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ESG comanda investimento das empresas

Imposições regulatórias impelem as instituições financeiras a privilegiar os investimentos verdes das empresas. Diversas linhas de apoio estão a ser disponibilizadas para fomentar a transição das organizações.

12 de Fevereiro de 2024 às 12:30
Carlos Mourisca, Nuno Saramago, e Gonçalo Regalado, na talk moderada por Fábio Carvalho Lima.
Carlos Mourisca, Nuno Saramago, e Gonçalo Regalado, na talk moderada por Fábio Carvalho Lima. Bruno Colaço
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As empresas têm de fazer a transição energética de forma a enquadrarem-se nos novos padrões de sustentabilidade e, para isso, necessitam de investimento. As próprias instituições financeiras são impelidas a investir em empresas que apostem na sustentabilidade, tendo em conta as várias imposições regulatórias e de supervisão. "Hoje somos obrigados no sistema financeiro a olhar para o que estamos a financiar e para a transição que é necessária ser feita, seja ambiental, social ou na governação das empresas", assinalou Gonçalo Regalado, responsável pelo Marketing de Empresas e Soluções ESG do Millennium bcp, na talk "Finanças verdes e a descarbonização do crédito - O contributo do mundo financeiro e das políticas públicas", promovida pela iniciativa Negócios Sustentabilidade 20|30. "Hoje temos ratios que avaliam a qualidade do financiamento verde que estamos a pôr na economia, portanto, o ESG passou de ser uma opção para passar a ser um tema mandatório do investimento das empresas", acrescentou.





Seja pelas políticas públicas que emanam da União Europeia, seja pelas políticas nacionais, "há uma transição a fazer", sendo que "só em Portugal vamos ter de investir quase um trilião de euros nos próximos 30 anos. Estamos a falar de três vezes e meia o PIB português." Consequentemente, Gonçalo Regalado salientou que atualmente a banca avalia o impacto ESG de um projeto antes de decidir aprovar ou reprovar o seu financiamento, "porque se nós não fizermos a transição da nossa própria carteira de crédito, vamos ter impactos ao nível do pedido de capital que os nossos supervisores e os nossos reguladores têm sobre o próprio banco". Nesta linha, exemplifica com o setor imobiliário, em que "é preciso avaliar impactos de riscos físicos, riscos sísmicos, ricos climáticos", etc.



Mas dentro deste novo contexto, "a banca é sempre um parceiro para o investimento das empresas em Portugal", assinalou Gonçalo Regalado. No caso particular do Millennium bcp, "temos hoje linhas de financiamento sustentável com o Fundo Europeu de Investimento, temos linhas de financiamento sustentável com o Banco Europeu de Investimento, temos a linha de descarbonização com o Banco Português de Fomento. Temos garantias internas e linhas internas para apoiar as empresas nesta transição", referiu.

Portugal está no pelotão da frente no que respeita a indicadores de transição climática e eficiência energética, o que dá ao país uma vantagem competitiva para podermos ir mais rápido. Mas isso tem de ser democratizado. Gonçalo Regalado
Responsável pelo Marketing de Empresas e Soluções ESGdo Millennium bcp
Gonçalo Regalado também sublinhou que "Portugal está no pelotão da frente no que respeita a indicadores de transição climática e eficiência energética, o que dá ao país uma vantagem competitiva para podermos ir mais rápido. Mas isso tem de ser democratizado", referindo-se à necessidade de criar soluções para ajudar as PME e as microempresas a fazerem a transição.

"Sabemos que o Banco Português de Fomento está a trabalhar com a Comissão Europeia para levantar, ao abrigo do programa Invest EU, quase 3.000 milhões de euros de linhas de financiamento e uma boa parte dessas linhas são para a sustentabilidade. E nós estamos cá para fazer essa transição, porque o Banco Português de Fomento fomenta as linhas e as garantias e depois são os bancos comerciais que fazem essa distribuição", acrescentou.

