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Comércio online veio para ficar

A covid-19 provocou uma subida brusca inédita no e-commerce. Em Portugal, as compras durante o confinamento igualaram todo o ano passado. E a opinião generalizada é que o comércio eletrónico veio para ficar, contribuindo para a redução da pegada de carbono.

24 de Junho de 2020 às 12:00
Antes da pandemia, 85% das compras feitas online pelos portugueses eram além-fronteiras. iStock
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Há muito que o e-commerce tem vindo a crescer sustentadamente mas a pandemia levou muitos consumidores a comprarem online, fazendo disparar este indicador. "Quem já comprava comprou mais e quem nunca o tinha feito passou a fazê-lo", afirma Alexandre Nilo Fonseca e "acreditamos que muitos vão continuar a comprar online", adianta ao Negócios o presidente da Associação da Economia Digital (ACEPI).

No deve e haver da sustentabilidade, nomeadamente no que diz respeito a transportes e embalagens, muitos operadores anunciam que esta tendência de aumento do comércio eletrónico é positiva. No presente, as contas podem não ser assim tão claras, até porque 85% das compras feitas online pelos portugueses até agora eram além-fronteiras, mas no futuro o dirigente da ACEPI considera que "com o aumento das compras nacionais, e mesmo de proximidade, tendência que aumentou muito durante este período, bem como com os esforços que os operadores de transporte têm vindo a fazer para usarem veículos mais ecofriendly - elétricos ou bicicletas, nas cidades - e a redução e/ou reutilização das embalagens, o e-commerce poderá contribuir de facto para a diminuição da pegada de carbono".

Segundo os dados da Nielsen, em Portugal, as compras durante o confinamento igualaram todo o ano passado. E o aumento das compras em sites foi de tal forma que os números indicam que superaram os habituais recordes da Black Friday, como nos conta, por exemplo, Miguel Serrão, managing partner da DBI (consultora internacional de negócio especializada em Data Intelligence & Analytics do Havas Group): "A totalidade dos nossos clientes registaram aumentos muito significativos de tráfego aos seus sites (na maioria dos casos duplicaram acessos) e a grande maioria obteve mais vendas do que o período da Black Friday e Natal de 2019, até aqui os períodos históricos com mais vendas".

Tendência também confirmada pelos dados da GfK, apresentados por Miguel Faias, esta segunda-feira na conferência da Distribuição Hoje "E-Commerce: Necessário ou Obrigatório?", tendo referido que no caso dos equipamentos tecnológicos as vendas online ultrapassaram também as da Cyber Monday, impulsionadas pelo teletrabalho e pelo Estudo em Casa.

Consumidor online com 1/3 da pegada de carbono

Para Miguel Serrão "o e-commerce, aliado ao teletrabalho, diminui em muito o impacto ambiental, pela redução de viagens, facto comprovado no confinamento em que em alguns locais de Lisboa houve a redução drástica nos níveis de NO2 (dióxido de azoto) em 80%, altura que houve menos consumidores na rua, mesmo com um aumento muito significativo de viagens das empresas de entregas, que nunca pararam". E salienta que este facto "não é novidade, estudos recentes do MIT concluem que um consumidor típico online consome apenas um terço da pegada de carbono de um consumidor típico de compras nas lojas físicas e que cerca de 75% das emissões de carbono de uma venda correspondem a deslocações dos consumidores".

O managing partner da DBI lembra que, "no entanto, há tipicamente mais embalagens nas vendas online, mas cabe às marcas reduzirem as mesmas, abdicando de embalagens primárias ou secundárias e usando apenas embalagens de transporte ou dotar as embalagens primárias de suportes para serem a própria embalagem de transporte".

Também Alexandre Nilo Fonseca salienta que "no futuro já se fala em existirem pontos de recolha espalhados pelas cidades que irão também reduzir o impacto do transporte e, no caso das embalagens, como o custo de transporte está relacionado com o peso, é do interesse do vendedor reduzir o seu tamanho e otimizar os materiais".

Por seu lado, Miguel Serrão diz ainda que o e-commerce "evita visitas desnecessárias a lojas, pois é possível comparar online produtos e serviços entre diferentes marcas sem qualquer deslocação e o fecho da venda pode ser feito online ou na loja, mas esta última deslocação já com a certeza de haver stock na loja física ou mesmo depois de reserva prévia".

A covid-19 levou também a uma mudança das categorias de produtos comprados. Embora a tecnologia seja há muito uma das escolhidas, a compra recaía principalmente em pequenos equipamentos e acessórios, em mercados além-fronteiras (principalmente na Ásia), mas agora o foco mudou para computadores, impressoras, etc., necessários para o teletrabalho ou o Estudo em Casa, comprados no mercado nacional.

A compra de proximidade, principalmente de produtos frescos produzidos em Portugal - como frutos e hortícolas, mercearia e vinhos - teve um grande aumento e o presidente da ACEPI espera que "grande parte destas compras se irão manter ou até aumentar", diminuindo assim o impacto do transporte.

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