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Universidade do Porto testa vacina para fruta e legumes

O projeto BFree está a desenvolver uma alternativa aos pesticidas químicos que são detetados “com frequência” nos produtos prontos para consumo. Posteriormente, vai chegar a 135 produtores hortofrutícolas distribuídos pelo território nacional.

26 de Junho de 2023 às 09:33
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Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) estão a trabalhar numa espécie de vacina, com recurso a substâncias naturais, para ser aplicada em frutos e legumes em alternativa aos pesticidas químicos. O projeto vai monitorizar a eficácia destes novos tratamentos em culturas de morango, framboesa, mirtilo e tomate.

"O nosso objetivo é contribuir para o desenvolvimento e implementação, desde o laboratório até ao campo, de um conjunto de produtos naturais à base de micro-organismos endófitos – isolados de frutos – como agentes de biocontrolo", explica Susana Carvalho, docente do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da FCUP e investigadora do GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável. 

E é pelos micro-organismos antagonistas que todo o trabalho está a começar. Neste momento, os investigadores já selecionaram os que têm maior potencial antifúngico sobre os agentes patogénicos que levam às principais doenças. Chegaram a 12 diferentes formulações de diferentes micro-organismos e querem agora analisar os seus efeitos em campo, aplicando as formulações diretamente nas plantas, para perceber qual a interação entre o micro-organismo e o agente patogénico.

"Nos primeiros ensaios realizados já foi possível perceber a atividade antifúngica do agente de biocontrolo", revela Susana Carvalho. "Na presença do micro-organismo, o fungo patogénico cresce para o lado oposto", acrescenta.

Segue-se uma segunda fase: a da monitorização da eficácia destes tratamentos na prevenção e/ou tratamento de doenças fúngicas, ao longo do ciclo cultural e na fase de pós-colheita, em diversas culturas de frutos e legumes.

Numa terceira etapa, pretende-se escalar as soluções encontradas para condições comerciais, alcançando um universo de 135 produtores hortofrutícolas distribuídos pelo território nacional.

"A aplicação de agentes de biocontrolo tem vindo a despertar uma elevada atenção, quer no meio científico quer no meio empresarial, como uma alternativa promissora e sustentável às abordagens convencionais para a gestão de pragas e doenças", realça a investigadora que está a coordenar o projeto.

O objetivo do projeto é desenvolver ferramentas sustentáveis que permitam diminuir o uso de produtos fitofarmacêuticos que, segundo a nota da FCUP, têm sido detetados com maior frequência nos frutos e legumes que chegam ao consumidor.

O grupo-alvo são então as principais doenças fúngicas que afetam frutos e legumes e que levam ao desperdício alimentar, nomeadamente: podridão cinzenta, oídio, míldio, antracnose e cladosporiose. 

Segundo a FCUP, há cada vez mais doenças fúngicas em frutos e legumes. Consequência das alterações climáticas, e não só, estas levam a quebras acentuadas de produção e a um elevado desperdício alimentar. Para as evitar, os produtores recorrem frequentemente à aplicação de fungicidas sintéticos. No entanto, a eficácia destes produtos químicos é cada vez mais reduzida, devido às resistências desenvolvidas pelos fungos patogénicos, e a sua utilização tem um impacto negativo nos ecossistemas e na saúde humana.

O projeto "BFree: Biocontrolo de FRutos e de lEgumEs" é financiado em 860 mil euros, ao abrigo do Programa de Recuperação e Resiliência – IFAP – Agenda de Investigação e Inovação para a sustentabilidade da agricultura, alimentação e agroindústria e liderado pela FCUP. Surge à luz do Pacto Ecológico Europeu, que visa a redução em cerca de 50% do uso de produtos fitofarmacêuticos até 2050 no Mercado Único Europeu.

 

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