Medir o impacto das empresas

Olhar para o risco significa ter de o fazer de uma forma transversal em toda a cadeia de valor. Nuno Saramago
Diretor-geral da SAP Portugal
Uma vez que as empresas têm de fazer a transição, é necessário procederem ao apuramento da sua pegada carbónica. "Uma tarefa hercúlea", referiu Nuno Saramago, diretor-geral da SAP Portugal, pois "olhar para o risco significa ter de o fazer de uma forma transversal em toda a cadeia de valor". Para isso, são necessários sistemas de informação que façam esse apuramento, de forma que as empresas percebam onde têm de intervir para promoverem a sua descarbonização. "É preciso que as empresas tenham sistemas robustos que lhes permitam, quer no âmbito um, da sua própria atividade, quer nos âmbitos dois e três, que alargam a fornecedores e clientes, medir todo o impacto ambiental da sua atividade", pois "se não o fizerem para além dos sistemas de informação das próprias empresas é muito difícil ter uma medição precisa do impacto ambiental da atividade dessas empresas, organizações, instituições", explica Nuno Saramago. Posteriormente, esta informação servirá para apurar o risco para crédito financeiro e para permitir a comparação entre as várias empresas. Nesta medida, acrescentou, "julgo que não é possível, hoje em dia, sem tecnologia, termos este detalhe de reporte, este detalhe de análise das operações das organizações".

O diretor-geral da SAP salientou também a importância da tecnologia para combater o "greenwashing", uma vez que "hoje em dia existem soluções de blockchain que permitem, de forma fidedigna e inviolável, medir toda a cadeia de valor de um determinado produto, desde a matéria-prima e sua extração até ao cliente final e comissionamento ou reinserção na economia".

As novas regras de reporte de sustentabilidade impostas pela legislação europeia apresentam grandes desafios às empresas. Não só às grandes empresas vinculadas à Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa (CSRD, na sigla em inglês), mas também às pequenas e médias empresas que, ao integrarem cadeias de valor como fornecedores, também terão de corresponder a exigências a nível ambiental e social.

"Para a PME é mais difícil. A EDP tem uma equipa grande que acompanha a regulação europeia", assinalou Carlos Mourisca, membro da direção financeira global da EDP", acrescentando que "há muitas siglas, há muitas diretivas para acompanhar. Começou com a taxonomia europeia da parte ambiental, com mais de 700 páginas, ou seja, é preciso um grande acompanhamento das nossas emissões", acrescentou.

A taxonomia não é o documento ideal, mas é o que existe e vai-se melhorando. Carlos Mourisca
Direção Financeira Global da EDP
Para Carlos Mourisca, "a taxonomia não é o documento ideal, mas é o que existe e vai-se melhorando". Reconhecendo que as PME, por estarem inseridas em cadeias de valor, devem também adequar a sua atuação, o responsável da EDP referiu que "é um processo que quanto mais cedo começarem a fazer, melhor, começando aos poucos e pedindo ajuda".

Quanto à EDP, a empresa "quer continuar a ser líder na transição energética", tendo sido considerada no ano passado "Utility mais sustentável do mundo". Segundo Carlos Mourisca, "isso é fruto de uma visão de aposta e investimento nas energias renováveis", acrescentando que as ambições futuras passam por "não ter carvão até 2025, até 2030 não termos gás, ou seja, sermos 100% renovável, e depois, em 2040, sermos net zero, ou seja, não termos emissões também ao nível da cadeia de valor".

No entanto, estando na liderança, Carlos Mourisca reconheceu que "hoje em dia não podemos ter 100% renováveis na nossa produção, porque há a questão da segurança energética e a intermitência. Temos de ter outras tecnologias como backup. Mas apostando na inovação e nas baterias, e a descarbonizar a produção e o consumo energético, vamos conseguir até 2030 descarbonizar a economia ao máximo", sublinhando que "é um percurso que vamos todos fazer".
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