excluídos. E outros projetos de maior dimensão que também não cumprem esses requisitos”, exemplificou, explicando de seguida que se na lista de chumbos estão projetos de investimento industrial.
Os bancos vão ter um papel “muito ativo na sociedade” na aceleração das empresas em direção à sustentabilidade “ao penalizarem empresas que não prestarem informação, porque os próprios bancos serão penalizados”, defendeu também.
Num estudo apresentado pela Deloitte, a banca é um dos setores onde os temas de governação mais têm merecido avanços por parte das empresas. Questionado sobre se esse resultado é efeito do passado ou da elevada regulação do setor, Miguel Maya explicou que “já não tem a ver apenas com o risco reputacional”.
Tem a ver com uma coisa simples. O balanço do BCP é o crédito que concedemos às empresas e se não percebermos o risco destes créditos vamos passar mal”. “Já não se trata de riscos reputacionais. Se estamos a conceder crédito a uma empresa que vai ficar desatualizada do ponto de vista da transição e se vai correr riscos físicos esse crédito vai-se tornar incobrável. É uma questão de sobrevivência e de saúde do balanço do banco.”
Prioridade devia ser
proteger os riscos
Miguel Maya deu ainda conta de que vai ser lançada uma plataforma para partilha de conhecimento sobre dados das empresas, para que quando uma empresa partilhar informação num banco ela fique acessível aos restantes bancos.
Dada a elevada exposição de Portugal aos efeitos das alterações climáticas, “a prioridade de Portugal para proteger a economia e as pessoas deveria ser proteger os riscos físicos”, defendeu também Miguel Maya.
O CEO sublinhou também que o país e a Europa devem promover medidas para combater as alterações climáticas, mas estas não devem colocar as empresas em desvantagem num mercado aberto que concorre com empresas de outras geografias não sujeitas a normas tão apertadas.
Presente no debate esteve também Afonso Arnaldo, “partner e sustainability & climate leader” da Deloitte, que defendeu que Portugal se deveria preparar para o futuro, uma vez que o país “vale menos de 1% em termos de emissões, portanto, por melhor aluno que sejamos, não devemos deixar de nos prepararmos para o futuro”.